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O Samba de Botequim de Pedrão

Pedro Abib, conhecido como Pedrão, é um compositor paulista de quase dois metros de altura que zanzou entre Campinas e São Paulo antes de se mudar para Salvador e fincar raízes por lá. Se o samba já fazia parte de sua vida há quase 20 anos, foi na Bahia que a música encontrou terreno fértil para crescer em forma de trabalho autoral e virar disco – o bom Samba de Botequim, que acaba de ser lançado de forma independente.

Gravado de maio a outubro de 2008, o CD apresenta o Grupo Botequim, fundado há três anos por Pedrão com o objetivo de pesquisar e divulgar a obra de sambistas baianos, como Batatinha, Edil Pacheco, Ederaldo Gentil e Riachão. “A indústria do axé music é muito forte e praticamente acabou com o samba na Bahia. Por isso, a importância do resgate”, diz Ênio Bernardes, ex-integrante do grupo Cupinzeiro e parceiro de Pedrão em Tem Que Se Cuidar, de longe a melhor faixa do álbum.
Apesar da proposta do grupo ser a valorização da cultura baiana e seus compositores, o disco não se limita à geografia local: Pedrão canta suas origens paulistas em Samba da Benção 2, interpretada por Regiane Pomares. Na faixa, feita com Edu de Maria, ele recusa a ideia de que São Paulo é o “túmulo do samba” e rebate a frase dita por Vinicius de Moraes: “Faço samba sim, poetinha/ e o batuque daqui ecoa, ecoa/ com a benção de todos os sambistas/ desta terra da garoa”.
Um dos pontos altos do CD é o encontro de Pedrão e Walmir Lima, sambista que fez relativo sucesso nos anos 70 e depois desapareceu. Ambos assinam e dividem a faixa Quebra-Mar, um partido-alto recheado de versos irreverentes e tocado sem a correria habitual, na cadência baiana: “A lua quando fica nova/ sinal que a maré tá vazante/ a onda na reviravolta/ carrega o siri arrogante”.
Outro representante da velha guarda a participar do disco é Edil Pacheco, em Tenda de Babalaô: “Cheguei então sorrateiro/ Na Baixa do Sapateiro/ No Largo de São Miguel/ Ao som do cavaco e pandeiro/ Ergui as mãos ao céu”. Em Casa de Dona Cabocla, que reproduz o clima de um tradicional reduto boêmio na Bahia, diz a letra: “Me serviram cambuí/ depois um gengibre que veio gelado/ Dona Cabocla abriu a cerveja/ e Rosenilda me trouxe um traçado”.
Apenas duas faixas destoam do conjunto da obra: Meu Lugar e Ceci trazem melodias repetitivas e até mesmo enfadonhas. No geral, porém, Samba de Botequim preserva e respeita o melhor da tradição do gênero, seja nos arranjos, seja na formação instrumental (“cozinha” composta por pandeiro de couro, tamborim, surdo e repique de anel). O título do álbum não é aleatório: gravado num clima informal, o repertório é a trilha sonora perfeita para a mesa do bar.

Fonte: Bruno Ribeiro – http://botequimdobruno.blogspot.com

Pedro Abib é colunista do Portal Capoeira, responsável pela rúbrica Crônicas da Capoeiragem

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