A Nova História

Existe hoje em evolução a chamada Nova História, que valoriza as análises SOCIOCULTURAIS dos chamados temas malditos que tratam dos excluidos sociais que são os pobres, vagabundos, prostitutas, negros, mulheres e índios…eles estão sendo escritos e preenchidas as lacunas da História. Dão voz à minoria social, à qual foi negada reconhecimento junto ao processo histórico. São os Esquecidos da História. Hoje, existe uma lei nº 10.639 de fev/2003 que obriga qualquer instituição de ensino no país, seja ela pública ou privada, no ensino fundamental e médio, a ensinar temas da Cultura Afro-Brasileira, no entanto isto não basta, as pessoas que devem ensinar devem também ser preparadas para tal. Um professor de Artes tem obrigação de entender que o berço da civilização do mundo é a África para poder ensinar. Um(a) professor(a) de capoeira, não pode ser apenas um(a) professor(a) de capoeira, tem que agir como educador(a), saber dos fundamentos e da história dos africanos e seu posicionamento passado, atual e futuro no mundo. A colaboração feminina na capoeira se dá desde o início com o ritmo Ijexá, ritmo tonal a cada três estrofes. Ijexá é uma ramo da Nação Nagô formado por mulheres dissidentes com rituais religiosos específicos, um deles é o Candomblé, que era frequentado apenas por mulheres, pois elas eram as reponsáveis pela conservação da religião entre os povos africanos no Brasil. Ainda hoje, na África do Sul, o berimbau é confeccionado e tocado só por mulheres nas cerimônias religiosas. Vamos pensar um pouco mais sobre quem eram as mulheres no Brasil Colônia, como viviam, como se portavam, como eram vitimadas, quais suas raças, religiões, eram índias, negras, brancas, mestiças ou mulatas. Elas eram surradas, estupradas, trancafiadas, raptadas, espancadas por maridos, padres, donos de engenho, pais, irmãos. Mas elas também aparecem como transgressoras, eram amantes de escravos fujões, roubavam e matavam seus maridos, participavam de atentados à Coroa, formulavam revoluções e levantes, eram presas e degredadas(deportadas) para a África, geralmente Angola. (terra do degredo para portugueses, espanhóis, italianos, chineses …) Houve um nº relevante de mulheres degredadas entre os sec. XVII – XIX, por volta de 530, sem contar as que acompanhavam suas famílias. Salve-se a idéia de que só é expulso de um país quem luta e é ameaça para o governo atual, portanto fica claro que estas degradadas eram ameaça ao poder da Coroa Portuguesa no Brasil. Exatamente por esses fatores a Capoeira soube serví-las, como serviu também a muitos homens. Vocês percebem que aqui já não existem diferenças de gênero como sempre achávamos que houvessem? O quê nos leva à capoeira são os mesmos motivos que levaram os homens. Mais uma vez citarei o Mestre João Pequeno: “As mulheres tinham um corpo humano, assim como o dos homens e sentem a mesma coisa que eles. Na capoeira considero as pessoas iguais.” Mulheres no Comércio Lugares do Brasil de grande concentração da população Bantu (RJ, SP, Salvador e MG) tinham comerciantes QUITANDEIRAS que eram negras livres ou escravas que se instalavam nas praças para comercializar frutas e legumes. Kitanda = Mercado e aqui virou sinônimo de comerciantes de frutas e legumes por conta das mulheres negras que eram as chamadas quitandeiras. Na África as mulheres eram responsáveis pelo comércio de produtos alimentícios, isto é transferido ao Brasil, conforme as escravas vão ganhando mais autonomia, no entanto, esta função depois lhes é roubada pelos homens portugueses que até hoje são donos de comércios chamados quitandas. No RJ e SP encontramos ruas com este nome. Na Bahia os pontos de vendas das baianas eram um local de ajuntamento de negros e do samba. Nestes locais aconteciam muitas das cotidianas desordens e eram nestes pontos que as rodas de capoeira eram marcadas; por isso que nas pinturas de Rugendas, Lailemant, Earl e Debret aparecem rodas de capoeira tendo ao lado baianas e seus tabuleiros de frutas e verduras.

Artigos Relatados

0 0 votos
Avaliar Artigo/Matéria
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários