Portal Capoeira Capítulo 9 - Toninho Ventania Nestor Capoeira - Capoeiristas, Pulp Fiction Tropical

Capítulo 9 – Toninho Ventania

 

CAPOEIRISTAS

PULP FICTION TROPICAL

 

Nestor Capoeira

capítulo 9

 

Finalzinho do capítulo 8 

Zequinha foi até o pé-do-berimbau; Noivo seguiu-o; e Zequinha, sem se benzer nem cumprimentar o estranho, deu um aú e um sensacional salto-mortal aterrisando no meio da roda onde começou a gingar com competência e confiança.

Fim do capítulo 8

 

capítulo 9

 

TONINHO VENTANIA

 

 

A GORDINHA COM ASCENDENTE EM AQUARIUS

Tinha esta gordinha, bem mais moça que a geração das minhas balzacas – chamava-se Leticia Efigenia Fulustreca de Tal. O pai era um médico cirurgião famoso, a mãe era dona de uma loja de moveis finos e tapetes orientais; tinham tambem uma fazenda de gado – herança de família -; gente de posição mas sem ser milionário.

Era bonitinha, mas sempre tinha sido gorda numa cidade onde faltava homem e sobrava mulher. Entrou numa de estudar, os pais bancaram: administração de empresas, mestrado em São Paulo, etc e tal.

Eu conheci a Leticia na festa de aniversário do dono de uma das duas boatezinhas chiques e avançadas de Belô, a Toy Toy.

A casa estava abarrotada de minas e de casaizinhos love story dançando; os poucos homens livres se agrupavam, bebendo, falando da bolsa de Wall Street e de futebol. Eu me acabava na pista de dança junto a minha balzaca número um – Lucia -, uma cavalona tipo italiana, 42 de idade, que dominava os circuitos sociais da alta alternativa.

“Meu amor”, falou Lucia, “vou ter de sair mais cedo, amanhã tenho um business meeting as nove horas. Detesto te deixar sozinho no meio dessas vadias”.

Lucia era a única que saia comigo abertamente. Eu, se estava com uma mulher, não ficava galinhando, nem dando mole pra concorrência que ficava mandando olhares calientes, beijinhos, e até bilhetinhos pelo garçon – eu valorisava as minhas minas.

“Sem problemas, meu amor”, eu ronronei no ouvidinho dela, “amanhã vou na piscina do Fulaninho, podemos nos encontrar lá as duas da tarde”. O amanhã era um sábado.

Aí a Lucia viu a Letícia que estava dançando num grupo de tres outras moças, perto de nós.

“Letícia! Letícia! Vem cá!”

A gordinha, que tambem era altona, chegou cheia de animação alcoólica fazendo umas coreôs tipo Saturday Night Fever – acho, até, que a música era aquela do filme.

“Letícia, esse é o Antonio”, a Lucia nunca me chamava de Toninho, “tenho de ir embora e não quero deixá-lo sozinho e abandonado. Sera que você tomava conta dele para mim?”

Dançamos de montão, as amigas dela se achegaram, foi a maior onda.

No fim da noite ficamos batendo papo na mesa do aniversariante até as 10 da manhã. Ela imaginou que eu fosse mais um retardado mental e começou com uns papo tati-bi-tati dela ter ascendente em Aquarius; mas logo depois da segunda vez que o baseado rodou na nossa mão, trocamos altas ideias.

Na sequência nos encontramos várias vezes, ainda mais pela Lucia ser amiga dela e saber que não havia perigo com a Gordinha; ela não era, nem de longe, concorrência.

 

TOY TOY

Uma ou duas semanas depois, estava sozinho dançando no Toy Toy – na real, as noturnas boas eram o Toy Toy ou o Hanoy – e encontrei a Leticia Gordinha.

“Estou  cançada de ser gorda”.

“Agora que você falou, reparei que voce deu uma emagrecida legal”

“Você notou?”

“Claro? Quantos quilos você perdeu? Três? Quatro?”

”Na verdade, foram seis.”

“Seis?”

“Seis. Eu estava muito gorda, por isto não dá pra notar”.

“Parabens. Dou o maior valor. É muito difícil a gente dizer ‘não’ pras vontades. Tá sendo muito difícil?”

“Até que não. Fui no dr. Alberto; ele é muito conhecido aqui em  Belô; tem um método que une umas pilulas que você toma três vezes ao dia, com dieta.”

“Tres vezes ao dia? Sei…”, bem que eu tinha notado que Leticia, alem de emagrecer, estava mais acelerada que de costume. Tava ligadona de anfeta sem nem saber disso.

“É, três vezes. Já vai fazer um mes”.

“Tou vendo que está funcionando. Voce esta muito bem”.

“Obrigado. Mas, imagina; nem estou seguindo a dieta. Não preciso. Não tenho fome nenhuma.”

“É mesmo?”

“É. E ando com uma disposição danada. Trabalho 11 horas por dia, caio na balada, durmo pouco, e estou sempre cheia de disposição. Fechei tantos contratos no mes passado que vou  ser promovida”.

“Que bom, as pílulas estão funcionando de verdade”.

“E junto com as pílulas, tem uma dieta preparada pela nutricionista. É uma dieta que varia de acordo com o perfil de cada paciente”.

“Haute couture, nada de pret-a-porter. Deve custar uma grana.”

Leticia riu. “Pret-a-porter! Você é engraçado! Sempro me esqueço que você morou na França e destrói no francês. Só me lembro de você jogando capoeira…”, aí ela enrubesceu, “lá na Praça da Liberdade”.

 

Eu soube, naquele momento que, alem de estar ligadona – nos 1960s e 70s, os médicos receitavam pílula da pesada para tudo; ninguem considerava a pilula do dr. como “droga” -, ela tambem estava doida pra me dar. É uma coisa curiosa. mas uma mina que nunca te deu muita bola, quando pela primeira vez te ve jogando, muita vezes gama.

Sério.

Paixonite mesmo.

Eu guardei a informação num escaninho na Torre de Pensamento.

Eu tinha minhas quatro balzacas que me davam vida mole mas  nunca se sabe o dia de amanhã. O futuro a Deus pertence. A verdade é que a Gordinha tinha um puto emprego, a família tinha grana, e alem de tudo era uma moça cem por cento legal; contra fatos, não há argumentos.

 

Pois nessa mesma noite que rolou esse papo abobrinha, um playboy local entrou numa comigo.

“Rebola, neguinha; mexe esse cuzinho”, dizia o mané olhando pra mim enquanto eu  dançava na pista com a Leticia e mais umas duas amigas delas.

Eu fingia que não ouvia; o cara já estava meio bebum, e eu não era otário de me meter em confusão, logo ali, na Toy Toy, minha área de caça e playground da jeunesse doreé.

 

TIROTEIO

Mas inesperadamente o babaca pulou na minha frente, fez uns movimentos made in Hong Kong tipo Bruce Lee com os braços, e mandou um socão direto. Eu estava distraído e por pouco o cara não me arrebenta a boca.

Desviei no susto e, sem pensar, enfiei-lhe uma cabeçada no meio dos cornes.

Ele saiu cambaleando tipo marcha ré; se estatelou no chão; levantou e saiu da buate.

Foi um lance tão rápido e inesperado que não houve nem comoção. Pouca gente sacou que ele tinha levado uma porrada; pensaram que ele tinha caído de bêbado.

Eu continuei a dançar com as três minas como se nada tivesse acontecido. Elas, por sua vez, não  entenderam nada; mas vendo que eu continuava na boa de antes, reataram a dancinha – elas eram umas gracinhas, gentís e tudo o mais; mas ligeiramente retardadas. E aquele lance – acontecer alguma coisa extraordinária, mas as pessoas fingirem que não tinha rolado nada -, aquilo era bem típico da high society de Belô, e as minas tinham sido educadas naquela escola desde nenem.

Eu continuei a dançar aparentemente descontraído mas fiquei numa posição que podia ver a porta de entrada. Todo mundo sabe: quem bate esquece, quem apanha, lembra; e eu é que não ia marcar nenhuma bobeira básica.

Não deu outra.

O babaca entrou numa, pegou um revólver que sempre levava no carrão importado, e voltou a boate já lascando o dedo.

Eu vi ele entrar porta adentro todo agitado e levantar o braço com o  revólver na mão. Quase que não acreditei. Mas me abaixei desaparecendo no meio da rapaziada que  dançava ao meu redor.

O play me errou e acertou a Leticia na clavícula.

Uma gritaria danada; e eu, abaixadinho, saí pelo lado da pista, contornei algumas mesas me desviando das pessoas que se levantavam alvoroçadas; e me mandei.

Foi um tititi da porra, saiu no jornal e o  caralho.

O cara disse na polícia que eu  era traficante e tinha querido vender maconha pra ele. Mas ele não sabia meu nome. Ninguem sabia, eu era apenas o “Toninho”.

Leticia e as amigas, mineiras espertas, disseram não saber de nada; estavam na pista dançando quando ouviram o tiro, e viram a Leticia berrar de dor.

E  eu, que já estava em Belô dando um tempo do Rio, ao ler as manchetes do jornal na manhã seguinte, saquei que tinha de sartar fora. Peguei meu berimbau na sua capa de couro, e uma maleta com tres pisantes invocados e algumas altas becas que as minas estavam sempre me presenteando, fui ate a rodoviária e embarquei para São Paulo.

 

 

OS ENTENDIDOS EM MANDINGA

 

Como vemos, Toninho Ventania estava se tornando um malandro bem falante e elegante.

Não se enganem, não é uma tarefa fácil.

Malandro tem de ter excepcionalidade ou então, para sobreviver, acaba virando esperto, golpista, descuidista, 171, escroque, cafetão, e até entra pra turma da pesada e vai assaltar banco.

Ou então, mesmo se não tiver um talento excepcional numa determinada área, talvez o malandreco tenha sorte, ou padrinho – quem tem padrinho não morre pagão.

Arranja um emprego de escrevente no Jogo do Bicho; escriturário ou fiscal nas docas – essa é uma boa, dá pra participar de uns contrabandozinhos com um risco mínimo -; chofer numa repartição pública – o falecido Camisa Preta, contramestre do Roque Cachaça no morro do Pavão  e Pavãozinho em Copacabana em 1970, era chofer da Comlurb, a companhia da limpeza pública no  Rio de Janeiro.

Mas não era o caso  de Toninho Ventania.

O cara era uma fera na capoeira, um craque nos instrumentos musicais de percussão – berimbau, atabaque, e mandava bem em qualquer peça da bateria de Escola de Samba -, dançava pra caralho, era alto e boa pinta, cantava bem, entendia de sexo e mulher, e era bom de porrada – diziam, nas internas, que era um perigo com a navalha.

Para um cara classe média, Toninho seria algo inimaginável, quase um super-herói. Mas vários capoeiristas tambem desenvolvem estes prestígios. É como um engenheiro bonitão que conhece e domina o Cálculo Integral, Cálculo Diferencial, Cálculo Vetorial, Geometria Descritiva, etc. e tal.

O mais importante, o que tornava Toninho realmente excepcional, era sua cabeça. Ele era um malandro jovem, mas muito inteligente; entendia como as pessoas funcionavam, e o que as movia; analisava uma determinada e surpreendente situação em fração de segundo; e até Sorte o sacana tinha.

Mas este tipo de cara fora-de-série não é uma novidade no mundo da malandragem, da capoeira, e do samba.

Na verdade, estas atividades só conseguiram  sobreviver às duras perseguições policiais – que se tornaram mais agudas e estruturadas com a chegada de D. João VI e a criação da Guarda Real em 1806 -, devido a este tipo de personagem fora-de-série que aparecia, de tempos em tempos, às vezes até em magote.

Evidentemente, isto não acontece só nas classes desfavorecidas e nas suas expressões culturais. Pense naqueles caras que pintaram na MPB por volta de 1960: Vinicius de Moraes, Dorival Caymi, Tom Jobim, Chico Buarque; é uma turma de playboy cabeção.

 

A “CONSTRUÇÃO” DA CAPOEIRA

A “construção” da malícia – a “filosofia” e ética da capoeira -, e da própria capoeira, com seu gestual e golpes, começa, então,  no Rio de Janeiro com os pequenos grupos de escravos africanos ladinos, aqueles já adaptados ao Brasil (em oposição ao boçal recem chegado da Africa).

Depois as maltas absorveram os crioulos (negros nascidos no Brasil), os mulatos, os engajados e fadistas portugueses; e marinheiros desertores de todas as nacionalidades.

Na década de 1860 já temos notícias de caras excepcionais na capoeira; tanto das classes populares, como Manduca da Praia; como tambem playboys ricos, pertencentes à aristocracia; e até mesmo de “heróis” do Exército Brasileiro, a partir de 1965 e da Guerra do Paraguai. Estas figuras participaram deste processo, geração após geração, até chegarmos aos nossos dias.

 

 

O GUIA DA CAPOEIRA

Tanto foi assim que, mais tarde, em 1907 – como nos ensinou mestre Jair “Perigo” Moura -, quando a capoeira já era proibida por lei pela primeira constituição da República; surge dentro do próprio exército um “manual de capoeiragem”, O Guia da Capoeira ou Ginástica Brasileira, escrito por um “distincto official do exército brazileiro, mestre em todas as armas, proffessor de militares e habilissino na gymnastica deffensiva ou verdadeira arte do capoeira”, “ilustrado e destinado ao manuseio, ao uso, dos seus companheiros de farda”.

O libtreto – “Tendo-se esgotado, com rapidez, a primeira edição desta obrinha…” – abrangia cinco partes, que focalizam:

 I) – Posições;

II) – Negaças;

III) – Pancadas simples;

IV) – Defesas relativas;

V) – Pancadas afiançadas”.

 

 “Obviamente sinto-me afeiçoado ao ‘distincto oficial habilissino na gymnastica deffensiva’ que escreveu este primeiro manual prático, muito semelhante às partes de ‘treinamentos’ dos meus próprios livrinhos”; comentou Nestor Capoeira recentemente num Simpósio de escritores e estudiosos no sul da Bahia, organisado pelo prof. Antonio Liberac. “É no mínimo curioso”, prosseguiu Nestor, “que uma prática proibida por lei tenha encontrado guarida dentro  do próprio Exército Brasileiro”.

 

O AVÔ DO AUTOR

A prática (proibida) da capoeiragem, nas forças armadas, foi se tornando tão popular que o general Nestor Sezefredo dos Passos, Ministro da Guerra do presidente Washington Luis e autor de um projeto de lei para a Educação Física Brasileira, era um conhecido praticante de capoeira.

Em 1921, quando Nestor era um coronel de 49 anos de idade e comandava o Regimento Sampaio (RJ); o tenente Buys de Barros, de 22 anos, invadiu a sala do coronel Nestor, pistola numa mão e fuzil na outra, anunciando que estava tomando o Regimento junto com outros jovens oficiais; era mais um levante militar característico da época.

Nestor Sezefredo colocou seu cinto com coldre e revólver em cima da mesa, levantou-se, e delicadamente perguntou ao tenente os motivos da rebelião. O jovem tenente empolgou-se com a teoria e descuidou-se das armas em riste.  O general foi se aproximando pensativo e, súbito, aplicou uma violenta e traiçoeira rasteira na mais perfeita tradição capoeirista, jogando pro alto o tenente, o revóver, o fuzil, e a ideologia. E em poucos minutos reassumiu o controle do Regimento Sampaio.

O “Nestor”, nome do general, e também do autor deste livrinho, não é mera coincidência: Nestor Sezefredo foi o avô paterno do atual Nestor Capoeira.

 

O GUERREIRO BRASILEIRO

O mito do “guerreiro (capoeirista) brasileiro” se manteve durante décadas entre determinados círculos de oficiais e praças das Forças Armadas.

Por exemplo, em 1968, o jovem capoeirista Dick Fersen só conseguiu organizar o 1º Simpósio Nacional de Capoeira devido ao apoio que teve da Força Aérea Brasileira, que forneceu as passagens de avião para os mestres de outros estados, arrumou alojamento para mais de 50 participantes, e cedeu o auditório na Base Aérea do Campos dos Afonsos.

Não parece muita coisa hoje, em pleno século XXI; mas em 1968 foi uma coisa extraordinária. Pela primeira vez, professores e mestres de diferentes estados se reuniam no mesmo local; inclusive com a presença de mestre Bimba, na época com 68 anos.

A ideia era criar uma única nomenclatura dos golpes, um único uniforme para os alunos, uma única graduação. Enfim: o retorno da ideia de criar uma Luta Nacional, semelhante ao Japão com o Judo e o Karate.

Nada disso rolou. Os pontos-de-vista divergiam etc. e tal. Muitos consideraram o Simpósio um fracasso total. Mas Nestor Capoeira, que esteve lá, afirmava que “aquilo pirou o cabeção da rapaziada; saimos de lá fortificados, e com mais certeza que a Capoeira iria vencer no futuro, à médio prazo”.

Este curioso e inusitado apoio a uma atividade cultural muito discriminada em 1968 – “coisa de malndro, coisa de negro” -, em plena ditadura militar – 1964-1984 -, deve ter acontecido devido ao fascínio de algum velho coronel ou brigadeiro pelo mito do “guerreiro brasileiro”.

 

A GUERRA DO PARAGUAI

Em 1865, o Brasil, a Argentina e o Uruguai entraram em guerra com o Paraguai e seu caudillo mestiço, Solano López.

Dizem que a Inglaterra, que era a fodona da época, agenciou a Triplice Aliança contra o Paraguai; o Paraguai estava na contra-mão da política e economia inglesas – um lance parecido com o que rolou nos 1960s, com os Estados Unidos bloqueando economicamente Cuba.

O exército brasileiro formou batalhões de capoeiras; muitos foram agarrados à força nas ruas do Rio. No entanto, estes marginais revelaram-se combatentes tão admiráveis que, aos poucos, foi se formando, no exército, o mito do capoeira ser o “guerreiro brasileiro”.

O mito, no entanto, não é sem fundamento: os capoeiras do Batalhão de Zuavos, especialistas em tomar as trincheiras inimigas na base da arma branca, fizeram misérias na Guerra do Paraguai (1865-1870).

Destacam-se dois capoeiras nos combates corpo-a-corpo: o alferes Cezario Alves da Costa – posteriormente condecorado com o hábito da Ordem do Cruzeiro pelo marechal Conde d’Eu -, e o alferes Antonio Francisco de Melo, também tripulante da já citada corveta Parnahyba que, entretanto, teve sua promoção retardada devido ao seu comportamento, observado pelo comandante de corpos:  “O cadete Melo usava calça fofa, boné ou chapéu à banda pimpão, e não dispensava o jeito arrevesado dos entendidos em mandinga” [p.79]. (42)  

Já havia claramente, em 1865, uma maneira de se vestir, de falar, e de ser, “dos entendidos em mandinga”. Já havia, até mesmo, a ligação entre a “mandinga” (algo relacionado a magia, mas também um sinônimo da malícia) e a capoeira.

Cinco anos depois – 1870 -, os sobreviventes da Guerra do Paraguai voltaram como heróis. 

Muitas destas feras, agora transformados em “heróis”, engrossaram as fileiras das maltas cariocas; vários ingressaram na polícia (sem necessariamente abandonar as maltas).

Esta infiltração – das classes perigosas nos meios militares e, especialmente, na instituição policial -, nos meados dos 1800s, é uma das causas históricas que explicam a contemporânea corrupção policial, a intimidade grotesca, e a falta de uma fronteira nítida, entre muitos policiais cariocas contemporâneos e os traficantes de armas e drogas. Uma outra causa, óbvia, da corrupção que impera nas instituições policiais, é serem parte de um sistema político/econômico que sempre, desde seus primórdios, foi corrupto e extremamente injusto. 

Talvez a corrupção no Brasil seja tão evidente porque sempre fomos uma “colônia” – dos portugueses, dos ingleses, dos norte-americanos, das multinacionais. E nossos dirigentes e homens-de-poder-e-dinheiro foram, e são, em grande parte, os testa-de-ferro e gerentes de interesses alienígenas.

Enfim, estes “homens de dinheiro” e politicos – na verdade otários com grana e poder – são homens de visão muito curta, deslumbrados com as “luzes da Europa” ou com o “dinheiro e a modernidade dos Estados Unidos”; homens que ainda se apoiam num modelo do tipo “massa de trabalhadores ignorantes de baixo custo”, e que não têm culhões, nem competência, nem criatividade para instaurar uma “nova ordem” em nosso país.

 

fim da capítulo 9

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