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Cravinhos: Projeto de Capoeira União

O Projeto de Capoeira União é desenvolvido, em Cravinhos, pelo mestrando Diogo Nascimento Pereira, que tem um trabalho voltado inteiramente para o lado social, com o objetivo de tirar crianças e adolescentes das ruas.

A capoeira é considerada por muitos antropólogos e historiadores uma luta ou simplesmente uma arte. Entretanto por muito tempo ela foi proibida no Brasil, já que era considerada perigosa. Entretanto, atualmente, crianças e adultos se misturam aos mestres nas rodas de capoeira e praticam a modalidade em escolas, projetos sociais e até mesmo na rua.

Para jogar capoeira é preciso de um ritmo, que é ditado pelo atabaque, pelo berimbau e agogô. Com uma música bem característica dois parceiros, de acordo com o toque do berimbau, executam movimentos de ataque, de defesa e esquiva. Eles simulam uma luta, por isso é preciso habilidade e força, além de integração e respeito entre os parceiros.

Uma prática da época dos escravos serviu para tirar muitas crianças das ruas e proporcionar uma atividade física e ocupação para suas mentes, entre essas pessoas está o cravinhense Diogo Roberto Nascimento Pereira, 27 anos, que quando pequeno viu a capoeira como um esporte que evitou que ele fosse para caminhos errados.

“Quando era criança ficava mais na rua que em casa, e qualquer coisa que mexiam comigo eu queria brigar. Era muito encrenqueiro e dava trabalho pra todo mundo. Foi quando um dia conheci o professor Nego que me apresentou à capoeira, foi então que comecei a me interessar pela modalidade”, explica o professor e mestrando de Capoeira, Diogo Pereira.

Apesar de se identificar com tal arte Diogo Ferreira foi morar em Porto Ferreira, e lá encontrou o mestre Souza com quem fez uma grande amizade. Em poucos anos retornou para Cravinhos e o Promotor de Justiça, Dr. Wanderley Baptista Trindade Jr., observando a sua mudança o chamou e perguntou o que ele gostaria de ser. Prontamente o jovem respondeu que seria professor de capoeira. Então o Promotor o colocou para dar treinos no Projeto Sara.

“Foi com certeza um sonho realizado, nunca pensei que poderia mudar completamente o meu jeito devido a um esporte. Comecei a me esforçar e quando não tínhamos lugar para treinar íamos na Quadra de Esportes Irmãos Ribeiro, mas o local era escuro, então esperávamos a luz refletir na quadra pra podermos praticar a modalidade”, conta Diogo Pereira.

Foi nesse momento que estava fundado o Projeto de Capoeira União, que contaria com o apoio do mestre Souza e seria um trabalho totalmente social, para que outras crianças e adolescentes pudessem sair da rua e praticar uma modalidade.

“A capoeira me ajudou e por isso acreditei que ela poderia ajudar outras crianças que se encontravam na rua. E o projeto só foi crescendo, inclusive o local onde treinávamos recebeu a iluminação adequada, que foi paga pelo cidadão José Francisco Matasso Ferdinando [Cabelim], que na época não era candidato a nada e muito menos aspirava ser prefeito, mas sempre esteve do nosso lado, porque viu que o trabalho estava sendo bem executado”, diz o professor.

Nesse ano o projeto completa seus 14 anos de fundação, conta com 190 crianças de todas as partes do município de Cravinhos. Além de idosos que se encantaram pela arte da capoeira e tem aulas específicas, e com horários especiais.

“Muitas vezes cheguei para dar aula desanimado, mas quando começa o treino as crianças, cada uma a seu jeito, vão fazendo um movimento novo e isso faz com que qualquer chateação do dia fique pro lado de fora. Ensino a todos, mas eles também me ensinam muito. E se engana quem pensa que somente pessoas carentes fazem capoeira, porque o que vejo são todas as classes sociais integradas no desenvolvimento da arte”, ressalta o professor cravinhense.

A ideia de dar aulas para a Terceira Idade partiu da primeira-dama do município [Cleusa Maria Machado Ferdinando], por isso foi necessário que Diogo fizesse uma reciclagem e atualização, pois nem todos os movimentos praticados por uma criança podem ser feitos por um idoso. Entretanto a cada vez que ele chega ao Centro de Referência do Idoso para dar as aulas, elas o surpreendem com movimentos e estilo característicos.

“Precisei recorrer ao meu mestre Souza para fazer uma atualização, com o objetivo de dar aula a Terceira Idade de Cravinhos. Ele como já lidou com esse público me ensinou a Pedagogia da Capoeira, e me encanto a cada aula que uma delas faz um movimento diferente e peculiar. E posso afirmar que o pessoal da Terceira Idade tem mais vontade do que muitas pessoas novas”, conta o professor.

Entretanto quando indagado se já formou diversos capoeiristas, o professor Diogo é bem enfático: “não formo capoeiristas, mas sim cidadãos”.

“O Grupo de Capoeira União de Cravinhos acolhe qualquer pessoa que tenha necessidade de ajuda, seja ela qual for. Não quero formar diversos capoeiristas para o mundo, mas sim cidadãos. Por isso mesmo que trabalhamos diversos pontos com os jovens e adultos que fazem parte de nossas aulas”, comenta o contra-mestre Diogo Pereira.

Vale salientar que além de Cravinhos o projeto de capoeira “União” está em mais 16 municípios, sendo que cada um tem o professor que comanda a sua turma.

Preconceito e superação

Tendo o trabalho reconhecido pela atual administração municipal, o mestrando Diogo Roberto Nascimento Pereira, contou com a ajuda do prefeito Cabelim, da secretária da Educação, Márcia Fernandes Donato e do secretário de Esportes, Raul Pratalli Filho para ver seu projeto chegar a todos os bairros cravinhenses.

“Muitos me julgavam e dizendo que não ia dar certo na vida, já ouvi diversas vezes as pessoas chegarem até mim e dizer que capoeira é coisa de vagabundo e que isso não dá nada pra ninguém. Mas com o apoio do Cabelim, da Márcia Donato e do Raul Pratalli hoje me orgulho de saber que o meu trabalho é reconhecido, e que diversas crianças se dedicam a essa modalidade. Tenho orgulho de ser professor de capoeira e digo que é um sonho realizado, só falta as pessoas deixarem o preconceito de lado e prestarem mais atenção em todos que praticam a modalidade”, emociona-se o mestrando.

Atualmente diversos pais fazem capoeira para poderem incentivar seus filhos a praticarem uma atividade física, que não deixa nunca os “jogadores” parados, o que torna a capoeira tão grandiosa e bonita de se ver.

Portadores de necessidades especiais e cidades da região

A equipe do Grupo União de Capoeira também desenvolve trabalho na cidade de Ribeirão Preto, em bairros carentes, como por exemplo, Adelino Simione, em que as crianças se dedicam a modalidade para saírem das ruas.

“Lá é um bairro muito carente, mas mesmo assim desenvolvemos o projeto no local e precisam ver como as crianças ficam contentes quando chegamos para dar a Capoeira a todos”, diz Diogo.

Em Ribeirão Preto também participam das atividades de capoeira em torno de 13 crianças portadoras de necessidades especiais, entretanto aqui em Cravinhos apenas uma já aderiu ao projeto de capoeira.

“Em Ribeirão trabalhamos com portadores de necessidades especiais e vemos um grande desenvolvimento a cada dia que tem aula. No município de Cravinhos ainda não tivemos essa abertura da diretoria da APAE, mas respeito o posicionamento de todos e digo que as portas do projeto estão abertas a qualquer pessoa. Mesmo aquelas que acham que não são capazes de fazer capoeira podem acreditar que conseguem”, diz o mestrando Diogo Nascimento.

As crianças, adolescentes e adultos de Cravinhos que quiserem experimentar a arte da capoeira podem se inscrever e saber dos horários na Secretaria Municipal de Esportes, que fica localizada no Complexo Esportivo “Prefeito José Vessi” ou ainda solicitar horários e locais dos treinos, através do telefone 3951-1378.

Depoimentos

O Projeto de Capoeira União de Cravinhos

“O Diogo desenvolve um trabalho muito bom com as crianças e jovens do bairro Jardim Santana, Nova Cravinhos, Trajano Stella e Vila Cláudia. Além dos integrantes da Terceira Idade no CRI. A capoeira é um esporte que exige disciplina e concentração e ele trabalha com empenho e prazer.

Possui, atualmente, aproximadamente 200 alunos e a Secretaria da Educação conta sempre com o apoio dele, bem como a participação de seus alunos em diversos eventos realizados pela Secretaria. Essas aulas ministradas pelo Diogo incentivam todos os alunos que as praticam, inclusive com a melhoria dos estudos”, relata a secretária da Educação de Cravinhos, Márcia Fernandes Donato.

“Conheço o Diogo e o seu grupo muito antes de me tornar prefeito, por isso só tenho que parabenizá-lo. Sempre lhe incentivei e continuarei fazendo isso, porque só quem conhece de perto o trabalho que ele desenvolve junto à população de Cravinhos que sabe como esse jovem professor é bem esforçado. Parabéns a ele e todos que fazem parte do Grupo União de Capoeira”, diz o prefeito municipal de Cravinhos, Cabelim.

“A cidade de Cravinhos carecia de um professor de Capoeira há muito tempo, mas surgiu o Diogo que se tornou referência. E sempre estaremos dando respaldo ao seu trabalho, porque é um projeto social que envolve aproximadamente 200 jovens, que poderiam estar nas ruas, mas se encontram praticando essa atividade física tão bem ensinada pelo professor Diogo”, comenta o secretário de Esportes de Cravinhos, Raul Pratalli Filho.

A História da Capoeira

A origem da capoeira data da época da escravidão no Brasil. Muitos negros foram trazidos da África para o Brasil para trabalhar nos engenhos de cana-de-açúcar, nas fazendas de café, nas roças ou nas casas dos senhores. A capoeira era uma forma de luta e de resistência.

Porém, para não despertarem suspeitas, os escravos adaptaram os movimentos da luta aos cantos da África, fazendo tudo parecer uma dança. A capoeira foi ficando do jeitinho que ela é hoje, gingada.

No início do século XIX, no Rio de Janeiro, bandidos e malfeitores eram chamados de capoeiras, como registrou o escritor Manuel Antônio de Almeida, em “Memórias de um Sargento de Milícias”. Em 1888, a escravidão foi oficialmente abolida no Brasil. Muitos negros libertos não tinham como sobreviver e acabaram na marginalidade. Em Salvador, chegaram a organizar gangues e provocar rebeliões. Durante muito tempo a capoeira foi proibida.

Na década de 1930 a capoeira já tinha adquirido um novo status na sociedade. O próprio presidente Getúlio Vargas convidou um grupo de capoeira para se apresentar oficialmente no Palácio do Catete. A capoeira foi liberada. Professores de capoeira da Bahia se tornaram famosos, como os mestres Bimba, Pastinha e Gato, imortalizados nos romances de Jorge Amado.

Hoje em dia há muitas formas de jogar capoeira, e a mais tradicional preserva as raízes africanas, como a capoeira angola na Bahia.

 

Reportagem: Kennedy Oliveira

Fotos: A Redação

 

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