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Às vezes lhe chamam de negro, mas sempre lhe chamam de Mestre

No meio da roda o berimbau. Num lado do palco os mestres Sergipe e Zulu, de quem recebeu as primeiras lições na capoeira. No outro extremo, Jorge e Danilo, mestres que formou. Ao centro, Luiz Renato Vieira comemora o seu Jubileu de Pérola na Capoeira. Três gerações de capoeira se encontram num momento ímpar de solidariedade, regido pelo toque litúrgico do gunga. Os mestres Cláudio Danadinho, Skysito, Falcão, e Onça, Léo, Abdias e tantos outros estão lá estão lá para dar o abraço cordial. É festa no Anfiteatro 9 da Universidade de Brasília.

É não é para menos. Na presença de amigos, mestres, alunos, camaradas, Renato comemora os seus 30 anos de capoeira e recebe o título de Mestre Dignificador. A corda vermelha dá lugar à branca, a distinção máxima do grupo Beribazu, que ele ajudou a construir ao lado do Mestre Zulu, hoje dirigente do Centro Ideário Capoeira.

No intervalo da bela cerimônia, a delegação de Joinvile mostra o seu balé de capoeira, reproduzindo o “diálogo de corpos” ao qual se referiu Pastinha. Os artistas saem do chão como se fossem personagens das telas do Carybé ou da prosa de Dias Gomes: o incrível bailado da capoeira. Enquanto assiste a bela coreografia, Renato viaja no tempo e se lembra das primeiras lições, nas rodas de capoeira de Curitiba, comandadas por Mestre Sergipe. E das aulas do Zulu, na antiga academia Beribazu da Asa Norte, em de Brasíliaem Sobradinho, no campus da UnB.

O olhar se dirige a platéia e lá ele vê os inúmeros alunos e amigos com os quais convive há três décadas. O que, para Renato, é o único patrimônio que a capoeira lhe proporcionou. E ele comemora. “Quis muito que esse ciclo de trinta anos fosse marcado com um encontro com amigos. Desejei que a biografia, que o relato do que foi feito, jogado, escrito, cantado, aprendido ou ensinado, aparecesse apenas como elemento coadjuvante de uma história que nada seria sem as amizades que foram construídas.”, afirma o autor de “O jogo da capoeira” e de tantas outras teses que enriquecem a fértil produção acadêmica sobre capoeira.

E para quem aprendeu a dar rasteira no preconceito e na adversidade, a vida segue fluindo como no ritmo nostálgico de uma ladainha: às vezes lhe chamam de negro, mas sempre lhe chamam de mestre.


Luiz Renato Vieira

Mestre Luiz Renato é Sociólogo, Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, Mestre em Sociologia e Doutor em Sociologia da Cultura pela Universidade de Brasília/Universidade de Paris I – Sorbonne. Um dos pioneiros nos estudos acadêmicos sobre a capoeira, defendeu tese, em 1989, intitulada: “Da Vadiação à Capoeira Regional: uma interpretação da modernização cultural no Brasi”l, em que aborda as relações entre a capoeira e o Estado na Era Vargas. Como professor universitário de sociologia e ciência política, atuou em diversas instituições. Foi docente do Curso de Especialização em Capoeira na Escola da Faculdade de Educação Física da UnB. Ministra aulas de capoeira desde 1981. Ensinou a luta brasileira na França e em outros países da Europa, em aulas regulares e workshops. É Consultor Legislativo do Senado Federal, admitido por concurso público, na área de assistência social e minorias. Autor do livro: “O Jogo da Capoeira: corpo e cultura popular no Brasil”, (Ed. Sprint, Rio de Janeiro, 1996), possui diversos trabalhos sobre capoeira publicados em livros, revistas científicas nas áreas de ciências humanas e educação física e também em periódicos voltados para o público praticante da luta. Mestre Luiz Renato é autor de cantigas de capoeira gravadas em diversos discos de vinil e CD’s. Desde 1990, atua no Centro de Capoeira, um projeto comunitário da UnB dedicado ao ensino prático e à pesquisa da arte-luta brasileira. Desse Centro, formaram-se outros núcleos atualmente instalados em Brasília, em outras localidades do nosso país e no exterior. Além das aulas que ministra regularmente no Centro de Capoeira, Luiz Renato dedica-se, atualmente, ao estudo das políticas públicas relacionadas à capoeira e é membro do Conselho de Mestres do projeto Capoeira Viva, criado pelo Ministério da Cultura.

(*) o autor é aluno de Luiz Renato Vieira no Centro de Capoeira da UnB.

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