Capoeira & Controle de Qualidade

 Reflexão preliminar sobre o trabalho da Dra. Simone Ponde Vassalo e o momento atual da Capoeiragem no Brasil e no Mundo
 
 
Está circulando, pela Internet, um interessante trabalho da Dra. Simone Ponde Vassalo " doutora em Antropologia Social e Etnologia pela EHESS, Paris – residente no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. O estudo, intitulado "Anarquismo, igualitarismo e libertação: A apropriação do jogo da capoeira por praticantes parisienses", versa sobre um Grupo de Capoeira Parisiense – MAÍRA – que está tentando desenvolver trabalho próprio, sem contar mais com a "sabedoria arrogante" dos mestres brasileiros.
Trabalho que merece leitura atenta e muita reflexão. Daí a presente divulgação neste nosso modesto jornal. E, desde já, garantimos espaço para estudiosos que queiram discutir a posição e os argumentos utilizados pelo grupo francês.
            Para apimentar ligeiramente a discussão que certamente virá, tomamos a liberdade de fazer algumas reflexões e um autocrítica:
O fato é que a Capoeira anda pelo mundo há muito tempo. Com um crescente número de mestres, com formação e personalidades bem diferenciadas, e com um padrão sócio-econômico, acadêmico e cultural mais diferenciado ainda. Não existe, até mesmo pela própria riqueza da Capoeiragem, uma Verdade Única, um padrão estabelecido e mundialmente respeitado. Uma espécie de Normas Técnicas definidas por uma imaginária ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) especializada na Arte do Pontapé.
Vai daí que os estudantes de capoeira "lá de fora" , especialmente os mais antigos, mais graduados, alguns até já ensinando capoeiragem (parte desses, ensina com real maestria), permitem-se, também, desenvolver métodos próprios de ensino, interpretar o "jogo de mandinga" a seu modo, e optar por uma das muitas versões existentes sobre a "verdadeira" Origem e Evolução da Capoeira na África e, sobretudo, no Brasil.
O que, convenhamos, não chega ser um absurdo, nem mesmo uma ofensa a Capoeira Brasileira (que continua sendo debatida internamente, sem muito êxito, em dezenas de seminários, congressos, reuniões, workshops, convenções etc).
A Inglaterra é reconhecida como criadora do Futebol Moderno. Pois muito bem, há quanto tempo a Inglaterra não consegue chegar nem às oitavas de final de um Campeonato do Mundo?
A mesma Inglaterra também já teve a hegemonia no Boxe, hoje em dia, nem tanto.
Já que o exemplo é futebol, onde estão, agora, os melhores jogadores do Brasil?
E quanto ao Jiu-Jitsu?
Durante muito tempo era sinônimo de Japão, depois passou para o famoso Jiu-Jitsu dos Gracie, e agora, tudo se fundiu no Mix Martial Art.
 
            Em suma, neste espaço inicial, visando estimular discussão saudável, ousamos afirmar que, se de um lado o grupo dissidente francês, de maneira um tanto pretensiosa, e contraditória, procura seguir seu próprio caminho, por outro lado, esta dissidência pode ser vista como um alerta aos mestres de capoeira brasileiros. A fase de lua de mel, onde o aluno "de fora" , encantado, aceitava tudo " métodos de ensino questionáveis, "fundamentos com pouco fundamento ou com falso fundamento", versões fantasiosas sobre a História da Capoeira, excessivo culto à personalidade, contradições ideológicas e filosóficas, marketing exagerado etc. " esta fase, repito, está se exaurindo. Os alunos "lá de fora" agora, estão mais exigentes, até porque tem mais acesso às escolas, às bibliotecas e a cultura de modo geral, além do que, vários grupos estão visitando o Brasil e percorrendo várias rodas, fazendo comparações sobre elas.
 
            Ficamos por aqui, voltando a sugerir a leitura atenta do estudo da Dra. Simone. Feito o "dever de casa", vamos ao debate, o espaço está aberto neste Jornal do CAPOEIRA…

Tambem abro e democratizo o espaço para esta discussão.
Fica aqui o compromisso deste espaço em viabilizar as ferramentas para quem quiser se manifestar…
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