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Capoeira conquista adeptos no mundo árabe

Quando o berimbau começou a tocar, havia 26 pessoas na pequena sala de ginástica em Rabat: a maioria marroquinos, meia dúzia de refugiados do Congo e uma dezena de belgas, franceses, espanhóis e angolanos. Apenas três, incluindo Braz, um dos instrutores, eram brasileiros.
Mas quase toda a aula de capoeira, além dos cantos, foi em português, língua que muitos começam a dominar. 
Depois da Europa e dos Estados Unidos, a capoeira está ganhando adeptos no mundo árabe.
 
No Marrocos, onde acaba de ser realizado um encontro internacional, existem grupos em pelo menos quatro cidades: Casablanca, Essaouira, Salé e na capital, Rabat.
 
Mas a arte marcial brasileira, desenvolvida pelos escravos vindos da África, já fincou seus pés também na Argélia e no Egito.
 
Integração
 
Para o instrutor Zohir Lakhdar, mais conhecido como Saguim, "a capoeira é um instrumento de integração" num mundo marcado por tensões sociais, culturais e religiosas.
 
Nascido há 32 anos na Bélgica, de pais marroquinos, ele aprendeu capoeira e português em Bruxelas, com o mineiro Venceslau Augusto de Oliveira – o Braz. Em maio de 2005 resolveu mudar-se para o Marrocos e introduziu a capoeira em Rabat.
 
Seguindo o exemplo de Braz, Saguim incorporou a capoeira a projetos de integração social.
 
Funcionário do Ministério das Relações Exteriores e de Desenvolvimento do Marrocos, nas horas vagas ele dá aulas de capoeira numa academia, a um grupo de meninos pobres de Rabat, a outro de adolescentes de Salé e a cerca de 20 refugiados do Congo.
 
Foi ele que organizou o encontro internacional, realizado no início do mês, com a participação de capoeiristas da Bélgica, França, Espanha e Brasil.
 
"Com tanto conflito, desemprego e pobreza, os jovens de hoje precisam de um modelo, para não caírem no fatalismo e no desespero", diz Saguim, que dá suas aulas num português salpicado de francês e árabe.
 
Segundo o marroquino Driss Jaouzi, de 33 anos, nada mais natural do que ter aula numa língua estrangeira.
 
"É o que acontece no mundo islâmico. Existem muçulmanos de muitas nacionalidades, mas na hora de rezar todos rezam em árabe. Sendo assim, por que não jogar capoeira em português, já que a capoeira é brasileira?" pergunta Jaouzi, o Tijolo.
 
Projetos sociais
 
Aluno de Braz em Bruxelas, Tijolo é seu braço direito nos projetos sociais que está desenvolvendo, tanto no Brasil e na Bélgica quanto no Congo.
 
Em Bruxelas, eles trabalham com jovens de bairros pobres da periferia – muitos deles filhos de imigrantes marroquinos.
 
O próprio Braz conta que é "fruto de um projeto social". Ele praticava capoeira desde os seis anos de idade com seus irmãos em Vila Maria – uma favela de Belo Horizonte que virou bairro.
 
"Na época, havia tanta violência que a favela era conhecida como Poca Olho", lembra Braz. "Mas o Projeto de Integração da Criança pela Arte (Poca) transformou um nome de conotação pejorativa em algo positivo."
 
Foi graças a um intercâmbio cultural que Braz viajou para a Bélgica, onde formou-se em educação física e acabou se instalando. Mas ele continua promovendo projetos sociais em Minas Gerais e, a partir deste ano, começou a trabalhar no Congo, com "meninos soldados" e orfãos da guerra.
 
"A capoeira é mais do que uma disciplina esportiva. É um instrumento para estabelecer certos parâmetros e canalizar energia, num mundo de violência."
 
Nas aulas durante o encontro internacional, Braz explicava que na capoeira "ninguém luta, todos jogam" e que "não existem adversários, apenas parceiros".
 
O mesmo recado foi dado pelo instrutor espanhol David Balarezo, o Bala, que vive em Madrid e desembarcou em Rabat com um grupo de capoeiristas espanhóis e duas educadoras sociais.
 
Diálogo
 
Mesmo sem a presença de instrutores, grupos de capoeiristas estão brotando em diversas cidades.
 
É o caso da associação Capoeira Mogador, de Essaouira – cidade turística na costa marroquina. Foi formada por jovens que descobriram a capoeira na Internet, graças a sites como You Tube.
 
Um deles, Redouan, de 27 anos, fabricou um berimbau. "Tinha mil defeitos. A corda estava mal-amarrada, o som estava errado, mas um turista me viu andando na praia com o instrumento e me perguntou se eu era capoeirista", conta Redouan. "Para minha sorte, ele era capoeirista e nos deu algumas aulas."
 
No Cairo, um grupo de 20 pessoas está treinando sozinho, enquanto espera que alguém responda a um anúncio de "busca-se professor" no site www.capoeira.com
 
Segundo o capoeirista belgo-marroquino Jaouzi, o sucesso da capoeira é a sua versatilidade.
 
"A capoeira é um diálogo, aberto a todos. Reúne tradição e muitas formas de expresão: canto, percussão, ginga e acrobacia. Ou seja, é sempre possível encontrar alguma coisa para fazer."
 
* Monica Yanakiew
De Rabat
 
Fonte: BBC Brasil.com –
http://www.bbc.co.uk/portuguese/

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