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Filme homenageia Mestre João Pequeno

O mestre baiano, doutor em capoeira angola pela UFU, tem história recontada

Mestre João Pequeno é baiano de nascença. Foi em Salvador que aprendeu tudo o que sabe sobre o bailado de origem africana e, de lá, se tornou referência mundial do jogo meio dança, meio luta. Mas parte de seu coração tem um quê de uberlandense. Afinal, foi da Universidade Federal de Uberlândia que recebeu o título de doutor honoris causa pelo seu conhecimento em capoeira angola em dezembro de 2003, um sonho do mestre que foi realizado aqui. E este ano Uberlândia atravessa mais uma vez a vida deste ex-servente de pedreiro que é o mestre de capoeira mais velho do mundo. Começam hoje as gravações do documentário “Doutor Mestre João Pequeno: a história do negro no Brasil através da capoeira angola”, um projeto do professor Guimes Rodrigues Filho, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFU.
As filmagens acontecem, num primeiro momento, em São Carlos (São Paulo). Durante um encontro de capoeira, as lentes vão captar esta memória viva em ação. Mestre João Pequeno não está na ativa fisicamente, mas a mente ensina como ninguém aos mais jovens. Depois a equipe composta pelo próprio professor Guimes Filho, o diretor Gilson Goulart Carrijo (professor do curso de Cinema do Unitri), os roteiristas Pedro Paulo Freitas Braga (graduando em História) e Karla Bessa (também professora do curso de História na UFU) vão para Salvador, possivelmente em março, para reconstruir os passos do doutor desde sua morada até os locais onde treinava com o mestre Pastinha, um dos que mais contribuíram para difundir a capoeira angola no Brasil. “Vamos passar pela construção no Pelourinho que era a antiga academia de mestre Pastinha, onde João Pequeno tudo aprendeu, do forte para onde a academia se mudou. Enfim, todos os seus passos”, explica Guimes Filho.
Em todos os locais, depoimentos de discípulos de mestre João Pequeno vão ratificar sua importância para o mundo da capoeira, como o do próprio ministro da Cultura, Gilberto Gil, que está programado para abril. Se João Pequeno recebeu do ministério a comenda da Ordem de Mérito Cultural, ninguém melhor que o próprio ministro baiano, que conhece profundamente os mestres de capoeira, para falar de João Pequeno pela visão de quem trabalha com a cultura.

A cena final está programada para acontecer em Uberlândia. Falta ainda uma aprovação oficial, mas a intenção é inaugurar a sala do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da UFU com o nome de Mestre João Pequeno. “Seria uma honra tanto para nós quanto para ele, que ficou emocionado com o título de doutor e com o documentário. Afinal alguém precisa se lembrar de eternizar a memória daqueles que transmitem o conhecimento via oral. Porque mestre João Pequeno é praticamente uma biblioteca viva da capoeira angola”, aponta o professor.

Serão entre 30 e 40 minutos de documentário, que será distribuído nas várias entidades como o Museu da República, todos os ministérios, Museu da Imagem e do Som e, posteriormente, veicular na televisão em rede nacional. Tudo possível graças ao programa Capoeira Viva, uma iniciativa do Ministério da Cultura, Petrobras e Museu da República que destinou R$ 20 mil ao projeto uberlandense. “Como foi a UFU que lembrou de homenagear este mestre tão importante para a cultura popular, resolvi inscrever meu projeto para que este conhecimento sobre a capoeira angola não se perca com o tempo. Além de ser uma oportunidade de contar a trajetória do negro no Brasil tomando João Pequeno como exemplo”, finaliza Guimes Filho.
Um presente de 90 anos ao mestre

MANOEL SERAFIM
Momento melhor não há para homenagear João Pequeno. Nascido João Pereira dos Santos, o mestre completa em dezembro 90 anos com o orgulho de ter percorrido o mundo todo para difundir a capoeira angola. Depois de ser servente de pedreiro e tocador de boi, aos 25 anos se encantou com uma roda de capoeira que há poucos anos havia sido liberada no Brasil. A história conta que, em 1850, um decreto-lei proibira a prática da capoeira que, durante o império, era utilizada pelos escravos como forma de acabar com a repressão dos senhores. Considerada violenta e que dava poder aos negros, a luta era reprimida com prisão e açoitamento até que, na era Getúlio Vargas, o presidente se rendeu ao jogo dançado dos negros numa rua da própria Salvador e liberou a prática nas academias.
Foi numa destas que João Pequeno se encontrou com mestre Pastinha, um ícone da capoeira angola no Brasil. Dele foi discípulo e faz questão de mostrar sua arte em todos os cantos do mundo até hoje. A única decepção era não ser reconhecido pelo seu saber, o que mudou quando, finalmente, foi chamado de doutor. “Quando era criança, seu pai o chamava de doutor. E ele nem o colocou para estudar. Já na capoeira, ele é doutor pela sua importância no mundo todo. Um reconhecimento mais que merecido”, conclui Guimes Rodrigues Filho.

LUCIANA TIBÚRCIO – [email protected]
Correio de Uberlândia – MG, Brasil

http://www.correiodeuberlandia.com.br

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