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Dois Livros e a Capoeira na Ponte Aérea Recife-São Paulo

O retorno do Aprendiz

Por email recebo duas ´chamadas de angola´ de uma só vez. Quando você vai voltar a escrever sobre a capoeira, indaga o camarada Marcos Lessa (foto), assíduo leitor de nosso saudoso Jornal do Capoeira;Não perca o lançamento do novo livro ´Capoeiras e valentões na historia de São Paulo (1830-1930)´” provocam os amigos Carlos Carvalho Cavalheiro – excelente historiador de Sorocaba-SP – e Mestre Jerônimo –  praticamente o introdutor da capoeiragem na terra dos cangurus. Fiquei sem saber como entrar ou sair. Mas a rasteira veio de dentro de casa: “Tem jeito não seu Miltinho, é hora do Aprendiz de Capoeireiro voltar a ação“, provoca Keila Brilhante, minha esposa. As chamadas funcionaram, iêê vamo simbora, camará.

Primeiro livro: Valentões nos idos dos 1800

Por correio recebo, de presente, uma cópia autografada pelo próprio autor, Pedro Cunha, um magnífico exemplar do livro que recupera memórias da capoeiragem em terras paulistas entre 1830 e 1930. Mas o livro vem com uma recomendação explícita. Tem que ser lido “na reguinha”. E assim estou fazendo. Claro, o livro vem dar uma sacudidela no metiê dos capoeiras mais afoitos por literatura, pois até então tínhamos poucas obras buscando recuperar parte de nossa história paulista desta “nega mandingueira chamada Capoeira”

Vale citar o livro “O Mundo de Pernas pro Ar”, da colega Letícia Vidor, que retrata várias passagens da capoeira na Terra da Garoa (principalmente dos anos 60 em diante) e um conjunto de contribuições diversas peneiradas pelo camarada Cavalheiro, e publicadas como notas, crônicas e livros.

Voltando ao livro, logo de entrada, no prefácio assinado pela Dra. Cristina Wissenbach (Departamento de história da USP), cita-se a capoeira como parte do cotidiano da Academia de Direito de São Paulo, logo depois de sua fundação (1820), onde “estudantes e seus mestres denotando o fascínio que o jogo exercia, pela maestria dos movimentos e pela flexibilidade e agilidade dos corpos, capazes de vencer chicotes e armas” a praticavam. Sou obrigado a começar abrir caixas que cheias de materiais diversos que acomodo em meu home office, e que por uma década não mexia. Abri as caixas para me certificar-se que alguns livros, onde encontrei informações sobre a capoeiragem na Faculdade de Direito do Largo São Francisco (1850) estavam bem arquivados. Creio que a grande maioria do que tenho está já no livro cuidadosamente editado pelo Pedro Cunha, mas por segurança separei algumas coisas para ir acompanhando a leitura.

São Paulo-Recife & Fernando de Noronha

A trabalho embarco de Campinas-SP para Recife-PE. Claro, um bom capoeira não deixa de estabelecer seus contatos capoeirísticos. Vai daí que atentei para o fato de que a Profa. Ana Carolina Borges L. Silva, quem me receberia na Universidade Rural Federal de Pernambuco (UFRPE) era filha de Marieta Borges Lins e Silva (foto), uma pesquisadora e historiadora de cotidianos do Recife, mais precisamente, de Fernando de Noronha. Eis que ao chegar em Recife sou logo recebido pelo abraço fraterno de Marieta, que de pronto me presenteia com o livro “Fernando de Noronha, Cinco Séculos de História“. Quem conhece deve concordar que Marieta é uma dessas pessoas apaixonadas pelo que faz, e detém um acervo impressionante sobre sobre a ilha de Fernando de Noronha, e as múltiplas facetas que lhe foram atribuídas ao longo da história.

Para os que não sabem, Fernando de Noronha recebeu muitos capoeiras no final do século XIX, todos enviados do Rio de Janeiro para “limpar” as ruas e livrar a sociedade dos malesas que os capoeiras causavam nos idos de 1890 na Cidade Maravilhosa. Para mim felicidade, Marieta me foi apresentada pelo amigo Leopoldo Vaz, também historiador, mas de São Luis do Maranhão, sendo que tanto Marieta quanto Leopoldo foram colaboradores de nosso Jornal do Capoeira.

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O discípulo e os Mestres

Caminhando para o fim desta nossa crônica, uma pergunta que sempre me fazem é “Miltinho, qual sua linhagem e quem foi seu mestres”. De pronto respondo que sou filho da capoeira, e por ela criado, tive muitos professores me ensinado ao longo dessas quase três décadas de aprendizado, e continuo tendo aulas em todas oportunidades. Entretanto, dois grandes mestres merecem destaque. O primeiro, sem dúvida, é seu Claudival da Costa, o Mestre Cosmo, uma das figuras mais importantes da capoeira piracicabana, e que, ainda como professor dentro do grupo, assumiu a função de ser meu Mestre. Não menos importante, a segunda figura é o Mestre André Lacé (foto, ao lado da sergipana, Dna Arly), do Rio de Janeiro, detentor de um conhecimento inigualável, e que tornou-se meu tutor na área literária da capoeira. É com ele que aprendi, e aprendo, a importância do buscar o saber não só na roda da capoeira, mas também nas fontes históricas (documentais ou não).

Mestre Lacé é de quem “sou menino que aprende” na parte escrita de nossa capoeiragem. À esses dois Grandes Mestres agradeço de coração por todos ensinamentos. Aproveito para desejar um Feliz Aniversário para Mestre Lacé, quem em 6 de Agosto completará mais uma volta ao mundo. Com certeza a comemoração será regada a um bom vinho francês, samba de roda e, é claro, muita capoeira e muita sabedoria.

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