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A história da capoeira em Sorocaba

Grande parte dos estudiosos da capoeira insiste na tese de que o estado de São Paulo só conheceu essa manifestação afro-brasileira a partir de meados do século XX, quando capoeiristas baianos como Mestre Ananias, Mestre Esdras Santos, Mestre Suassuna e outros fundaram seus grupos e academias na capital paulista.
{jgquote}“Menino preste atenção No que eu vou lhe dizer: O que eu faço brincando Você não faz nem zangado. Não seja vaidoso, nem despeitado. Na roda da capoeira, há, há Pastinha já ‘tá classificado.” (Ladainha de Angola do Mestre Pastinha){/jgquote}
À luz da análise de documentos e pela analogia dos fatos históricos essa afirmação parece insustentável. Primeiro, porque o número de escravos negros no estado de São Paulo sempre foi relevante. Segundo, é fato notório e conhecido que após a proibição do tráfico negreiro (que coincide com a expansão cafeeira) a mão-de-obra escrava da lavoura paulista será buscada na importação do escravo de outras regiões brasileiras em que o ciclo econômico esteja em decadência, como foi o caso da cultura açucareira do Nordeste e a exploração de minérios em Minas Gerais1. 
 
Sorocaba, embora não fosse atingida pela expansão cafeeira, antes possuía economia esdrúxula para a época, calcada no comércio de tropas. O número de escravos era relativamente grande, embora concentrados nas mãos de poucos proprietários2.
 
Não há como negar, portanto, a presença marcante do escravo negro na história de Sorocaba. Luiz Mott, pesquisando os arquivos da Torre do Tombo, encontrou mesmo documentos referentes à prisão do escravo João Mulato, em 1767, pelo Tribunal da Inquisição, que estava em visita Pastoral a Sorocaba. A prisão do escravo foi pelo motivo do mesmo portar uma “bolsa de mandinga” — um patuá. Esse amuleto é conhecido por sua fama em “fechar o corpo” de quem o carrega. Dessa forma protege-se de agressão física produzida por quaisquer instrumentos3.
 
Portanto, a presença da cultura africana e afro-brasileira no estado de São Paulo é antiga. Mas isso seria suficiente para autorizar, por analogia, a declaração de que em São Paulo já se tinha notícia da capoeira antes do século XX?
 
Certamente o argumento é frágil se não escorado por documentação inquestionável. E vamos encontrar tal documento nas Posturas Municipais da cidade de São Paulo, que, a requerimento do Presidente da Província, Cel. Rafael Tobias de Aguiar, sorocabano de escol, foi apresentado no dia 24 de janeiro de 1833 e aprovado pelo Conselho Geral em 1º de fevereiro do dito ano e publicado a 14 de março. Rezava parte da Postura que: “Toda pessoa que nas praças, ruas, casas públicas ou em qualquer outro lugar também público, praticar ou exercer o jogo denominado de capoeira ou qualquer outro gênero de luta, (…)4.”
 
Tem-se aí, claramente, a olhos vistos, que a capoeira em São Paulo não somente era conhecida como proibida pelo menos a partir do ano de 1833!
 
Cai por terra a teoria de que São Paulo conheceu capoeira somente no século XX. É preciso ter claro na mente como se desenvolveu a capoeira e separar em dois momentos históricos: o da informalidade e o da formalidade dessa prática. Primeiramente, devemos entender que a mesma apareceu entre os negros escravos de Angola e os primeiros registros dão conta de que se tenha desenvolvido entre os quilombolas de Pernambuco. Posteriormente, essa luta encontrou em todos os rincões do Brasil suas formas regionais: a capoeira Angola e a pernada no Rio de Janeiro, a punga no Maranhão, o bate-coxa em Alagoas, o cangapé ou cambapé no Ceará, a tiririca ou pernada em São Paulo, a capoeira de Angola (e posteriormente a Regional Baiana) na Bahia5.
 
O fluxo de escravos de uma região a outra, depois da proibição do tráfico negreiro, e atendendo as demandas econômicas de cada localidade, deram à capoeira possibilidade de eficazmente se difundir por várias partes do Brasil, sempre mantendo algumas características básicas, como o jogo de pernas, alguns golpes e a música como elemento rítmico e dissimulador da belicosidade. Essa forma de capoeira era informal, não se aprendia em academias (até porque desde 18906 estava proibida pelo Código Penal, pena que perdurou até 1937).
 
Com a fundação de academias de capoeira, em fins dos anos 30 e início dos 40, pelos Mestres Bimba e Pastinha, surgiu aí o modelo baiano de prática formal da capoeira. Antes, era brincadeira de rua, aprendida nos becos e nos quintais, escondida. A partir das primeiras academias muda-se o paradigma7. E essa capoeira formal, baiana, esse modelo de prática é que vai ser exportado para São Paulo a partir de fins da década de 1940 a início de 19508. Antes, a capoeira já era conhecida nesse estado.
 
Em março de 1892 houve um confronto entre os “morcegos” (praças da polícia fardada) e soldados do exército paulista que eram capoeiristas, ocasionando distúrbios na cidade de São Paulo9. Em 1923, para citar outro exemplo, o escritor Monteiro Lobato escreveu o conto O 22 da ‘Marajó’ em que denota a familiaridade com termos típicos da capoeira, afirmando mesmo que “Antes do futebol, só a capoeiragem conseguiu um cultozinho entre nós e isso mesmo só na ralé.” Mais adiante revela a intimidade com a gíria dos capoeiras: “— Só uma besta destas dá soltas sem negaça…”10.
 
O delegado de polícia de São Paulo e escritor, João Amoroso Netto, na biografia do célebre bandido Dioguinho11, publicada em 1949, afirma, comentando sobre fato ocorrido por volta de 1890, que “O delegado de polícia de Mato Grosso de Batatais12 estava furioso, porque os soldados haviam deixado fugir um preto capoeira que se metera numa briga.” Disso se depreende que a capoeira já era conhecida no estado de São Paulo no século XIX, e mesmo em 1949, ano da publicação referida, era manifestação conhecida, já que com naturalidade foi citada e nem mesmo houve necessidade de explicação em nota.
 
Em outro livro sobre o mesmo Dioguinho, encontramos referência a capoeira praticada na cidade de Botucatu, em meados do século XIX: “Dioguinho… Frequentava assiduamente as rodas de capoeira no largo da Igreja São Benedito, onde se tornou um exímio capoeirista, um dos melhores lutadores dessa luta-arte da cidade e região13.”
 
Com relação à cidade de Sorocaba, inúmeros documentos demonstram o conflito entre senhores e escravos, desmentindo a lenda de que nessa cidade os escravos eram pacíficos porque eram “bem tratados e quase todos domésticos”.
 
Em 1836, no dia 6 de abril, Salvador, escravo de Manoel Claudiano de Oliveira resistiu a voz de prisão do Comandante e dos praças da Patrulha, mesmo depois de desarmado da faca que carregava, tendo mesmo lutado com os soldados e disparado com arma de fogo contra os mesmos14. Em 1833, Francisco, escravo do alferes Bernardino Jozé de Barros respondeu a processo crime por desferir uma pancada em Manoel Antonio de Moura15. Em 1832, no dia 27 de ju nho, Bento, escravo do Padre Reverendo João Vaz de Almeida, agrediu, numa, luta Manuel José de Campos, ferindo-o com uma facada16. Em 1835 o escravo Salvador, de propriedade de José Joaquim de Almeida, foi ferido a espadada por Thomaz de Campos, depois do escravo cobrar uma dívida17. O fato ocorreu no dia 12 de agosto de 1835. Em 1875 o escravo Generoso desferiu um tiro alvejando e matando o seu senhor, Tenente Coronel Fernando Lopes de Sousa Freire18.
 
Escravos valentes, lutadores, fortes. As crônicas judiciárias da cidade de Sorocaba estão recheadas de informações a esse respeito19. Reporte-se ainda ao caso dos escravos Antônio, Roque e Amaro que foram enforcados depois de condenados pelo Júri de Sorocaba por terem matado o senhor, Joaquim Rodrigues da Silveira, no dia 14 de novembro de 1850. É interessante notar que dos depoimentos colhidos à época dos fatos, soube-se que Antônio era natural de Pernambuco, Vila de Catolé, e que Roque “viera vendido da Bahia”20. Não só reforça a afirmativa de que para cá vieram escravos vendidos do Nordeste, bem como os dois estados dos quais eram naturais os escravos são tradicionalmente terras em que se deu a gênese da capoeira!
 
Portanto, em que pese as diferenças regionais (Mestre Bimba mesmo nomeou o seu estilo como Capoeira Regional Baiana), não é impossível que elementos que conheciam a capoeira em seus estados natais tivessem sido vendidos para o sudeste e continuado aqui sua prática. Aliás, é mais que provável.
 
Entretanto, a fim de sairmos do campo das hipóteses e lançar para nossos pés fundamentos mais sólidos, recorremos a documentos ainda mais esclarecedores.
 
Em 26 de agosto de 1850 a Câmara Municipal de Sorocaba enviou ao Presidente da Província um ofício anexando a este o Código de Posturas Municipais de Sorocaba, com a finalidade de ser aprovado, o que de fato ocorreu no dia 7 de outubro de 1850. No Título 8º desse Código de Posturas, no artigo 151 está explícito: “Toda a pessoa que nas praças, ruas, casas públicas, ou em qualquer outro lugar tão bem público practicar ou exercer o jogo denominado de Capoeiras ou qualquer outro gênero de luta, sendo livre será preso por dous dias, e pagará dous mil reis de multa, e sendo captiva será preso, e entregue a seo senhor para o fazer castigar naquela com vinte cinco açoites e quando não faça sofrerá o escravo a mesma pena de dous dias de prisão e dous mil réis de multa 21.”
 
Nem se diga que o Código de Posturas era genérico e uma “cópia” de outros códigos similares, não refletindo a realidade local. Tal afirmativa é insustentável à luz do teor do ofício da Câmara Municipal de Sorocaba que encaminhou ao Presidente da Província o referido Código de Posturas. No texto da carta os edis sorocabanos salientam que “Porquanto, sem que nem de leve se presuma que a Câmara actual pretenda censurar suas predecessoras, preciso é confessar pela incidência dos factos, que este ramo do serviço Público se acha neste Município em perfeito atraso. V. Exa. não ignora que quando a Lei de 1º de outubro de 1828 deixou as Câmaras Municipaes o direito de propor suas Posturas os objectos do Tº 3º e conheceo a dificuldade de legislar na Polícia Administrativa para casos tão especiaes, para localidades tão disseminadas, tão distintas em usos, em costumes, e em diverças outras circunstancias, que podião fazer com que uma medida salutar para um Município não só não fosse aplicável a outro seo vizinho, como atte fosse lhe prejudicial. Esta disposição, Exmo. Sr., que esta Câmara julga a mais bella parte da Lei mencionada tem sido pouco attendida pelas Câmaras Municipaes, donde restta que vários casos que podem ser prevenidos pelas Posturas, força é confessar que o Município de Sorocaba já gabava dalgumas Posturas optimamentes adequadas as suas necessidades, porem dentre estas muitas havião, que já se tornarão inúteis pelo desaparecimento dos casos aqui e não aplicados, e outras erão sofismadas pelos interessados, seguindo diverças intelligencias a que prestavão, acorrendo actos inconvenientes o nenhum nexo que tinhão essas Posturas entre si, porque mais erão feitas d’ordinário depois que apparecia o facto, que convinha de antes processar attentar a tais circunstancias esta Câmara logo em comissão de seus trabalhos tratou de confeccionar um Código de Posturas dividido por sessoins, títulos, e artigos, segundo lhe foi permittido pela Assembléia Legislativa Provincial em 1837, comprehendendo em cada uma dellas a matéria que lhe parecia própria, ficando dest’arte não só mais sistemático o corpo das Posturas, como mesmo mais justados aos que ella precisavam recorrer. Este código de Posturas é o que esta Câmara tem a honra de endereçar a V. Exa., pedindo a sua aprovação provisória atte que a Assembléia Provincial approve deffinitivamente, para onde V. Exa. designará enviada em tempo competente.”22
 
Está assim definitivamente provado que a capoeira existia, era conhecida e combatida na cidade de Sorocaba no mínimo a partir de 1850. E era fato que merecia atenção das autoridades locais. O Código de Posturas de 1850 era o mais adequado e atual para aquela época e para a cidade. Já no início do século XX vamos encontrar notícias sobre capoeiristas que praticavam a brincadeira na informalidade. Segundo testemunho da senhora Thereza Henriqueta Marciano, 71 anos, nascida em Tietê e residente em Sorocaba desde 1934, seu pai, o senhor João André era praticante dessa arte, a qual aprendeu com seu pai, José André, na fazenda Parazinho em Tietê. Da época em que viveu em Sorocaba, a partir de 1934, João André sempre brincou de capoeira e de maculelê (dança de paus, como disse dona Thereza)23. João André era negro e nasceu em 1889. Além da capoeira e do maculelê, conhecia o tambú, ou samba caipira. Faleceu em Sorocaba em 1965, aos 74 anos de idade.
 
Josias Alves, conhecido por Chiu, foi outro capoeirista que, nascido na Fazenda Lulia em Maristela, passou a residir em Sorocaba a partir de 1958. Alega que brincava capoeira na fazenda e em Sorocaba, juntamente com um grupo de negros capoeiras, no clube 28 de Setembro, entre os anos de 1958 a meados de 1960. As brincadeiras eram acompanhadas por um berimbau e um pandeiro. Chiu informou que a capoeira era reprimida pela polícia, mesmo em 1958 (anos depois de ser tirada do Código Penal). Não era perseguição a capoeira em si, mas a qualquer reunião festiva de negros, segundo sua concepção. Aliás, os rituais afro-brasileiros também eram vistos com muitas reservas, conforme seu depoimento24.
 

Notícias diversas também se tem do pessoal da pernada, a capoeira paulista simplificada. Em São Paulo, segundo Nenê da Vila Matilde e Geraldo Filme, era conhecida por tiririca25. É a mesma pernada carioca. Sebastião Bento da Cunha, conhecido por “Carioca”, residente no bairro Santa Terezinha, em Sorocaba, alega que conheceu esse jogo com o nome de samba-de-roda, praticado em Valença e Barra Mansa, no estado do Rio de Janeiro. No Maranhão é conhecida por punga e está ligada ao Tambor de Crioula. Marcelo Manzatti fala da tiririca como sendo forma primitiva de Capoeira ou Pernada, praticada ao som do samba, sendo os golpes desferidos em meio aos passos da dança.
 
Na capital paulista, especialmente na Praça da Sé, se praticava a tiririca. Os mais destacados nessa brincadeira foram Caco Velho, Germano Mathias, Geraldo Filme, Inocêncio Thobias, Pato N’Água, Osvaldinho da Cuíca, Sinval Guardinha, Perdigão, entre outros. Esse pessoal acompanhava os blocos e cordões carnavalescos, protegendo o grupo dos rivais.
 
Em Sorocaba, o pessoal da pernada também acompanhava os cordões. José de Campos Lima26 lembra do famoso Zé Jaú, negro esguio, alto (cerca de 1,90 metro de altura), magro, e muito bom de pernada. Era ágil e ninguém podia com ele. Foi o mais famoso e valente negro da pernada sorocabana. Isso lá pelos idos de 1950. Seu nome completo era José de Barros Prado e nasceu em Tietê por volta de 1927. Segundo o cururueiro Daniel Araújo, que trabalhou com Zé Jaú nas Indústrias Barbéro, lá pelos idos de 1955, a pernada era um “tipo de capoeira, com bastante agilidade”. Quem praticava a pernada conseguia lutar com relativa facilidade com três ou quatro oponentes.
 
Apesar de não ser praticante da pernada, Daniel Araújo foi muito amigo de Zé Jaú, antes mesmo de trabalharem juntos, e presenciou várias brigas em salões de baile envolvendo o pessoal da pernada. Era chute, cabeçada, rasteira… Em Sorocaba ou nas cidades da região em que houvesse baile, lá estava o pessoal da pernada. Também nos blocos carnavalescos, como no Cordão dos Farrapados, nas escolas de samba 28 de Setembro, Terceiro Centenário, Estrela da Vila27. Era o carnaval sorocabano da década de 1950, quando quem não possuía dinheiro para comprar lança perfume (permitido na época) jogava água com pó de café num eufemismo de entrudo.
 
Zé Jaú morou no bairro do Vergueiro e era filho de Chico Gato. Casou-se com Luzia Arruda e foi morar na rua Santa Rosália. Faleceu em 196428. Ainda pequeno veio para Sorocaba. Fazia parte do pessoal da pernada em Sorocaba o Mula, o Vadeco, o Luizão entre outros.
 
Luizão (Luiz Gonzaga Rodrigues), nascido em Cesário Lange, em 1938, chegou em Sorocaba em 1953, tendo contato com o samba e a pernada com o pessoal da Escola de Samba Guarani, por volta de 1965. Era passista, ou seja, pertencia à ala do pessoal da pernada. Para ele a pernada “… é o tipo de movimento de quem pudesse mais chorava menos. Então era, propriamente para mim, uma capoeira que a gente fazia com um tipo mais simples, não tinha assim um preparo mesmo para dizer: ‘? Você dá assim e eu saio…’, tipo combinado, não. Se errasse, caia mesmo. Era pernada, tinha rabo de raia, tinha um chute de pé, chute de lado, valia cotovelada, cabeçada, não interessa… E o sujeito tinha que bancar bem a rasteira, né29?”
 
Luiz Gonzaga Rodrigues lembra de mais alguns nomes do pessoal da pernada: Lamparina, Ardano, Pedro Fuminho, Tavinho, Tião Preto, Lazinho, Nardo, Dito Vassoura, Darci Branco, Maurinho Meia Lua, Vartinho, Sapatão…
 
No início da década de 60 apareceu o capoeirista Dorival Dutra. Nascido em 19 de setembro de 1926 em Cosmópolis, SP, viveu muitos anos em Sorocaba. Teve alguns problemas com a justiça por motivos de agressão. Era conhecido pelo apelido de Cuíca.
 
Em meados da década de 1960 já estava em Sorocaba Pedro Feitosa de Almeida, que, embora criança, aprendeu capoeira no nordeste com o capoeirista Zuza.
 
No final da década de 60 e início da de 70 surge a primeira academia de capoeira de Sorocaba, de propriedade do empresário Jorge Melchíades de Carvalho Filho30. Já não era mais a capoeira informal, mas o modelo de formalidade criado pelos baianos. Jorge Melchíades realizou apresentações de capoeira, incluindo a de 1970, no programa Cidade contra Cidade, apresentado por Sílvio Santos na TV Tupi. Essa academia durou poucos anos.
 
Em 1976 ou pouco mais, um professor conhecido por Sabugo (Luiz Carlos Rafaldini) abriu na cidade de Sorocaba uma filial da Academia Nova Luanda, do Mestre Valdenor31. Em pouco tempo a academia fechou. Consta que antes disso Sabugo formou-se mestre.
 
Em 1978, Pedro Feitosa de Almeida e Luiz Sabugo abriram a academia “Netos de Luanda”32. Testemunha desse fato é o hoje mestre Jeová, que iniciou a prática da capoeira naquela época33. Em 1981, Mestre Pedro Feitosa traz para Sorocaba a filial do Grupo Cativeiro34. Em 10 de julho de 1981, Eduardo Alves Santos, o Mestre Fálcon, registra a sua Associação de Capoeira Ginástica Nacional (antiga filial da Cordão de Ouro do Mestre Suassuna), na Rua Miguel Giardini, nº 7235. Muitas outras academias, associações e grupos vieram depois. Alguns tiveram trabalho efêmero que durou o tempo do modismo embalado por filmes como “Esporte sangrento”, em fins da década de 1990. Os que permaneceram continuam com seu trabalho sério36.
 
 
Bibliografia
 
Aleixo Irmão, José. A Perseverança III e Sorocaba. 1969, 1ª ed.
Almeida, Aluísio de. Sorocaba – Três séculos de história. Ed. Ottoni, Itu/SP, 2002.
Areias, Almir das. O que é capoeira. Ed. Brasiliense, SP, 2ª ed., 1984.
Câmara Cascudo, Luis da. Dicionário do folclore brasileiro. Ediouro, RJ, s/d.
Cavalheiro, Carlos Carvalho. Folclore em Sorocaba. Prefeitura Municipal de Sorocaba, 1999.
Lobato, Monteiro. A Onda verde. Ed. Brasiliense, SP, 9ª ed., 1959.
Luna, Francisco Vidal. Posse de Escravos em Sorocaba (1778-1836). FEA/USP-IPE, 1986.
Martins, Ana Luíza. Império do café. Ed. Atual, SP, 9ª ed., s/d.
Milliet, Sérgio. Roteiro do café e outros ensaios. Hucitec/INC/Pró-Memória, s/d.
Pastinha, Mestre Vicente Ferreira. Capoeira Angola. 2ª ed., 1968.
Pinsky, Jaime. A escravidão no Brasil. Ed. Global.
Prado Júnior, Caio. História econômica do Brasil. Ed. Brasiliense, 42ª ed., SP, 1995.
Santos, Esdras Magalhães dos. Conversando sobre capoeira… Ed. do autor, 1ª ed., 1996.
Santos, Valdenor Silva dos. Conversando “nos bastidores” com o capoeirista. 1ª ed., 1996.
Vieira, Rogich. Sorocaba não esperou o 13 de maio. FUA, 1988.
 


1 “Entre os fatores que contribuíram para a decadência do Norte é preciso contar também a cessação, em 1850, da corrente de escravos importados da África. Abalado já pela conjuntura internacional desfavorável e pelo esgotamento de suas reservas naturais, o Norte sofrerá consideravelmente com este novo golpe que o privava de mão-de-obra fácil e relativamente barata. O Sul seria menos atingido, porque se encontrava em fase ascendente de progresso e se refará mais rapidamente. Poderá mesmo resolver momentaneamente o seu problema importando escravos do Norte depauperado, embora agravando assim ainda mais a situação deste.” (Prado Júnior, Caio. História econômica do Brasil. 42ª ed., Ed. Brasiliense, SP, 1995, p.159) 2 “Os resultados preliminares apresentados neste trabalho permitem que se efetuem algumas ilações quanto à Vila de Sorocaba no período 1778 a 1836. Em primeiro lugar, verificou-se um rápido crescimento no número de fogos, o que denota expansão proporcional da Vila, na qual evidenciou-se uma variada atividade, tanto agropecuária como de comércio e serviços; apesar do grande número de escravos ali existente, a maioria dos fogos não contava com os mesmos.” (Luna, Francisco Vidal. Posse de escravos em Sorocaba (1778-1836). Primeiro Seminário do Centenário da Abolição do Escravismo: da Época Colonial à Situação do Negro na Atualidade, São Paulo, FEA/USP-IPE, 1986, p. 21)
Em 1872 o recenseamento acusou uma população escrava de 3.070 pessoas em Sorocaba. (Silva, Rubens. Dois dedos de prosa. In Revista do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, nº 01, 1956, p. 8)
3 As chamadas bolsas de mandinga ou patuás eram amuletos apreciadíssimos pelos colonos afro-luso-brasileiros tendo levado às barras do Tribunal da Fé mais de uma dezena de escravos e libertos não só do Brasil, como também de Portugal, sendo o motivo da realização de um Sumário de Culpas na visita Pastoral de Sorocaba no ano do Senhor de 1767. “Vila considerável e florescente, é ornada com uma igreja paroquial da invocação de Nossa Senhora da Ponte, um recolhimento de mulheres, um Hospício de Bentos, uma Ermida de Santo Antônio e outra dedicada a Nossa Senhora do Rosário, cuja construção os pretos continuam.” Famosa por sua Feira de Muares, em Sorocaba se concentrava buliçosa população de tropeiros, vaqueiros, tangedores e viandantes, os principais aficionados desta devoção a um tempo sincrética e sacrílega, à qual se atribuía o poder de “fechar o corpo” contra todo o tipo de perigos físicos ou malefícios diabólicos. O acusado era conhecido tão-somente pelo nome de João Mulato Escravo. (Mott, Luiz A Inquisição em São Paulo. In D.O. Leitura, São Paulo, 10 de maio de 1992, nº 120, p. 8)
4 Briand, Pol – Anotações em ficha de estudo. O pesquisador buscou tais informações na tese de doutorado de Paulo Coelho de Araújo, Porto (Portugal), 1996.
5 “Existem outras variedades de capoeira, denominadas batuque ou batuqueboi (Bahia), pernada carioca (Rio de Janeiro) e bate-coxa (Alagoas). Qualquer que seja o nome da capoeira, sempre tem acompanhamento musical…” (Enciclopédia da música brasileira. Art Editora Ltda., SP, 1977) 6 Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890, cujo capítulo XIII tratava dos “vadios e capoeiras”, discorrendo sobre o assunto no artigo 402 e seguintes.
7 Organizada oficialmente sob forma de federações estaduais, associações, ligas, clubes, academias e outras agremiações, a capoeira vem apresentando eventos culturais e desportivos periódicos e sendo objeto de estudos acadêmicos regionais, nacionais e internacionais. Estas formas institucionalizadas da capoeira, entretanto não são as únicas encontradas atualmente, sendo comum a prática informal em praça pública e festas populares, sob aspecto de folclore ou “capoeira de rua”. (Decanio Filho, A. A. Informações Gerais sobre Capoeira. In http: //planeta.terra.com.br/esporte/capoeirada bahia/ acessado em 14/02/2004)
8 Santos, Esdras Magalhães dos. Conversando sobre capoeira… 1ª edição, 1996, edição do autor.
9 Ver: http://www.institutocariocadecapoeira.hpg.ig.com.br/historico.htm acessado em 31/01/2004.
10 Lobato, Monteiro. A onda verde. Ed. Brasiliense, SP, 9ª ed., 1959.
11 Amoroso Netto, João. História Completa e verídica do famoso bandido paulista Diogo da Rocha Figueira, mais conhecido pelo cognome de Dioguinho, por um delegado de Polícia. Oficinas Gráficas da Rua do Hipódromo, SP, 1949.
12 Mato Grosso de Batatais é o antigo nome da cidade paulista de Altinópolis, região de Ribeirão Preto.
13 Bernardo, Moacir. A vida bandida de Dioguinho. Ed. do Autor, 2000, p. 13.
14 Autos crimes e denúncia em que é o Promotor Público Autor e Salvador, escravo de Manoel Claudiano de Oliveira – Réu. Arquivado na caixa 4 – Júri Antigo – Sorocaba.
15 Autos de livramento crime em que são Alferes Bernardino Jozé de Barros por cabeça de seu escravo Francisco e Manoel Antonio de Moura acuzante – Arquivado na caixa 4 – Júri Antigo – Sorocaba.
16 Autos de livramento crime em que são Revdo. João Vaz de Almeida por cabeça de seu escravo Bento e Manuel José de Campos acuzante. Arquivado na caixa 4 – Júri Antigo – Sorocaba. 17 Autos crime em que são Thomaz de Campos réu e Salvador, escravo de José Joaquim de Almeida acuzante – Arquivado na caixa 4 – Júri Antigo.
18 Aleixo Irmão, José. A perseverança III e Sorocaba. 1º vol., 1969, pág. 140/141. Ver também: Pinsky, Jaime. A escravidão no Brasil. Ed. Global. Também: Almeida, Aluísio de. Sorocaba – Três séculos de história. Ed. Ottoni, 2002.
19 “Eis alguns exemplos da relação festa/revolta na Bahia e em outras regiões brasileiras: (…)Itu, Sorocaba, São Carlos (Campinas), em São Paulo, 1809: escravos rurais fugiram, se aquilombaram e planejaram levante para o Natal desse ano, que terminou não acontecendo.” (Reis, João José. Quilombos e revoltas escravas no Brasil. In Revista USP nº 28, versão on-line disponível em http:// www.usp.br/revistausp/n28/jjreis.html acessado em 31/01/2004.
20 Baldy, Hélio Rosa. Sorocaba já teve forca e pena de morte. In Cruzeiro do Sul, 25/12/1973. 21 Código de Posturas da cidade de Sorocaba – 1850. Arquivado na Divisão de Acervo Histórico da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Documento encontrado por Dainis Karepov a pedido do Deputado estadual Hamilton Pereira.
22 Correspondências Expedidas (Atas) – Câmara Municipal de Sorocaba – 1849-1855 – Livro 48, fl. 38 – Carta da Câmara Municipal de Sorocaba ao Presidente da Província datada de 26/08/1850 – Arquivo do MHS – copiado por Carlos Carvalho Cavalheiro em 07/02/2004. Colaboração da Administradora do Museu Histórico Sorocabano, sra. Sônia Nanci Paes.
23 Entrevista de dona Thereza Henriqueta Marciano cedida a Adilene Ferreira Carvalho Cavalheiro e a Carlos Carvalho Cavalheiro em 14/12/2003.
24 Cavalheiro, Carlos Carvalho. Folclore em Sorocaba. Prefeitura Municipal de Sorocaba, 1999.
25 “A tiririca é o jogo da pernada. Naquela brincadeira, na época, não podia fazer samba na rua em São Paulo. Quem fazia samba ia em cana.” Geraldo Filme em A música brasileira deste século por seus autores e intérpretes. SP, Sesc, 2000, coord. J.C. Botezelli, Pelão e Arley Pereira. Ver também: Depoimento de Nenê da Vila Matilde em Memórias de Seu Nenê da Vila Matilde. Relato de Alberto Alves da Silva, organizado por Ana Braia, in http://www.umes.org.br/leia mais/agenda/livro_memorias.htm acessado em 24/01/2004
26 Entrevista cedida por telefone ao autor no dia 14/12/2003, às 21 horas.
27 Entrevista com Daniel Araújo e sua esposa Inês, realizada no dia 21/02/2004.
28 Sobre o Zé Jaú: entrevista com Luzia Arruda no dia 20/02/2004, feita por Adilene Ferreira Carvalho Cavalheiro e entrevista com Daniel Araújo e sua esposa Inês, realizada no dia 21/02/2004 por Carlos Carvalho Cavalheiro e Adilene Ferreira Carvalho Cavalheiro. Ainda, entrevista por telefone com Maria José Lima no dia 20/02/2004 feita por Carlos Carvalho Cavalheiro.
29 Entrevista realizada em 03/03/2004 com Luiz Gonzaga Rodrigues por Carlos Carvalho Cavalheiro.
30 “Em 1969 trouxe pela primeira vez espetáculos de capoeira e montou academia onde a ensinou alguns anos.” (Carvalho Filho, Jorge Melchíades. Seja feliz já. Onde? Como? Ed. Martin Claret, 1998, p. 177, Sobre o autor.
31 Santos, Valdenor Silva dos. Conversando “nos bastidores”com o capoeirista. 1ª ed., 1996.
32 Entrevista por telefone com Mestre Pedro Feitosa de Almeida no dia 20/02/2004.
33 Entrevista com Jeová Silva Nascimento (Mestre Jeová) no dia 04/01/2000 por Carlos Carvalho Cavalheiro.
34 Cavalheiro, Carlos Carvalho. Folclore em Sorocaba. Prefeitura Municipal de Sorocaba, 1999.
35 Declaração de contribuinte do imposto sobre serviços de qualquer natureza da Prefeitura Municipal de Sorocaba — documento registrado em 08/08/1984.
36 Hoje, existem em Sorocaba vários grupos e associações de Capoeira. Existe mesmo a ASCA (Associação Sorocabana de Capoeira), a qual congrega os grupos Nacional, Cultura Brasileira Angola, Liberdade, Cativeiro e Cordão de Ouro. Entrevista com o Mestre Fálcon (Eduardo Alves Santos), no dia 20/02/2004, por telefone.
 
Carlos Carvalho Cavalheiro
Folclorista e Historiador
[email protected]

 

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