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Cronica: Quando um “capoeira” não é da Capoeira

“Pára a roda, capoeira! Pára, vai ter que parar!”
 
     O verso acima pode ser citado como típico exemplo do que ocorre na maioria das rodas de capoeira, espalhadas por todo o nosso território tupiniquim e que também atravessa oceanos… 
 
     Jogar Capoeira numa roda “estranha” mais parece um desafio do que um prazer condicionado pela própria ginga. Em teoria, tudo parece sincronizado: vou para uma roda de um grupo diferente seja para me divertir, saber “como estou” numa roda alheia, conhecer novos camaradas ou – o q é mais comum – simplesmente fazer baderna.  
 
     Sabe-se que o ser humano possui em sua essência o fator de competir, isso nos faz melhores pessoas e elenca nossas capacidades de superação, concretizando, assim, nossas ambições nos mais variados campos da vida. Quando filtramos para a capoeira, algo parece incoerente.  
 
     Camarada que é camarada sabe que jogar capoeira é atividade que nunca se esgota e cada roda é uma estória nova para se viver. 
 
     Quando chegamos numa “roda alheia”, um misto de medo e desconfiança paira sobre nossos pensamentos… Mas já que “capoeira que tem sangue na veia não pode escutar um berimbau…” logo trata de ir “estudando” os movimentos e comportamentos de todos os presentes na roda, na espreita de entrar na roda. Começa a observar quem permite a entrada no jogo… os supostos “destaques” ( ou potenciais rivais, como queira ), com quem pode encontrar mais um floreio ou um jogo mais “de contato”.  
 
     O fato é que já estar jogando. O espírito capoeira não consegue se desviar do som do berimbau. O som entra diretamente no cérebro sem passar por tímpano algum. Não adianta resistir.  
 
     Jogando, tudo parece ser diferente. Afinal, está em meio “aos camaradas que não são do meu grupo” ( fique livre para interpretar esta frase ). 
 
     Num repente, em meio às negativas, rolês e aús, já buscando algum fôlego em meio ao floreio bonito e cadente, observa um “zum-zum-zum” e movimentos estranhos na roda…. 
 
     Parece que um jogo bonito e diferente não consegue agradar todos. Desperta as mais vis sensações de inveja e incapacidade de alguns naquela roda. 
 
     O jogo, até certo ponto cadente e tranqüilo, se transforma em um show de pontapés e socos. Pára a roda, Capoeira! Pois isso não é mais roda. É ringue! 
 
     O Mestre ( “Menino quem foi teu Mestre?” ) parece reger as ações dos mais “graduados’ com um olhar conivente e parcial. Lamentável se não fosse tão deprimente. O “Mestre” comandante da roda está com a sensação do dever cumprido, e depois de muita “não-capoeira”, declara: “Aqui na minha roda quem comanda sou eu! Ninguém vem cantar de galo aqui!”. 
 
     O camarada, que queria apenas uma diversão nutrida com muito axé num ambiente de outro grupo, sai com a mão na coxa dormente de tanta pancada, arrastando um pé e com uma marca de um “martelo” maldoso bem direcionado no lado esquerdo do rosto… 
 
     Esta parece ser a tônica: Competição entre grupos. E não condeno tal realidade. Mas que esta competição seja para alimentar o espírito da capoeira como um todo. Mostrando – aos grupos “rivais” – eventos bem realizados, divulgados e participativos.  
 
     E grupos com essas ações e propósitos existem muitos por todo o globo e é por essas e outras que acredito na total dissolução dos poucos grupos que remam contra a maré do desenvolvimento da capoeira. E que infelizmente, ainda mancham a imagem de uma capoeira como ferramenta de modificação social.  
 
     Pancadarias ao receber um convidado de outro grupo ou em rodas de apresentação, onde estão presentes setores sociais que já olham de forma atravessada para nossa  arte-ginga, definitivamente, não irão contribuir.  
 
 
“Pára a roda, Capoeira! Pára, vai ter que parar!” 
 
     E que o verso acima, apesar desses contratempos, venha sempre acompanhado deste outro verso:
 
“A roda não pára de jeito nenhum porque sou filho de Ogum e de meu Pai Oxalá, vamos lá!”
 
Axé, camaradas!
 
Shion
Parnaíba – Piauí

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