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A Rua e a Escola

Cultura popular é um mundo cheio de elementos, histórias e contos com valores humanos, filosóficos, melódicos, poéticos, artísticos e rítmicos que transmitem prazer, diversão, conhecimentos, lazer e também brincadeiras de mau gosto, de perversidade, que resultam, por sua vez, em castigo, dor, humilhação, vergonha e até mesmo traumas.

Entendemos que a escola deve ceder o seu espaço para a cultura popular crescer, tomar forma e corpo. Cabe ao professor, juntamente com seus alunos, selecionar, modificar e/ou adaptar os seus conteúdos que devem ser utilizados como fator didático para o ensino, preocupando-se em favorecer a compreensão, desenvolver a memória, o senso-crítico, incentivar a fantasia entre outros objetos que informam, ilustram, como fonte de conhecimento dinâmico e mutável, o qual contribui de forma fundamental para o enriquecimento do aluno e interpretação da realidade.

No espaço escolar devem transitar elementos que identificam um povo, como é o caso da capoeira, atividade que já foi considerada marginal, e que teve o seu valor reconhecido como “luta, dança e arte, folclore, esporte, educação, lazer e filosofia de vida”, segundo Hélio Campos (in Capoeira na Escola pág. 21), ao que acrescentamos ainda como terapia corporal. Da mesma forma que a capoeira, o jogo de peteca, que surgiu e desenvolveu-se no estado de Minas Gerais e até se transformou em esporte.

Citamos estes dois exemplos, não por entender ser importante para a cultura popular “crescer ou virar esporte”, mas, por ser possível alastrar-se através do incentivo a sua prática, tendo a escola como um espaço adequado para isto acontecer e tornar-se um instrumento de lazer acessível a todos, e fundamental para uma educação completa.

A Educação Física dispõe de um manancial de atividades de domínio popular, para enriquecer o seu trabalho na escola. A nossa cultura formada pelos ritmos, cantos, danças e religiosidade africanas, portuguesas e indígenas, principalmente, coloca nas mãos do educador todas as condições para o desenvolvimento de um trabalho de primeira qualidade, onde se dê importância fundamental ao lúdico, às atividades naturais, as coisas da terra. 

Danças, jogos, músicas, competições e uma gama de atividades pertencentes ao dia-a-dia da criança na rua, podem e devem integrar o programa das escolas, pois constituem as formas básicas da criança interagir com o mundo, usando o seu maior e mais importante instrumento; o corpo. Vivenciando o cotidiano da rua na escola, as crianças estarão integrando a sua realidade concreta aos conceitos, muitas vezes abstratos, que lhes são colocados na educação formal.

Essa integração do lúdico com a educação formal dá-lhes a oportunidade de terem uma educação calcada na sua realidade, inserida no contexto onde mora. Esse trabalho deve ser desenvolvido de uma forma integrada, na qual o formal e o informal complementem-se, e cada um assuma características do outro. Assim sendo, a educação será mais lúdica, proporcionando maior liberdade na escolha de suas atividades e o popular ganhará nova roupagem, adaptando-se pedagogicamente, e de forma concreta, à práxis social.

O professor deve parar para pensar e fazer o aluno pensar e refletir sobre o próprio cotidiano, pois é a história em zig-zag, e nela estão carimbados signos sociais que devem ser considerados no currículo e valorizados, enquanto conhecimento, que dialeticamente é movimento e assim sendo gera mudanças, trocas, alternativas, o novo, novos conhecimentos, novos jogos, nova cultura, novo homem, novas relações sociais.

Verdadeiras lições de vida poderão ser reconhecidas, se forem derrubadas as paredes das salas de aula, abertas as portas e janelas e, principalmente nossos olhos, ouvidos e percepções outras, que nos farão ensinar e aprender, num processo dialético onde reconhecemos que somos, participativamente, com nossos alunos, a verdadeira Cultura Popular.

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