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Aos 48 anos, Rosa Costa se torna a primeira mestra de capoeira de Santa Catarina

Mesmo com 35 anos no esporte, ela enfrentou dificuldade para conseguir a graduação

A primeira mestra de capoeira de Santa Catarina é natural de Florianópolis e moradora de São José. Rosa Cristina da Costa tem 48 anos, 35 deles se doando ao esporte e 18 ensinando crianças, jovens e idosos. O evento de graduação ocorre neste sábado (24), no Encontro Nacional de Capoeira, em São José, onde Rosa trocará a corda roxa e vermelha – de contramestra da escola Capoeira, Educação, Cultura e Arte – pela branca.

Há oito anos a roda de capoeira e o ofício do mestre de capoeira são reconhecidos como patrimônio cultural brasileiro pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Além disso, um projeto de lei do vereador Andrino de Brito está tramitando na Câmara de Vereadores de São José para criar o Dia Municipal da Capoeira, do Mestre e da Mestra de Capoeira na mesma data em que Rosa vai se formar.

O primeiro contato de Rosa da Costa com a capoeira foi aos 13 anos, incentivada por um cunhado, quando assistiu a uma roda na Berimbau de Ouro, academia pioneira no ramo em Florianópolis, pertencente ao mestre Pop. Ela sempre gostou de esporte, e quando decidiu fazer capoeira a família entendeu como sendo “só mais um”. Mas a diversão tomou outros rumos, e hoje, além de esporte, é a profissão e a vida da capoeirista.

O jogo/luta/brincadeira é originário do século 17 e um dos maiores símbolos da identidade brasileira, presente em todo território nacional, além de ser praticado em mais de 160 países, segundo o Iphan. Em Florianópolis, a capoeira chegou na década de 1970, e nessa época, a mesma em que Rosa começou, apenas três mulheres praticavam – e a inspiraram. Depois disso, suas referências passaram a ser masculinas, porque as mulheres não resistiam nos grupos, já que o esporte é predominantemente masculino.

Depois de treinar até o final dos anos 80, Rosa se arriscou no bicicross, se formou em pedagogia e educação física, fez pós-graduação e começou a dar aulas. Ela não aguentou ficar longe da capoeira, e ainda viu que o esporte poderia ser ensinado dentro das escolas. Nesse período, a capoeirista passou pelos grupos Nação, Au e pelo projeto Capoeira na Escola.

Atualmente, a até então contramestra dá aulas de capoeira na Apae de São José, no CAT (Centro de Atenção à Terceira Idade) e em seis escolas do município, e cada grupo ela afirma proporcionar um aprendizado diferente. “Meu público é diversificado, nos idosos é maravilhoso ver uma senhora de 70 anos brincando em uma roda. É claro que ela não vai ser uma exímia capoeirista, no formato que a sociedade impõe, mas ela está ali, inserida, se sentindo importante, as pessoas olhando para ela com carinho, respeitando, o que para mim não tem preço que pague”, justifica ela. Na Apae, a proposta é diferente. “Eles dão uma lição na gente o tempo inteiro, trazem alegria, é uma energia sincera, tem muito amor naquelas pessoas. Quando eu comecei tive receio sobre como atuar, mas foi algo fenomenal que eu não quero parar”, diz.

Mas é na escola que Rosa vê um retorno direto do que faz, muito além da profissão como educadora, mas como ser humano. “Minha alegria é ver aquela criança que passou pelas minhas mãos dizer que o que eu falei na aula ela levou para a vida. Que está estudando, trabalhando, nunca se envolveu com drogas, sabe discutir política, é honesta e respeita os outros. É incrível saber que você colaborou de alguma forma usando a capoeira como ferramenta para auxiliar alguém”, sintetiza.

Dúvidas e muito preconceito

Rosa Cristina da Costa afirma que o caminho até o título de mestra não foi fácil. Prova disso é que um homem capoeirista chega ao título máximo com 15 anos de experiência, enquanto ela, após 35 anos no esporte, ainda vê pessoas que conhecem seu trabalho duvidando do merecimento que reclama e persegue. “Ainda existe uma exigência muito grande do homem em enxergar a mulher no mesmo nível que ele, sentar na mesma mesa, conversar com igualdade, cantar, tocar, é muito preconceito. Por isso, poucas mulheres resistem às barreiras, como confrontar com o homem na roda para eles falarem que é boa e treinada. Poucas aguentam esse confronto diário”, aponta.

O título finalmente chegou este mês, pois, segundo ela, com o tempo o trabalho vai sendo reconhecido, divulgado, e aí chega um momento em que a sociedade capoeirística começa a chamar de mestre. “Acontece também de um mestre que te conhece e acompanha o teu trabalho falar que está na hora. Quem me chamou e disse isso foi o mestre Gringo, de Lages, que tem mais de 40 anos de experiência”, explica.

Rosa é determinada, afirma que confronta os homens, discute na roda e isso os incomoda, mas diz que é preciso se mostrar firme para provar que também tem qualidade, que estuda, que viaja o país pela capoeira e que procura passar as informações para os alunos da maneira mais adequada.

Perguntada sobre o que vai mudar com o título em mãos, Rosa diz que a responsabilidade será sempre a mesma, a diferença é que agora ela vai poder sentar à mesa de um evento com vários homens mestres e colocar sua opinião. “Sempre falo que agora é que eu vou aprender. Agora, não chegou o fim de nada. Agora é a parte mais difícil, o começo de tudo”, conclui.

 

Fonte: http://ndonline.com.br

KARIN BARROS, FLORIANÓPOLIS 

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