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Comunidade & Capoeira: Os contrastes de um bairro-cidade

Em um complexo emaranhado de contextos e realidades sociais, Cajazeiras, que tem uma população superior à de Feira de Santana – segunda cidade mais populosa da Bahia – e o local é conhecido como o maior conjunto habitacional da América Latina, a capoeira caminha lado a lado com o social, ajudando a educar e ocupar os jovens habitantes do conjunto… como nos ensina um grande Mestre de Capoeira: "A Capoeira é uma escola de Cidadania".

Luciano Milani

 

Os contrastes de um bairro-cidade

Cajazeiras é praticamente uma cidade dentro de Salvador. São mais de 670 mil habitantes dispostos entre as 11 Cajazeiras e as quatro Fazendas Grandes . A população é superior à de Feira de Santana – segunda cidade mais populosa da Bahia – e o local é conhecido como o maior conjunto habitacional da América Latina. São incontáveis setores, quadras e blocos capazes de confundir até mesmo os moradores mais antigos. A região também se confunde com localidades como Águas Claras e Boca da Mata, devido à proximidade geográfica.

Sua construção começou em 1982, no governo de João Durval Carneiro (1983-1987), apesar de a pedra fundamental ter sido colocada no governo de Antonio Carlos Magalhães (1979-1983). As terras, antes ocupadas por três grandes fazendas: Jaguaripe de Cima, Fazenda Cajazeiras, Fazenda Boa União e Chácara Nogueira, foram desapropriadas para dar lugar ao Projeto Urbanístico Integrado de Cajazeiras. Foram erguidas 18.523 habitações populares.

Hoje, quem chega ao bairro se depara com uma grande quantidade de igrejas, estabelecimentos comerciais (supermercados, faculdade, shopping, lanchonetes, lojas de autopeças, hospitais, etc.) e, também, com muitas invasões espalhadas por vales e encostas ao redor dos conjuntos habitacionais. Para o responsável pela Administração Regional (AR XIV), José Miguel dos Santos, essas ocupações “são um sofrimento para Salvador”, pois são construídas sem qualquer ordenamento do solo e contribuem para aumentar consideravelmente o problema de saneamento básico no bairro.

ALEGRIA – Moradora do conjunto habitacional de Fazenda Grande I, Setor III, desde 1985, Telma Rita Salgueiro não enfrenta essa dificuldade. Apesar de reclamar do atendimento nos postos de saúde e da questão do transporte para outras áreas da cidade, ela revela: “Conseguir a casa própria foi a melhor alegria da minha vida”. Hoje, o apartamento de dois quartos funciona também como local de trabalho. É na pequena cozinha que Telma prepara variados doces, tortas, salgados e refeições para atender às encomendas diárias.

Se na quadra onde Telma mora a tranqüilidade comanda, a alguns metros, agitação é palavra de ordem. É na Fazenda Grande I que está localizado o Campo da Pronaica, o maior de Cajazeiras e sede oficial de eventos do bairro, como o Carnaval do bairro, o Cajazeiras Metal Fest III – que reuniu bandas locais de rock’n’roll –, a Parada Gay de Cajazeiras, feiras beneficentes, entre outros.

Além dos eventos culturais na Pronaica, os campos de futebol também se apresentam como opções de lazer para diferentes faixas etárias. Apesar dos vários campos espalhados pelo bairro, o estudante Paulo de Tarso Costa de Jesus, 14, reivindica: “O que mais queria aqui era um campo só pra gente, sem precisar disputar o espaço com os coroas”.

COMUNIDADE – Outro destaque do local é a articulação comunitária. Hoje, o bairro conta com 32 entidades filiadas à União das Associações de Moradores e Entidades Representativas das Cajazeiras e Adjacências, sob a presidência de Evanir de Araújo, 52. Segundo ele, o bairro abriga mais de 100 grupos de capoeira. Mestre Antônio, 45, está à frente de um deles, o Capoeira Zumbi Guerreiro. Aproximadamente 30 meninos e meninas, com idades entre 6 e 20 anos, participam do grupo, cujos treinos e rodas acontecem nas salas do Colégio Estadual Edvaldo Brandão Correia, em Cajazeiras IV. “A capoeira tira a gurizada das drogas”, destacou o mestre.

O capoeirista Anailton Correia, 20, concordou: “A capoeira é cultura, é arte e dá uma ocupação para os jovens não ficarem nas ruas”. Para o jovem, o que falta é reconhecimento, por parte da comunidade, da importância da capoeira para o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes.

De acordo com Luiz Carlos Pinto, presidente da Associação de Moradores de Cajazeiras IV (Amcaj IV), o apoio da comunidade também é fundamental para fortalecer os projetos sociais executados em Cajazeiras. Um exemplo é o programa Escola Informática e Cidadania, que, de acordo com Evanir de Araújo, já capacitou mais de 400 jovens este ano. “Os alunos que podem contribuem com R$ 10”, disse Araújo.

Outro projeto que contribui para a melhoria das condições de vida dos moradores de Cajazeiras é a unidade da Fundação Bradesco, implantada no bairro há 22 anos. Segundo a diretora Jane Eachimenco, 11.837 jovens e adultos já se formaram nos cursos profissionalizantes da entidade; 3.301 estudantes, nas turmas de ensinos fundamental e médio; e 184 alunos em cursos técnicos.

Fernando Vivas / Agência A Tarde – http://www.atarde.com.br

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