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Eleições 2006, já há dois mestres candidatos ao legislativo

Este ano de 2006, ano eleitoral, se iniciou em meio às "costuras", as composições em cada e entre os diversos partidos. Candidatos-a-candidatos se movimentam. Do mundo da Capoeira diversas pessoas vêm sendo contatadas por integrantes de algumas agremiações, para apoiá-los, inclusive dentre nós do Projeto Zumbi na Roda, pela proximidade e pelo enfoque que fazemos: o negro.
 
Mestre Marquinhos, de São Paulo, figura conhecida por sua dedicação à Capoeira, e também pela sua atuação político-partidária, vem sendo apontado por diversos integrantes do folguedo, para candidato a Deputado Estadual. Neste universo de 600 mil "capoeiras" na Grande São Paulo, é o início de uma representação da Capoeira e folguedos afins, sem dúvida.
 

MESTRE MARQUINHOS: CANDIDATO A DEPUTADO ESTADUAL
 
                        De fora dos cercos capoeirísticos o Sr. Roberto Santiago, pessoa que tem se interessado e mesmo apoiado eventos sociais, culturais e políticos, como o III Congresso Estadual de Capoeira, vem sendo lembrado para uma possível composição – Federal/Estadual, com alguém da Capoeira. Dia 16 de janeiro um grupo considerável de pessoas – "capoeiras" ou não – propôs a Mestre Marquinhos uma sondagem ao Sr. Roberto Santiago, face a sua possível candidatura a Deputado Federal. Os "capoeiras" que lá estiveram não se continham de contentamento, com os comentários, em forma de notícia, de que Mestre Marquinhos sairia candidato a Deputado. Eram tantos os convidados e consequentemente tantas as conversas entre os "Capoeiras" que esgotara-se o dia sem que todos fossem recebidos pelo Coordenador do encontro. Defendia-se a candidatura de "Mestre Marquinhos na condição de Mestre do "historicamente temido folguedo" -"Um parlamento em Roda…" dizia-se, na expectativa de outras candidaturas. Houve até quem entoasse: "Olha o negro, olha o negro – olha o negro meu senhor!…", como mote da futura campanha. E conjecturas várias.
 
                        O INÍCIO DE UM NOVO MOMENTO
 
                        O Projeto Zumbi na Roda (que nada tem de filantropia) é uma ação de intelectuais (de auto-didatas, estudantes, a bacharéis), simpatizantes da Capoeira, praticantes ou não, com vistas a desenvolver atos educacional, cultural e político voltados para a integração do negro brasileiro. Neste sentido nós, do Projeto Zumbi, vemos com muito entusiasmo este gesto tanto do Sr. Roberto Santiago, em particular; quanto das respectivas agremiações, no geral, em admitir a parceria. Mesmo porque é sentimento hoje, entre Mestres e "capoeiras" diversos – "a Capoeira é grande demais pra ser cabo eleitoral de quem quer que seja", de um lado; de outro, a Capoeira é a Instituição mais velha desta Terra", é preciso que outras agremiações partidárias sigam esse espírito de reconhecimento, de grandeza,.
 
         O Projeto Zumbi na Roda, defende a conscientização do Povo Brasileiro de que o Estado Brasileiro tem origem ilegítima e que exerce o Poder de forma ilegítima. O Estado se originou com base na anterioridade, e vem se "reformando" com base na anterioridade – "na "coisa" adquirida": desde o espólio das Capitanias Hereditárias, em 1560; Com base naqueles princípios o negro continuará escravo, já que era escravo em 1560. Defende-se que se re-divida a riqueza, se re-defina os interesses, se partilhe o poder – que se inclua o negro na História. Defende a gerência do estado – dos eleitos aos de ofício, de quaisquer instância e poder – dividida proporcionalmente entre os negros.
 
            BRANCO VOTA EM NEGRO
 
            Da participação do Mestre Marquinhos, como "Capoeira" e como negro, fará com que outros partidos convidem outros negros, dos mais diversos segmentos, inclusive da Capoeira. Independente de quantos negros venham ser eleitos, é preciso que alguém – branco ou negro – seja eleito – como negro. Não se defende uma camisa de força – capoeira vota em capoeira; negro vota em negro. Não. Defendemos que se vote pelo Brasil. Pelo Brasil misturado como ele é. Mas, a lógica, a prática tem sido – branco vota em branco e negro também vota em branco, como que "obrigatório", face a ilegitimidade da herança histórica. Desta nova postura haverá o inicio da compensação, ou melhor da mistura – que negro vote em negro, mas que – e principalmente, que: branco também vote em negro. No dia 20 de Novembro, na Roda da Praça da República havia uma faixa oferecida pelo Grupo Baraúna, do Mestre Rosa que dizia – "Nos fizemos brancos no saudar para entrar na Roda; nos fazemos negros, no abraço ao sair da Roda…Somos Capoeiras, somos apenas brasileiros". É com este espírito que deve ser entendida esta e outras candidaturas originárias do meio da Capoeira. A História da evolução das eleições no Brasil é a história do descaso reservado ao negro brasileiro, notadamente à "má fama" do capoeira – o sucesso ou insucesso dos comícios estava ligado ao "tipo de serviço" a que fossem "dados" aos contingentes de capoeiras. É esta também a História do conceito do Legislativo Brasileiro, em particular. É consenso entre nós, de que a era "serviços das maltas", serviços dos "abre alas", reservada a capoeiras e negros no geral, nos orgulha, (apesar de tudo),  mas que seja  História, apenas.
 
            E, ENTRE OS "CAPOEIRAS"
 
                        "Fico feliz, muito feliz", disse Mestre Rosa, "no que pese eu próprio ser candidato-a-candidato a Dep. Estadual, fico feliz por ter Mestre Marquinhos na outra ponta, é como se estivéssemos entrando numa Roda". E continuou o democrático Mestre Rosa, "vou até torcer para que nossas agremiações formem aliança". E deitou elogios a Mestre Marquinhos, nesta convicção de irmandade que só se ver no seio da Capoeira.
                        Já é enorme o rol dos Mestres, e praticantes que têm manifestado apoio ao fato, tanto às possíveis candidaturas destes Mestres, quanto ao gesto do Sr. Roberto Santiago e a torcida para que outras surjam de diversas regiões de São Paulo, "mas também por todo o Brasil, especialmente na Bahia, onde mesmo com tanto feito do negro baiano, o exercício do poder é tal qual no Rio Grande do Sul, por exemplo", espera Mestre João Coquinho do Grupo Berimbau Brasil.
                        "Há bancadas de tantos os segmentos econômico-sociais nos parlamentos, aqui, como no mundo. No Brasil está faltando a bancada do berimbau. O mesmo Berimbau que "nos alegra" desde o Natal de frei Fernão Cardim, em 1530", reclama  Andrea, viúva de Mestre Natal.
 
André Pêssego – Projeto Zumbi na Roda.

Jornal do Capoeira – www.capoeira.jex.com.br
Edição 59 – de 05 a 11/Fev de 2006
Por Andre Pêssego
São Paulo, capital
Fevereiro, 2006
 

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