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Estudo Sobre Toques de Berimbau

  • Estudo Sobre Toques de Berimbau
Francisco Ferreira Filho Diniz
Professor de Educação Física
O berimbau é um instrumento que foi adotado pelos capoeiristas como o principal regente da orquestra da capoeira. Antigamente o atabaque era quem ditava o ritmo.
Estamos pesquisando os toques abaixo relacionados procurando associá-los ao jogo correspondente conforme descrição de Mestres, através de literaturas aqui citadas, (ver bibliografia) bem como através de entrevistas.
ANGOLA- Toque lento e cadenciado. Serve para jogo rente ao chão, lento e malicioso (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 03).
BANGUELA- Jogo de dentro com faca – segundo Carybé em citação de Nestor Capoeira no livro: Os fundamentos da Malícia, ed. Record, pág. 119.
SÃO BENTO PEQUENO – Também chamado de "ANGOLA INVERTIDA" – Toque para um jogo amistoso, muito técnico (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 04).
SÃO BENTO GRANDE  DE  ANGOLA –
SANTA MARIA –
APANHA LARANJA NO CHÃO TICO-TICO – toque para o jogo de apresentação em que os capoeiristas apanham dinheiro no chão com a boca (Revista Praticando Capoeira, ano I – n º 02, pág. 07).
AVISO – Toque para denunciar a presença do senhor de engenho, capitão do mato ou capataz (Revista Praticando Capoeira, ano I – n º. 02, pág. 07). Segundo dizem os capoeiristas mais antigos, servia para avisar aos escravos da presença do feitor ou capitão-do-mato (Mestre Bola Sete, em: Capoeira Angola na Bahia, pág. 66, ed. Pallas, RJ, 1997).
CAVALARIA – toque que imita o trotar do cavalo, avisando que há polícia nas proximidades. Esse toque foi criado por volta de 1920 para avisar a chegada da cavalaria de "Pedrito", um temido delegado de polícia que perseguia os capoeiristas (Revista Praticando Capoeira, ano I – n º 02, pág. 07). Antigamente servia para avisar aos capoeiristas, da presença da Cavalaria da Guarda Nacional (Mestre Bola Sete, em: Capoeira Angola na Bahia, pág. 66, ed. Pallas, RJ, 1997).
Capoeira Regional
Os toques de Regional inicialmente eram acompanhados por uma bateria inconstante que se apresentava de acordo com a decisão do Mestre Bimba, podendo conter um, dois ou três berimbaus. Tempos depois por sugestão de Decânio, a charanga resumiu-se a um berimbau e dois pandeiros.
AMAZONAS – criação de Bimba, era dificílimo de acompanhar tal a riqueza de ritmos, a sutileza das variações melódicas; poucos capoeiristas conseguiam obedecer aos seus comandos, mais raros ainda os que conseguiam executá-lo no berimbau.
Amazonas é um toque festivo para saudar mestres e visitantes. É chamado de hino da capoeira (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 05).
BANGUELINHA – Jogo de dentro, colado, corpo a corpo, treinamento para defesa de arma branca.
BANGUELA – Jogo de dentro, colado, corpo a corpo, treinamento para defesa de arma branca.
Benguela – Toque para jogo compassado, curtido, malicioso e floreado (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 05).
CAVALARIA – Jogo duro, pesado, violento.
IDALINA – jogo alto, solto, manhoso, rico em movimentos.
Idalina – Apresentação de jogo com facas, facões, porretes (Revista Universo Capoeira, ano I, n.º 03, agosto/99).
Idalina – Toque para jogo de navalha (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 03).
IÚNA -Jogo baixo, manhoso, sagaz, ardiloso, coreográfico, exibicionista; retorno ao estado lúdico.
Iúna – Só para formados e mestres com movimentos de balões (Revista Universo Capoeira, ano n.º 03, agosto/99).
SANTA MARIA – Toque simples, porém rápido; permite jogo solto e alto aceitando bastante floreio.
Santa Maria – Jogo com navalhas (Revista Universo Capoeira, ano n.º 03, agosto/99).
SÃO BENTO GRANDE DE REGIONAL – Jogo ao estilo regional: forte, rápido, mais para violência que para exibicionismo; viril sem perder a malícia.
SÃO BENTO PEQUENO DE REGIONAL – São Bento Grande às avessas; um jogo mais suave, corpo a corpo, aceitando mais deslocamentos e malícia.
NOTA: As explicações feitas aqui, dos toques que estão SUBLINHADOS e em ITÁLICO, referentes a Capoeira Regional foram retiradas do livro de Ângelo Decânio: A Herança de Mestre Bimba, págs. 183 e 184.

Outros Toques de Berimbau
 
Angola em Gegê –
 
Angola Santo Malandreu – Criação de Silvio Acarajé, uma ladainha, uma preparação para o início do jogo de capoeira (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 06).
 
Angolinha –
 
Assalva –
 
Ave-maria – Toque com início lento, demonstrando equilíbrio e conhecimento da arte (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 08).
 
Barravento – Toque rápido, bonito e agradável de se ouvir, em que o solista demonstra os infindáveis recursos de repique que há no berimbau. O jogo é solto, muito à vontade; é uma demonstração de alegria (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 08). É apropriado para o desenvolvimento do jogo em ritmo acelerado (Mestre Bola Sete, em: Capoeira Angola na Bahia, pág. 65, ed. Pallas, RJ, 1997).
 
Toque Capoeirarte –
 
Capoeirarte – Criação do Prof. Francisco em 27/09/1998 para exposição individual, no início ou final da roda.
 
Dandara – Criação de Silvio Acarajé em homenagem às mulheres que praticam capoeira. Dandara, de acordo com os registros de Palmares, foi o grande amor de Zumbi, o rei do Quilombo dos Palmares (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 06).
 
Estandarte –
 
Gegy – É um toque vigoroso. O jogo da capoeira é em angola, a diferença está no toque do berimbau, no repique, onde predomina a influência do Gegy-Nagô (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 06).
 
Ijexá –
 
Jeje (Gegê) –
 
Jeje-ketu –
 
Maculelê –
 
Muzenza – Toque originário do candomblé, criado pelo Mestre Canjiquinha. Na capoeira demonstra-se desprezo pelo adversário (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 08).
 
Samango (homem preguiçoso) – Criação de Canjiquinha. É lutado de lado, tem a presença de poucos movimentos. Sua característica de manifestação é a chapa giratória, a chapa de lado, rasteira e vôo do morcego (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 04).
 
Samba de Angola – é usado quando se dança o samba de roda ou o samba duro (Mestre Bola Sete, em: Capoeira Angola na Bahia, pág. 66, ed. Pallas, RJ, 1997).
 
Samba de roda –
 
Samba duro –
 
São Bento Grande Gegê –
 
Sete de Ouro –
 
Signo-Salomão (Cinco Salomão) – utilizado para denunciar a presença de estranhos na roda de capoeira (Mestre Bola Sete, em: Capoeira Angola na Bahia, pág. 66, ed. Pallas, RJ, 1997).
 
Comentários
 
Na realização dos toques de berimbau destinados à capoeira é interessante lembrar que não há consenso entre mestres e grupos. Em parte, isso é bom pois mostra a complexidade e sua riqueza, exigindo do capoeirista disposição para o estudo e aprofundamento sobre o assunto. Nestor Capoeira cita, no seu excelente livro "Fundamentos da Malícia, ed. Record", uma preleção de Mestre Morais em 1984 onde alguns toques são apresentados de forma diferente. Os toques de São Bento Pequeno e São Bento Grande por exemplo, são tocados de uma forma que eu, particularmente, desconhecia.
Mestre Bola Sete dá uma explicação diferente (da que eu conheço) sobre os toques de Santa Maria, Amazonas, Idalina, Benguela, e Yuna. Em seu livro Capoeira Angola na Bahia, ed Pallas, pág. 68, ele comenta: "O toque de São Bento inverte o toque de Angola; o toque de Santa Maria inverte o toque de Benguela e o toque de Amazonas (jogo de dentro) inverte o toque de Idalina (jogo de fora). O toque de Yuna deve ser executado apenas pelo berimbau viola".
Longe aqui de querermos determinar o que é certo e o que é errado. Queremos mesmo é refletir sobre a maneira de cada mestre ou grupo executar determinados toques e concluir que esta maneira peculiar de cada um precisa ser preservada. Assim diríamos: o toque de Santa Maria da linhagem de Caiçara é… ou, Santa Maria executado na linhagem de Morais é… o toque de benguela segundo Bimba é… cavalaria ensinado por Mestre Nô é …
Aparentemente temos a impressão de uma grande confusão, mas na verdade isso mostra o quanto é difícil estudar a capoeira sem dar aos seus conteúdos um caráter conclusivo, especialmente o seu lado musical.
 
 
 
 
Francisco Ferreira Filho Diniz
Professor de Educação Física

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