Mudar… para viver!
Mudar… para viver!
“Acreditamos que o desconforto ao se falar de arte (…) se estabelece também por uma dificuldade de dar nome a determinados sentimentos gerados na recepção artística”. (pag. 105, vol. I, nº 3) VIVIANE DA SOLEDADE, in revista “Intercâmbio”, SESC-RJ, out. 2013.
A expressão milenar “MUTATIS MUTANDI” significa “mudando o que deve ser mudado”… para que tudo continue o mesmo, acrescentaria a maioria. Esse provérbio latino (ou romano) era um da centena de “ditados” que os estudantes dos anos 50/60 precisavam decorar, levando-os vida a fora, inutilmente. ‘Mudar pra progredir” é a idéia-chave em quase todos os setores, a mola-mestra do sucesso em inúmeras atividades. Nos esportes é EXIGÊNCIA, antigas práticas e técnicas vão sendo superadas, recordes batidos, marcas e limites “dinamitados”.E como ficam os diversos Folclores frente a essa visão modernizante, modificadora, “desconstrutora” de tradições, costumes, modelos centenários ?! “Não ficam”… adaptam-se, mesmo que desnecessário, simplificam roupas e adereços (ou o inverso, quase sempre), reorganizam-se (?!) sem dramas nem sacrifícios, substituindo velas de cera ou parafina por lanternas de pilha, cavalos por motos, trocando atabaques de madeira rija por “tamborins” de compensado fino e “pele” plástica.
A Capoeira — que é Dança — “entra nessa dança” sem medir as consequências, a parte “Esporte” silenciando ou sufocando o lado “Folclore”, o caráter DE ARTE, seus aspectos de Música e Canto. Em Belém a antiga Quadrilha Junina tradicional, definida como “caipira”, desapareceu, parece extinta. Nada de calça com remendos nem camisa xadrez… chapéu de palha, nem em sonhos ! Vemos agora roupas espalhafatosas, estapafúrdias, quase absurdas: princesas “indianas” e príncipes “espanhóis” com calça justa de toureiro e faixa na cintura. Houve época que vi “fantasia” usando CDs costurados às saias das mocinhas, Secretarias “disso e daquilo” apoiando e incentivando tais sandices.O que sobra do Folclore quando viramos as costas aos costumes e tradições herdados dos antepassados ? Quase nada… só o NOME, diria eu ! Para onde vai a Capoeira, se continuarmos a MODERNIZÁ-LA ? Para lugar nenhum, ficará irreconhecível de tão descaracterizada !
Vejo vídeos de Capoeira na Internet… deveriam ser os MAIS BONITOS, os mais folclóricos, os mais ARTÍSTICOS, voltados às tradições que a fizeram surgir ! E o que se vê ?! Os “nocautes” mais rápidos… 29 TIPOS de “negativa” ou ainda 32 “estilos” de AÚ; uma Angola jogada de bermuda, sem camisa, um deles com latinha de cerveja na mão, as cuecas aparecendo. Tem mais, muito mais, tudo MUITO RUIM, esquecendo todos que tais imagens VÃO PARA O MUNDO agora, não ficam somente na sua academia, no seu Grupo, na sua cidade. Uma coisa é se “recuperar” imagens precárias do Passado, com suas falhas de som, de canto, toques ou mesmo jogo… outra bem diferente é gravar vídeo recente do qual NADA se aproveita, só DENIGRE nossa Arte, aliás Dança, digo, ESPORTE. Depois de avançar tanto, espraiando-se pelo Mundo, vemos hoje os novos “capoeiras” demolindo 30 ANOS de construção dela. Eu disse… novos ?! Pois há também ANTIGOS, boa parte mestres, mostrando “o que não se deve fazer” numa Roda quando tem alguém filmando. E quase sempre tem ! Pior do que isso, temos vídeos caseiros feitos por “pernas de pau” (e cara, também), exemplos muito ruins, a ponto de um “capoeira” jovem comentar abaixo de um deles:– “Tá de sacanagem, velhinho” ?!
Ainda vamos DESTRUIR por completo nossa Capoeira ! Quem viver, verá !
“NATO” AZEVEDO (em 30/junho 2021, 22hs)
