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Velho Mestre de Capoeira é barrado pela Imigração Norte Americana

Ele nasceu em 1945 e foi batizado Norival Moreira de Oliveira, mas o vasto mundo da capoeiragem o conhece pelo nome do batismo na arte afro-brasileira, nascida nos canaviais do recôncavo baiano: Mestre Nô. É esta sua profissão, mestre de capoeira. Desde menino na periferia de Salvador, levou a capoeira a sério, ainda em tempos moldados pela forte memória cruel da escravidão: “por favor não maltrate este nego / este nego foi quem me ensinou / este nego da calça rasgada / camisa furada é o meu professor”. Mas, a capoeira começa a vencer uma das lutas pela arfirmação de uma cultura que construiu as estruturas da sociedade brasileira.

Recentemente a capoeira foi tombada como patrimônio imaterial, do país do carnaval, do futebol, do café, do cacau, da cana-de-açúcar, da soja, do biocombustível. Do país que também exporta aviões para o mundo. Só para citar um exemplo da contemporaneidade. Mas, a capoeiora é, com certeza nosso mais singular produto de exportação.

Levada pelos velhos mestres desde a decada de 1970, hoje a luta-arte afrobrasileira é praticada em todos os continentes. È um potente veículo de expansão de nossa língua, nossa forma de viver, que está na moda porque contem tudo que o mundo moderno necessita: alegria, solidariedade e respeito aos mais velhos; disciplina sem autoritarismo. É o lado positivo da nossa sociedade, com desigualdades sociais e realidades que ao contrário da capoeira, não são exemplos.

Mestre Nô é pioneiro em tudo; em 1990 foi um dos convidados, – juntamente com Mestre João Grande, Lua de Bobó e Cobrinha – pelo hoje professor da Templo University da Philadelfia, para se apresentar no festival de arte negra em Atlanta, nos Estados Unidos. Nunca mais deixou de estar presente naquele país e, ao longo de quase três décadas, foi convidado a formar grupos em Seattle, Orega, Portlan, Iwoa, Boston, New York, Lineapolis, Itaca e Omaha.

Seu pionesirismo para o mundo exigente da capoeira, com normas sofisticadas de hieraquia, foi ter formado em mestre de capoeira, o primeiro aluno estrangeiro a receber este título: Michael Z. Goldeinsten, na capoeira mestre Ombrinho, que é norte-americano, mas só recebeu o diploma depois de vir morar no Brasil por alguns anos, em várias fases; e depois de vinte e quatro anos dedicados a capoeira. Ombrinho teve que entrar na mata tropical e saber colher uma beriba; fazer caxixi, tocar pandeiro de couro de cobra, como antigamente. Com a capoeira aprendeu nosso idioma, que fala com desenvoltura.

No mundo, Mestre Nô tem alunos na França, Inglaterra, Itália, Austrália e Israel. Visita todos os grupos uma vez por ano, para fiscalizar o desenvolvimento dos discíplos. Mas, seu reduto é na Boca do Rio. Bairro de pesacdor quando mestre Nô lá chegou e construiu sua academia que recebe alunos de todo o Brasil e do mundo. Muitos se hospedando em seu espaço, porque fazem questão de conviver com o cotidiano do mestre.

Depois de ter em seus passaportes mais de cinquenta carimbos de entrada e saída em território norte americano, este ano em junho, no aeroporto de Newark na Grande Nova York, em New Jersey, mestre Nô, embora tratado com educação e respeito, não pôde encontrar seus alunos que o aguardavam, para ser homenageado em eventos organizados por eles.

O mestre que ajudou a educar centenas de jovens americanos, teve seu visto cancelado e foi obrigado a voltar. Além dos danos morais, o velho mestre que em suas andanças não percebeu o glaucoma que sofria, teve o prejuízo das despesas da viagem, pois os dois telefonemas a que teve direito, enquanto estava no aeroporto, não solucionaram sua entrada. Michael Goldeinsten, mestre Ombrinho que o esperava, estava sem um aparelho celular, não pôde portanto providenciar um advogado.

No documentário de minha autoria, Mandinga em Manhattan, – sobre a internacionalização da capoeira, gravado em 2005 e patrocinado pelo Ministério da Cultura, Fundação Padre Anchieta e IRDEB, já temos mestres da Bahia apelando para o Itamaraty; para que as autoridades do Ministério das Relações Internacionais e Fundação Palmares, tomem providências no sentido de identificar estes mestres, encontrar formas diplomáticas, para que eles possam levar nossa cultura, respeitando o desejo destes grupos, que o aguarda com alegria e reverência.

Mestre Nô é vice-presidente da Associação Brasileira de Capoeira Angola, com sede na Rua Gregório de Mattos no coração do Pelourinho, que defende e preserva os preceitos da capoeira tradicional. A ABCA, pede a todas as instituições e organizações dos direitos civis, apoio ao seu diretor jurídico, o advogado e ex-defensor público geral do Estado da Bahia, Genaldo Lemos Couto, que está redigindo cartas ao Itamaraty e Ministério da Cultura, no sentido de que os mestres de capoeira, de todos os seguimentos, que comprovem a existência de grupos iniciados por eles, onde desenvolvem um trabalho com a capoeira, ou tenham convite de para ir ao exterior participar de eventos e como sempre acontece, ser homenagado, recebam um passaporte de convidado e tenham suas entradas nestes países facilitadas e respeitadas.

Lucia Correia Lima *

Diretora de Projetos e Comunicação da Associação Brasileira de Capoeira Angola.

Elaborando o livro “Mandinga em Manhattan”, que pretende corrigir as falhas do documentário. Um projeto do edital Capoeira Viva, Ministério da Cultura e Fundação Gregório de Mattos.

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