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Debate na Rio +20 relembra trabalho escravo que recuperou a Floresta da Tijuca

A Rio+20, Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, começou oficialmente na quarta-feira (13) e todas as atenções já estão voltadas para os debates e propostas que devem definir a agenda do desenvolvimento sustentável e da proteção ao meio ambiente para as próximas décadas.

Há 151 anos, muito antes de se pensar em uma conferência dessa abrangência, o Brasil já dava exemplo com um dos casos mais bem sucedidos de ecologia e recuperação: o reflorestamento da Floresta da Tijuca, que após anos de desmatamento, principalmente devido ao plantio de café, foi reflorestada graças ao trabalho iniciado por apenas seis escravos.

Comandados pelo Major Gomes Archer, primeiro administrador da Floresta, esses homens plantaram, entre 1861 e 1872, mais de 100 mil mudas no que depois viria a se tornar o Parque Nacional da Tijuca, um território com mais de 3953 hectares – área que corresponde à cerca de 3,5% da área do município do Rio de Janeiro.

Restauração da natureza – Pensando em relembrar ao mundo esse momento da história, o Ministério da Cultura (Minc) apresentará, no próximo domingo (17), às 16h, a mesa de debate “O Reflorestamento da Floresta da Tijuca: modelo de restauração da natureza”. O evento acontece no Galpão da Cidadania, um espaço voltado para debates sobre a importância da cultura como eixo estratégico do desenvolvimento sustentável.

Segundo Carlos Fernando Delphim, coordenador do Patrimônio Natural – IPHAN, o objetivo do evento é homenagear e relembrar os escravos que trabalharam para que a cidade do Rio de Janeiro não ficasse sem água. “Mais do que recordar a recuperação realizada na Floresta da Tijuca, nós pretendemos mostrar que seis escravos fizeram o mais lindo, mais raro e mais bem sucedido trabalho que nós já tivemos nesse segmento. A Tijuca só é lembrada pela parte bonita, da floresta artificial, mas e quem plantou todas aquelas árvores? E o valor do trabalho dessas pessoas?”, questiona o arquiteto.

O presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Eloi Ferreira de Araujo, que também participará do debate, destaca que a recuperação da Floresta da Tijuca “foi uma iniciativa no século XIX que exemplificou a necessidade de se agir rápido para a sustentabilidade do planeta e no combate aos danos ao meio ambiente. Os negros escravos tiveram uma contribuição especial para a preservação ambiental da Floresta da Tijuca, o que demonstra a intensa participação do negro na história do Brasil e que ainda é pouco conhecida”.

Para Carlos Alberto Xavier, do Ministério da Educação, não se pode permitir que a participação da população negra na construção do Brasil fique para trás e se perca no tempo. “Quando falamos de escravidão, temos que lembrar que as grandes obras que hoje fazem parte do nosso patrimônio cultural nasceram das mãos de negros, como o Parque Nacional da Tijuca, que nasceu de uma paisagem natural reconstruída pelo homem negro”, afirma.

Maior floresta urbana do mundo – Ao longo dos séculos XVII e XVIII, a área onde hoje fica o Parque Nacional da Tijuca foi, em sua maior parte, devastada através da extração de madeiras e da utilização em monoculturas, especialmente o café, gerando sérios problemas ambientais à cidade.

Em 1861, após uma iniciativa de conservação ordenada por D. Pedro II, comandada pelo Major Gomes Archer e executada por apenas seis escravos, um processo de reflorestamento que plantou cerca de 100 mil mudas ao longo de uma década propiciou a regeneração natural da vegetação.

Graças ao trabalho de restauração realizado no século XIX, a Floresta tornou-se, posteriormente, um Parque Nacional tombado pelo IPHAN, foi declarada Patrimônio Natural Mundial pela UNESCO como Reserva da Biosfera e hoje é conhecida como a maior floresta urbana do mundo.

http://www.palmares.gov.br

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