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Lapão: Capoeira muda vida de Jovens

Mestre Índio Brasil, amor e dedicação pelo gingado da capoeira: Mesmo com poucos recursos, o esporte nacional de influências africanas muda a vida de jovens em Lapão

Vestidos de abadas brancos com um cordão colorido na cintura vêm chegando um exército da paz, munidos com um berimbau, atabaque, pandeiro, e no compasso das palmas, começam a cantar:“O berimbau tá tocando / A roda tá se formando / O meu mestre tá chamando / Quero ver quem vai jogar / O berimbau / É um jogo de inteligência / Esse jogo tu tem que estudar / Ponto fraco, também ponto forte / Para o adversário você derrubar / Ô berimbau!”.  E assim, começa mais uma roda do grupo internacional de capoeira Jacobina Arte, em uma aula ministrada em praça pública, pelo professor Índio Brasil em Lapão.

Mudando Vidas: O professor Índio Brasil, vem desenvolvendo um trabalho interessante em Lapão. Com poucos recursos, porém com muita dedicação, ele implementa a arte nacional com influências africanas na cidade e essa ação vem mudando a vida de muitos jovens, oferecendo para cada um, conceitos sólidos de irmandade, disciplina e cultura regional. O estudante Raian do Nascimento, de 19 anos, conhecido como “Vagalume”, pratica capoeira há mais de cinco anos e afirma que a mãe não aceitava seu envolvimento com a capoeira, porém as mudanças de hábitos favoreceram para que ela mudasse de posição. “Minha mãe achava que era algo violento, até conhecer a arte. Teve uma apresentação que ela assistiu e depois disto autorizou que aprendesse com meu irmão. Mas ela começou a apoiar e incentivar, quando viu as mudanças que tivemos. Passamos a respeitar o outro, só vivíamos na rua. Hoje, dedico maior parte do meu tempo a academia. Meu irmão era um rebelde, discutia com minha mãe, bebia, fumava e brigava sempre na rua, depois da capoeira ele mudou bastante e hoje é uma outra pessoa”, relata Raian.

Aluno do mestre Índio, Denilton Santos de Almeida, 21 anos, é conhecido na região como “Instrutor Famoso”, e ensina a arte no povoado da Salgada em Lapão. Antes da capoeira, Denilton afirma que bebia pouco, mas passava a semana toda indo para bares com os amigos e levava a vida com poucas perspectivas.   Porém, foi no campo da ginga, da música e da baianidade da roda de capoeira que seu dia-a-dia se iluminou e ganhou sentido. “Sou reconhecido na região, pratico há cinco anos e pretendo continuar na arte até quando tiver forças. A capoeira me deu muito conhecimento, geral, não só da arte, mas ensinamentos de vida, como a relação de um com outro, o respeito e a união. Passo a semana treinando, não bebo, não fumo e dou aula a dez alunos no povoado que não tem condições de pagar, mas querem aprender e para mim é isso que vale. Aprendi esses valores com meu mestre”.

“Muitos garotos precisam de um apoio maior, tive alunos que usavam drogas, roubavam e eram indisciplinados em casa, mas com diálogo e a disciplina da capoeira, mostrei outros caminhos e isso ajudou bastante. Aprendi a ser amigo, pai, e líder deles, trato meus alunos da forma que eles precisam ser tratados, com carinho e respeito. Existe uma carência afetiva enorme, muitos têm problemas familiares e eles encontram em mim um referencial positivo. Por isso, escolho os mais rejeitados, os bem rebeldes e tento trazer para capoeira. Quero agrupar pessoas com necessidade de apoio e incentivar eles para mudarem de vida”, explica Índio.

Luta, dança ou arte? “Um pouco de tudo” responde índio, que faz questão de enfatizar que a capoeira não é inferior a nenhuma outra arte de combate. O grupo ensina capoeira mesclando o estilo regional com a angolana sem esquecer as belas acrobacias.  Também são ministradas aulas de dança, Maculelê e oficinas ensinando a tocar e fabricar instrumentos, como o berimbau.

Professor Índio Brasil ou Orlando José de Lima, nasceu em Manaíra, na Paraíba á 480 km de João Pessoa, chegou na microrregião no fim da década de 80 e despertou para a arte em 1995. “Chamei umas pessoas para jogar e começamos aprender com o Mestre dragão, ficamos uns seis meses com ele. Logo depois fui dar aula em Belo Campo, distrito de Lapão e em 13 de setembro de 2008 me tornei professor. Meu mestre agora é conhecido como Pit Bull e dá aulas na Grécia. Recentemente fiz uma música em homenagem a ele: E Pit Bull e Bamba! / Pit Bull e Bamba de Capoeira / E… Pit Bull entra na roda / E aquela animação e joga / com todo mundo e respeita meu irmão / E… eu sou Índio Brasil / Barravento quem falou / o meu mestre Pit Bull / foi ele que me formou”, canta o Professor Índio.

Falta de Apoio: Apesar da garra e de um trabalho consistente que trás resultados visíveis, o projeto carece de recursos e apoio para expandir. Atualmente a turma é composta por aproximadamente 30 jovens que pagam, em média, R$ 10,00 por mês. Porém, a grande maioria dos alunos não tem condições financeiras para custear o aprendizado. De acordo com o professor, ele consegue fechar um grupo com mais de 100 alunos em apenas cinco dias, pois não faltam pessoas interessadas para treinar. “Se tivesse algum patrocínio para me manter ou algum recurso para comprar pelo menos os abadas, reunia muitos jovens carentes. Mas preciso de apoio governamental ou da iniciativa privada para expandir esse projeto, dos alunos só quero o respeito, a disciplina, a dedicação e a vontade de treinar”.

O mestre Índio recebe esporadicamente uma ajuda de custo para se apresentar em outros municípios, e é reconhecido na região sendo convidado frequentemente para eventos em colégios e apresentações, contudo, além dos bons e velhos tapinhas nas costas atestando a qualidade do trabalho, um projeto precisa de recursos para se manter. Em 2008, o professor Índio demonstrou potencial, e com um patrocínio de R$ 250,00,  deu aula para 70 alunos gratuitamente.

“Sinto falta de um apoio aqui em Lapão, poderia está em outro estado, cidade ou até fora do Brasil, meu mestre sempre me convida e tem muitos capoeiristas que se dão bem fora ensinando a arte. Quando trabalhei em Goiânia, fui super bem recebido, ganhava uma quantia boa e deixei vários alunos, mas tenho um carinho especial pela ideia de ter um grupo de capoeira aqui. Não sei como sobrevivo, apenas sei que as coisas acontecem, tenho muitas dificuldades, elas são grandes, mas não quero parar, sempre que vou para outros locais, volto, porque minha cabeça tá aqui, minha ambição é pouca, apenas quero prosseguir trabalhando para ajudar pessoas, fazer uma obra e continuar sendo o mestre Índio Brasil de Lapão”, desabafa Índio.

Galeria de fotos em: http://pmoraes.wordpress.com/2010/01/19/mestreindio/

Pedro Moraes
Jornalista (MTB/DRT-BA 2758)
[email protected]
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http://pmoraes.wordpress.com
http://culturaerealidade.com.br
(71) 9953-5716 / (74) 9986-1719

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