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Pierre Verger

 

Sua obra fotográfica, baseada nas mais de 64.000 fotografias cadastradas em seu acervo, foi construída a partir das viagens que ele fez aos cincos continentes entre o ano de1932 e o final dos anos 1970. Nos primeiros anos, suas fotos foram publicadas apenas em livros de viagens, jornais e revistas franceses e, a partir do final dos anos 30, suas fotos foram utilizadas também em publicações de países de língua inglesa, espanhola e alemã. Nessas primeiras publicações, ele contribuiu apenas como fotógrafo, não interferindo na concepção e produção dos textos.

 

Biografia:

Pierre Edouard Léopold Verger (1902-1996) foi um fotógrafo, etnólogo, antropólogo e pesquisador francês que viveu grande parte da sua vida na cidade de Salvador, capital do estado da Bahia, no Brasil. Ele realizou um trabalho fotográfico de grande importância, baseado no cotidiano e nas culturas populares dos cinco continentes. Além disto, produziu uma obra escrita de referência sobre as culturas afro-baiana e diaspóricas, voltando seu olhar de pesquisador para os aspectos religiosos do candomblé e tornando-os seu principal foco de interesse

Verger nasceu em Paris, no dia quatro de novembro de 1902. Desfrutando de boa situação financeira, ele levou uma vida convencional para as pessoas de sua classe social até a idade de 30 anos, ainda que discordasse dos valores que vigoravam nesse ambiente. O ano de 1932 foi decisivo em sua vida: aprendeu um ofício – a fotografia – e descobriu uma paixão – as viagens. Após aprender as técnicas básicas com o amigo Pierre Boucher, conseguiu a sua primeira câmera fotográfica, uma Rolleiflex. Com o falecimento de sua mãe, sua última parente viva, Verger decidiu se tornar naturalmente um viajante solitário e levar uma vida livre e não conformista. Apesar de esse desejo ter surgido tempos antes, Verger tomou essa decisão apenas após a morte da mãe no intuito de não magoá-la.

De dezembro de 1932 até agosto de 1946, foram quase 14 anos consecutivos de viagens ao redor do mundo, sobrevivendo exclusivamente da fotografia. Verger negociava suas fotos com jornais, agências e centros de pesquisa. Fotografou para empresas e até trocou seus serviços por transporte. Paris, então, tornou-se uma base, um lugar onde revia amigos – os surrealistas ligados a Prévert e os antropólogos do Museu do Trocadero – e fazia contatos para novas viagens. Trabalhou para as melhores publicações da época, mas como nunca almejou a fama, estava sempre de partida: “A sensação de que existia um vasto mundo não me saía da cabeça e o desejo de ir vê-lo me levava em direção a outros horizontes”, afirmou ele.

As coisas começaram a mudar no dia em que Verger desembarcou na Bahia. Em 1946, enquanto a Europa vivia o pós-guerra, em Salvador era tudo tranquilidade. Ele foi logo seduzido pela hospitalidade e riqueza cultural que encontrou na cidade e acabou ficando. Como fazia em todos os lugares onde esteve, preferia a companhia do povo e dos lugares mais simples. Os negros, em imensa maioria na cidade, monopolizavam a sua atenção. Além de personagens das suas fotos, tornaram-se seus amigos, cujas vidas Verger foi buscando conhecer com detalhes. Quando descobriu o candomblé, acreditou ter encontrado a fonte da vitalidade do povo baiano e se tornou um estudioso do culto aos orixás. Esse interesse pela religiosidade de origem africana lhe rendeu uma bolsa para estudar rituais na África, para onde partiu em 1948.

Foi na África que Verger viveu o seu renascimento, recebendo o nome de Fatumbi, “nascido de novo graças ao Ifá”, em 1953. A intimidade com a religião, que tinha começado na Bahia, facilitou o seu contato com sacerdotes e autoridades e ele acabou sendo iniciado como babalaô – um adivinho através do jogo do Ifá, com acesso às tradições orais dos iorubás. Além da iniciação religiosa, Verger começou nessa mesma época um novo ofício, o de pesquisador. O Instituto Francês da África Negra (IFAN) não se contentou com os dois mil negativos apresentados como resultado da sua pesquisa fotográfica e solicitou que ele escrevesse sobre o que tinha visto. A contragosto, Verger obedeceu. Depois, acabou se encantando com o universo da pesquisa e não parou nunca mais.

Apesar de ter se fixado na Bahia, Verger nunca perdeu seu espírito nômade. A história, os costumes e, principalmente, a religião praticada pelos povos iorubás e seus descendentes, na África Ocidental e na Bahia, passaram a ser os temas centrais de suas pesquisas e sua obra. Ele passou a viver como um mensageiro entre esses dois lugares: transportando informações, mensagens, objetos e presentes. Como colaborador e pesquisador visitante de várias universidades, conseguiu ir transformando suas pesquisas em artigos, comunicações e livros. Em 1960, comprou a casa da Vila América. No final dos anos 70, ele parou de fotografar e fez suas últimas viagens de pesquisa à África.

Em seus últimos anos de vida, a grande preocupação de Verger passou a ser disponibilizar as suas pesquisas a um número maior de pessoas e garantir a sobrevivência do seu acervo. Na década de 1980, a Editora Corrupio cuidou das primeiras publicações no Brasil. Em 1988, Verger criou a Fundação Pierre Verger (FPV), da qual era doador, mantenedor e presidente, assumindo assim a transformação da sua própria casa na sede da Fundação e num centro de pesquisa. Em fevereiro de 1996, Verger faleceu, deixando à Fundação Pierre Verger a tarefa de prosseguir com o seu trabalho.

WIKI:

Pierre Edouard Leopold Verger (Paris, 4 de novembro de 1902 — Salvador, 11 de fevereiro de 1996) foi um fotógrafo e etnólogo autodidata franco-brasileiro. Assumiu o nome religioso Fatumbi.

Era também babalawo (sacerdote Yoruba) que dedicou a maior parte de sua vida ao estudo da diáspora africana – o comércio de escravo, as religiões afro-derivadas do novo mundo, e os fluxos culturais e econômicos resultando de e para a África.

Após a idade de 30 anos, depois de perder a família, Pierre Verger exerceu a carreira de fotógrafo jornalístico. A fotografia em preto e branco era sua especialidade. Usava uma máquina Rolleiflex que hoje se encontra na Fundação Pierre Verger.

Durante os quinze anos seguintes, ele viajou os quatro continentes e documentou muitas civilizações que logo seriam apagadas através do progresso. Seus destinos incluíram:

 

  • Taiti (1933)
  • Estados Unidos, Japão e China (1934 e 1937)
  • Itália, Espanha, Sudão, Mali, Níger, Alto Volta (atual Burkina Faso), Togo e Daomé (atual Benim) 1935)
  • Índia (1936)
  • México (1937, 1939, e 1957)
  • Filipinas e Indochina (atuais Tailândia, Laos, Camboja e Vietnã, 1938)
  • Guatemala e Equador (1939)
  • Senegal (como correspondente, 1940)
  • Argentina (1941)
  • Peru e Bolívia (1942 e 1946)
  • Brasil (1946).

 

Suas fotografias foram publicadas em revistas como Paris-Soir, Daily Mirror (com o pseudônimo de Mr. Lensman), Life, e Match.

Na cidade de Salvador, apaixonou-se pelo lugar e pelas pessoas, e decidiu por bem ficar. Tendo se interessado pela história e cultura local, ele virou de fotógrafo errante a investigador da diáspora africana nas Américas. Em 1949, em Ouidah, teve acesso a um importante testemunho sobre o tráfico clandestino de escravos para a Bahia: as cartas comerciais de José Francisco do Santos, escritas no século XIX.

As viagens subseqüentes dele são enfocadas nessa meta: a costa ocidental da África e Paramaribo (1948), Haiti (1949), e Cuba (1957). Depois de estudar a cultura Yoruba e suas influências no Brasil, Verger se tornou um iniciado da religião Candomblé, e exerceu seus rituais.

Definição de Verger sobre o Candomblé: “O Candomblé é para mim muito interessante por ser uma religião de exaltação à personalidade das pessoas. Onde se pode ser verdadeiramente como se é, e não o que a sociedade pretende que o cidadão seja. Para pessoas que têm algo a expressar através do inconsciente, o transe é a possibilidade do inconsciente se mostrar”.

Durante uma visita ao Benin, ele estudou Ifá (búzios – concha adivinhação), foi admitido ao grau sacerdotal de babalawo, e foi renomeado Fátúmbí (“ele que é renascido pelo Ifá”).

As contribuições de Verger para etnologia constituem em dúzias de documentos de conferências, artigos de diário e livros, e foi reconhecido pela Universidade de Sorbonne que conferiu a ele um grau doutoral (Docteur 3eme Cycle) em 1966 — um real feito para alguém que saiu da escola secundária aos 17.

Verger continuou estudando e documentando sobre o assunto escolhido até a sua morte em Salvador, com a idade de 94 anos. Durante aquele tempo ele se tornou professor na Universidade Federal da Bahia em 1973, onde ele era responsável pelo estabelecimento do Museu Afro-Brasileiro, em Salvador; e serviu como professor visitante na Universidade de Ifé na Nigéria.

Verger se apaixonou pela Bahia lendo “Jubiabá” e se tornou amigo das maiores personalidades baianas do século XX, como o próprio Jorge Amado, Mãe Menininha do Gantois, Gilberto Gil, Walter Smetak, Mário Cravo, Cid Teixeira, Josaphat Marinho, dentre outros notáveis. Seu trabalho como fotográfo influênciou notadamente nomes consagrados da fotografia contemporânea como Mário Cravo Neto, Sebastião Salgado, Vitória Regia Sampaio, Adenor Gondim e Joahbson Borges, sendo que este foi seu último assistente, apontado pelo próprio Verger como sucessor natural.

Na entidade sem fins lucrativos Fundação Pierre Verger em Salvador, que ele estabeleceu e continuou seu trabalho, guarda mais de 63 mil fotografias e negativos tirados até 1973, como também os documentos dele e correspondência.

No Brasil, foi homenageado como tema de carnaval (Rio de Janeiro, 1998) do GRES União da Ilha do Governador, cuja letra fala da Trajetória de Pierre Verger a Fatumbi.

Jérôme Souty publicou um ensaio muito documentado sobre a obra e a vida de Verger : Pierre Fatumbi Verger. Do olhar livre ao conhecimento iniciático, São Paulo, Terceiro Nome (446 p., 23 fotos, em português) ; Pierre Fatumbi Verger. Du regard détaché à la connaissance initiatique, Paris: Maisonneuve & Larose, 2007 (520p., 144 fotos, em francês).

 

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