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PISA DEVAGAR, PISA DEVAGARINHO: Como chegar numa roda de capoeira

PISA DEVAGAR, PISA DEVAGARINHO: Como chegar numa roda de capoeira

Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin

Todo bom capoeira sabe que o aprendizado nesta arte precisa ser construído a partir de um boa carga de experiência vivida nas rodas. Porém, nem sempre nos preparamos da maneira adequada para os desafios que se anunciam nos “terreiros alheios”. Desta forma, conversaremos aqui sobre os aspectos mais relevantes para alguém que deseja saber “entrar e sair” de um desconhecido “campo de mandinga”.

Inicialmente, temos que lembrar da lição do Gato do filme “Alice no país das maravilhas”. Certa feita Alice perguntou ao Gato: – Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui? Ele respondeu: – Isso depende muito de para onde quer ir! Alice continuou: – Para mim, acho que tanto faz… – Ahhhh, se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve! – finalizou o gato. Pois é, na capoeira funciona da mesma forma. É importante sempre refletir sobre o caminho, a maneira de proceder, o que vou buscar lá? O que necessito aprender? Entre outros aspectos… Tudo está relacionado intimamente com o conhecimento do tal “saber para onde ir”. Assim, o primeiro passo importante é selecionar o lugar que deseja visitar, avaliando prós e contras de sua ida aqui ou acolá.

Chegando ao local, o primeiríssimo passo é observar tudo, dis-cre-ta-men-te, de preferência sem ser notado. Só nesta primeira impressão, se a situação na roda estiver “barril dobrado”, cabe inclusive a possibilidade de você dar um “zig” e se “picar” dali sem ser percebido. Mas, se este não for o caso, após “sentir o cheiro do lugar”, busque imediatamente o(a) “dono(a) da roda”… Se apresente e peça permissão para participar da sua atividade. Lembre-se de que apresentar-se em capoeira é um pouquinho diferente do que no mundo formal, pois o que interessa saber principalmente é sua “linhagem”, ou seja, seu apelido, seu mestre, o que deseja naquele lugar, e, se necessário, sua escola/grupo de capoeira. Enfim apresente-se!

Primeiro passo dado, a partir do aval do(a) “dono(a) da roda”, é importante aprender a “LER a cena”, analisar todas as suas características, sinais, relações, pois será fundamental em seu processo de “sobrevivência” durante todo o período que estivar ali. Toda roda, geralmente, tem pessoas que assumem determinados padrões de comportamento. Mapeá-los vai te ajudar a lidar melhor com todos eles, antecipando-os. Identifique a “tocadora”, o “cantador”, a “acrobata”, o “leão de chácara”, o “pesquisador”, mas principalmente, tente perceber o mais difícil de todos – o bom capoeira, pois nele(a) está o grande perigo… Muito cuidado!

Geralmente, ela é uma pessoa discreta, de sorriso misterioso, não joga com freqüência, aparece e desaparece como um “encantado”, está sempre perto do mestre(a) de forma a ampará-lo, como boa discípula, e tudo que faz, absolutamente TUDO, tem um porquê fundamentado na ritualística da roda. Neste sentido, para evitar ser pego de surpresa no jogo, sem ter percebido todos os “papéis” desempenhados naquela cena social, eu recomendo que busque, inicialmente, um instrumento para tocar, sendo o melhor lugar de observação, contudo, faça isso de forma sutil e humilde, sem despertar a atenção para você, evitando ir direto ao berimbau Gunga, por motivos óbvios!

Passou pelos instrumentos? “Filmou” a roda, mapeando todos os papéis presentes ali? Chegou a hora do jogar… Siga como se fosse para o pé do berimbau e observe se alguém na roda irá se mobilizar para ir com você, mas no caminho desista, pois isso é apenas para testar o óbvio (risos)… Possivelmente o “leão de chácara”, aquele sempre pronto para “testar” desavisados, poderá estar a postos para jogar com você. Se for o caso, surpreenda-o! Aguarde a oportunidade para VOCÊ comprar o jogo. Se possível depois que ele estiver desgastado fisicamente… Isso não irá garantir seu sucesso, mas diminuirá, exponencialmente, o percentual de vantagem dele, já que esse perfil de capoeira é pouco estrategista e se garante apenas em suor, velocidade e músculo.

A situação se complica um pouco quando o jogo precisa ser feito com uma “boa capoeira”. Perigosa, disfarçada, contudo, é nesta situação em que você vai aprender mais sobre sua arte. Nesta hora, lembre de se valer do ritual. Use cada momento da roda a seu favor. As negaças, meneios, malícia são fundamentais, criando uma atmosfera de surpresa no que você poderá fazer. Tire sempre algo do “fundo do bolso”, dizia meu mestre. Lembre que a roda é um espaço de poder, dispute-o com a maior variedade possível de elementos da capoeira.

Dê a “volta ao mundo” ou faça uma “chamada”. Volte ao pé do berimbau, recomece tudo. Use a cantiga para dirigir a dinâmica do que acontece, fazendo do pé do berimbau seu templo sagrado de proteção, evocação, reflexão e domínio mental de toda situação. Se nada disso funcionar, acredite, JÁ SERVIU! Você percebeu que ainda precisa de um pouco mais de “farinha no saco”, e que esta “boa capoeira” é alguém que poderá servir de referência para depois de sua “volta ao mundo”, comprar novamente este jogo em circunstâncias diferentes. Lembre! Saber recuar para se refazer/fortalecer, é uma das virtudes de quem vence na vida.

Ao final de tudo isso, “quem pisou devagar”, garantiu respeito, malícia e atenção. Garantiu estar vivo pra contar suas façanhas, pois “Pé que não anda, não toma topada”.

Axé!

Ei, psiu! Gostou? Então compartilhe, ajude a capoeira a refletir e seguir avançando!

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