Onde tudo começou

Quem foram estas mulheres que jogaram capoeira antes das nossas avós e bisavós? Como elas eram? Quem as escreveu e conheceu? O que elas faziam?

O primeiro livro que li sobre capoeira foi: “A Capoeira Angola no Brasil“ do Mestre Bola Sete. Um trecho do livro ascendeu uma chama em minha mente: “na década de 70 houve uma verdadeira revolução nas academias de capoeira, com a adesão de centenas de garotas…”. Então pensei: Quem eram as mulheres que precisaram da Capoeira para se libertar, se defender, fazer arruaças ou levantes? Quem preciso esconder "ser capoeira"?

Vocês sabem porquê o Estado do Amazonas tem este nome? Havia uma civilização de mulheres guerreiras vindas da Fenícia. Elas dominavam várias formas de combates e lutas. Chegaram a guerrear com espanhóis que ficaram surpresos pela sua força. Estes fatos foram relatados por europeus e índios do Brasil colonial.

Eu quero que vocês fiquem aguçadas sobre a nossa história. Porquê não existe nenhum livro sobre a nossa trajetória dentro da capoeira?

Saibam que é muito difícil de se coletar dados, eu pesquisei um pouco em cada lugar e com algumas pessoas. Talvez possam haver equívocos no que digo, pois as informações não são muito claras. É um jogo investigativo. Não sou dona da verdade, estou procurando-a e quero que todos tenham a consciência que isto é um estudo, o início de uma documentação fragmentada que pretendo, junto com as Mulheres Capoeiras, reunir em um só local.

A mulher no Brasil Colônia aparece como vítima não importando sua cor, raça ou credo, fosse ela índia, negra, branca, européia ou mulata. Elas eram surradas, estupradas, trancafiadas, raptadas, espancadas por maridos, padres, donos de engenho, pais, irmãos. Mas elas também aparecem como transgressoras, eram amantes de escravos fujões, roubavam e matavam seus maridos, participavam de atentados à Coroa Portuguesa, eram presas, degredadas, exiladas para Angola, da mesma forma que acontecia com homens brancos, negros, donos de terras, nobres, ou seja, como todos que fossem uma ameaça ao Reino Português.

Exatamente por esses fatores a Capoeira soube serví-las, como serviu também a muitos homens. Vocês percebem que aqui já não existem diferenças como sempre achávamos que houvessem? O quê nos leva à capoeira são os mesmos motivos que levaram os homens. Como disse o Mestre João Pequeno em resposta a uma pergunta feita pela Morena no "1º Encontro Nacional da Arte Capoeira" no Circo Voador no Rio de Janeiro: “As mulheres tinham um corpo humano, assim como o dos homens e sentem a mesma coisa que eles. Na capoeira considero as pessoas iguais.” (pag. 185. livro Capoeira O Galo já cantou, de Nestor Capoeira)

Esta será o primeiro texto de uma série que pretendo publicar aqui sobre as minhas pesquisas de Mulheres Capoeiras até 1.950. Aguardem.

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