Portal Capoeira Capítulo 6 - Toninho Ventania Nestor Capoeira - Capoeiristas, Pulp Fiction Tropical

Capítulo 6 – Toninho Ventania

 

CAPOEIRISTAS

PULP FICTION TROPICAL

 

Nestor Capoeira

capítulo 6

 

Finalzinho do capítlo 5

O nome deste Encantado no mundo espiritual é Mão de Faca.

Fim do cap. 5

  

TONINHO VENTANIA

Sou da Linha dos Malandros,
viajante e jogador;
Nada melhor que a vida
com suíngue e muito amor.

Mas se o céu escurece,
e o positivo falha;
Levo no meu calcanhar
a peçonha do rabo-de-arraia. 

(Nestor Capoeira, 2014; CD A balada de Noivo-da-Vida e Veneno-da-Madrugada)

 

A FEITURA DE UM JOVEM MALANDRO

Entendam a dinâmica daqueles meus seis meses em Belô.

Eu tinha treinado com Leopoldina desde criança.

Jovem adolescente, conheci Veneno-da-Madrugada e Noivo-da-Vida; perambulei com eles alguns anos pela Europa e Estados Unidos. Voltamos ao Brasil e, nos anos seguintes, armamos o “exército de teleguiados” de Noivo.

Aí, Noivo perdeu sua visão clarividente e a coisa desmanchou – tudo que é sólido se desmancha no ar.

Então, na verdade, Belo Horizonte foi o meu primeiro vôo solo. Anteriormente, apesar de todas as aventuras, eu sempre estava acompanhado de jogadores mais velhos e experientes.

Os insights que eu tive jogando e ensinando capoeira aos iniciantes mineiros; e os relacionamentos sensuais e sexuais – e, por que não dizer toda a verdade: relacionamentos sensuais e sexuais e amorosos -, com aquelas quatro mulheres; fizeram definitivamente a minha cabeça.

Estas duas vertentes – insghts ensinando capoeira, e as mulheres – é que foram minha dissertação de mestrado, e tese de doutorado, no Mundo da Malandragem Alto Astral.

 

O AMADURECIMENTO

No lance com as 4 minas, não me refiro a um amadurecimento devido especificamente à “técnica” do sexo. Esta parte eu já dominava desde a adolescência através dos papos com Leopoldina e outros malandros como Mr. X – o negócio do clitóris e tudo o mais.

Meu amadurecimento veio do relacionamento, simultâneo, durante o mesmo período de tempo, com quatro mulheres muito diferentes. A amizade, as curtições, os papos, as inseguranças e ciúmes e estratégias femininas, o lance de la dona eh mobile, e por aí vai; com cada uma, era tudo diferente.

Aliás, “tudo” diferente é exagero; todas tinham um pouco do la dona eh mobile: a mulher diz uma coisa num dia, mas na semana seguinte já esta “sentindo” algo diferente; e, mais uma semana, ela volta ao lance inicial.

Não é uma porra-louquice, como os otários gostam de acusar. É mais semelhante às fases da lua, tem uma racionalidade feminina, diferente da masculina, que não é difícil de compreender. E se a maioria dos homens diz que as “mulheres são imcompreensíveis”, é porque o pior tipo de cego é aquele que não quer ver.

Alem do la dona eh mobile, acho que as “estratégias femininas” daquelas quatro gostosuras tambem tinham muita coisa em comum.

Na verdade, quando eu me lembrava dos meus romances de adolescente no Rio – com jovens minas, e algumas coroas, dos subúrbios cariocas -; e mesmo os romances da Europa – uma outra cultura, e mulheres de todas as idades -; eu ficava surpreso ao constatar que as mulheres eram muito diferentes entre si, mas as estratégias que usavam, nos Jogos do relacionamento, eram parecidas com as estratégias das minhas quatro maravilhosas balzacas mineiras.

Maior loucura.

 

OS ENSINAMENTOS

Você, caro leitor, caríssima leitora, talvez tenha curiosidade sobre os ensinamentos da malandragem  a respeito do sexo. Provavelmente já até classificou-os segundo o atual código do politicamente correto: papo machista.

É um pouco mais complicado.

Decididamenterte o tal “ensinamento”, por parte da malandragem, não é um enfoque que louva o matrimônio ou a monogamia; mas, em vários aspectos, é o oposto do machismo.

Mas antes de entregar o ouro; antes mesmo de mostrar o mapa da mina; de ensinar o caminho das pedras; seria interessante que eu apresentasse o Malandro, uma figura básica do Imaginário Brasileiro, mas que sempre é confundido com o Esperto, o Golpista, o 171, etc.

 

O MALANDRO COM “M” MAIÚSCULO

O Malandro é o aristocrata, o filósofo, o PhD da escória do submundo; e ele se orgulha disto.

O Malandro é um solitário. Seus iguais são os homens e mulheres formados na malandragem – e só.

Entre os malandros não existe amizade, apenas respeito; “e o respeito vem do medo”, dizia Madame Satã – um famoso malandro que dominou a noite do Rio entre 1930 e 1950.

Muitos malandros dizem que “Malandro não existe”. O que existe é a Escola da Malandragem, a Filsofia da Malandragem. Isto é básico. Se voce não entender isto, vai sempre ficar perguntando se “fulano é malandro, ou não”.

Malandro não existe.

O próprio Zeca Pagodinho, um dos mais afamados músicos brasileiros da atualidade, décano da malandragem, afirma:

“Malandro? Eu? Que  é isso! Sou apenas um otário com sorte”. E otário com sorte é malandro duas vezes.

É como se o Malandro fosse uma figura utópica, uma meta, uma direção na qual os “aprendizes de malandro” caminham.

Poucos conseguem se diplomar pois, além de tudo, exige que o estudante seja extremamente talentoso em algum lance – música, esporte, carteado, bilhar, mulher, capoeira. Se o candidato não tem alguma excepcionalidade, ele é obrigado a dar golpes para sobreviver e se torna um mero golpista, um 171, etc.

E um esperto, um golpista, um estelionatário, é o oposto do malndro: “para o bom malandro, o bom negócio tem de ser bom pra todo o mundo”, dizia mestre Leopoldina. 

 

A ESCOLA

Existem muitas “escolas” na marginalidade brasileira; algumas bem barra-pesada, como a dos assaltantes de banco, ou a do tráfico de drogas.

Outras “escolas” são mais artísticas. A capoeira era uma delas, antes da “era das academias” que começa na década de 1930; o samba, idem; a malandragem tambem.

Especificamente em relação à capoeira/malandragem, note-se o golpe:

– Não é suficiente dar um golpe, como a “dobradinha” numa gringa loura e rica, ou o “bilhete premiado” num otário ganancioso, para ser um verdadeiro Malandro. Quem dá golpe é golpista.

– Não é suficiente dar um golpe, um rabo-de-arraia ou uma rasteira e detonar um Maciste, para ser um verdadeiro Capoeira. Quem dá golpe é lutador.

Os Malandros talentosos; que não precisam dar golpes para sobreviver; que “vivem de seus prestígios”; que não precisam se enquadrar, nem mesmo, nas regras dos locais onde faturam sua grana; são admirados por todos. Voce certamente conhece alguns deles: determinados músicos como Zeca Pagodinho e Paulinho da Viola, capoeiristas como Mestre Leopoldina, alguns desportistas, etc.

Mas os Malandros talentosos são poucos, e a generalização “todo malandro (com ‘m’ minúsculo) é um artista” não é real.

Cavalo tem muito, São Jorge é um só.

 

O MALANDRO E A VIOLÊNCIA

Mas não se iludam.

Apesar de abominar o confronto fisico e a violência; e no caso de conflito, sempre resolver a coisa “na conversa”; o Malandro sempre tras – afiada e reluzente -, no bolso do terno de linho branco, ou talvez por baixo de sua camisa de seda vermelha, ou até mesmo enfiada no cós da calça ou escondida na faixa de seu chapéu panamá, a temível navalha que é manejada com destreza se ele for encurralado e não houver outra escapatória.

E então o Malandro se torna um adversário fatalmente perigoso, atacando inesperada e traiçoeiramente – um único golpe letal na jugular e, antes que alguém se de conta do sucedido, o oponente já está no chão agonisando, e o Malandro já se foi.

É algo semelhante a uma das ideias daquele livro milenar, O caminho da Guerra: se voce eh um cara pacífico, se voce deseja viver em paz; voce deve estar preparado. e muito bem preparado, para a Guerra.

Mas o Mundo dos Otários interpreta isto erroneamente. Vejam o caso da URSS: se “preparou” tanto para a Guerra; investiu tanta grana; que acabou indo à falência.

 

O MALANDRO E AS MULHERES

O Malandro é um homem, ou mulher, das ruas, da noite, da boemia, dos puteiros, do carteado e da sinuca, das casas de jogo e de dança, onde ele exibe suas habilidades, seus prestígios, e exerce sua sedução.

Com as mulheres, em público, o Malandro é sempre um cavalheiro. Ele oferece flores, murmura doces palavras no ouvido. Quando está com dinheiro, presenteia jóias, perfumes, e roupas vistosas.

O Malandro é um mão aberta; nunca se preocupa com o amanhã, o amanhã se resolve amanhã. Mas quando esta duro, lhes toma o dinheiro sem a mínima consideração, e vai gastá-lo em farras, talvez com outras mulheres.

É comum que velhos malandros, cafetinas, jogadores, prostitutas, tomem “jovens de talento” sob sua proteção. Seria uma pena se aquele jovem, com tanta potencialidade, terminasse como traficante, assaltante, ou pistoleiro.

 

POSSE E CIÚME

Na verdade, os “grilhões da armadilha” que existem no sexo e no amor – posse e ciúme – deveriam afetar somente quem optou por viver, e seguir as regras, do Mundo dos Otários – ou seja, da Sociedade Estabelecida, do Sistema. Sejam eles os manés monogâmicos, que levam no dedo anular da mão esquerda o “bambolê de otário”; ou fossem eles os “espertos” afeitos ao machismo, que se consideram malandros, mas na verdade são meros “malandro-agulha” (toma no buraco sem perder a linha).

O  sentimento de posse e o ciúme não deveriam ser um perigo para um “verdadeiro” Malandro “cabeça feita”; que sabe que “ninguém é de ninguém; cada um faz o que quer com seu corpo”; nas palavras do falecido Mestre Leopoldina.

Ou seja: Leopoldina não pertencia à nenhuma mulher, não lhes devia “fidelidade conjugal”. Por sua vez, as mulheres também não deviam a tal “fidelidade” ao Leo (em oposição à maneira de pensar machista).

Esta concepção – “cada um faz o que quer com seu corpo” – tambem significa, para o Malandro, que a pessoa ser homosexual ou heterosexual é uma escolha, ou uma característica daquela pessoa, e ninguem tem nada a ver com isso.

Este discurso não é para ser moderninho ou feminista.

O discurso existe porque, qualquer perspectiva de “posse” de uma mulher, limita a liberdade do malandro. Mr. X dizia que o sentimento de posse é semelhante ao caso do macaquinho aprisionado.

O caçador amarra um pedaço  de doce dentro de uma cabaça semelhante à do berimbau. A abertura feita na cabaça é larga o suficiente para o macaquinho enfiar a mão dentro da cabaça e pegar o doce. Mas com o doce dentro do punho fechado, a abertura da cabaça não é larga o suficiente para o macaquinho retirar sua mão fechada. A cabaça esta amarrada numa estaca fincada no chão.

O macaquinho ouve o caçador que, ao longe, vem se aproximando.

O macaquinho grita, pula, faz caretas, esbraveja, esperneia. Mas não abre a mão, não larga o doce.

Acaba no zoológico ou coisa pior.

Existe, tambem, uma razão histórica para a preferência, do malandro, pelo relacionamento amoroso/sexual  não-monogâmico.

O Malandro começou a se cristalisar no Rio de Janeiro no começo dos 1900s. Entre as duas Grandes Guerras Mundiais que destroçaram a Europa, e levaram os Estados Unidos à posição que anteriormente pertencia ao orgulhoso Império Britânico. No tempo em que determinadas (então) novidades tecnológicas estavam se tornando corriqueiras e populares: a luz elétrica, os carros, o avião, o telefone, o rádio. No ocaso da época dos Grandes Impérios regidos pela Realeza; na época da fundação do Comunismo na Rússia, e da ascenção do Capitalismo Selvagem disfarçado de Democracia liderado pelos USA.

E tambem na época de reformas radicais na cidade do Rio de Janeiro, capitaneadas pelo prefeito Pereira Passos, que vai botar abaixo áreas do centro da cidade – onde habitava a rude plebe, que vai se refugiar nas favelas -, e construir uma moderna e espetacular “Paris Tropical”, com a Cinelândia, a Avenida Rio Branco, o Teatro Municipal, e a Biblioteca Nacional.

O Malandro é o desdendente dos capoeiristas das maltas, que foram dizimadas com a perseguição levada à cabo pelo primeiro chefe de polícia da recem-proclamada República Brasileira, Sampaio Ferraz, o Cavanhaque de Aço – ele, tambem, um praticante de capoeira.

Ora, por volta de 1900/1920, somente as mulheres da vida frequentavam as noturnas. Mulher “direita” não frequentava dancing e cabaré, que eram o habitat do malandro. Então, era com as putas, com as artistas de teatro que ocasionalmente faziam michê, que o malandro se relacionava. E, evidentemente, ele não podia exigir a monogamia da mulher, pois em muitos casos, ele vivia da grana que ela faturava.

 

O MALANDRO E O MACHISMO

A filosofia da malandragem encara com ironia o machismo.

O machista pensa que pode comer todo mundo, mas ninguém pode comer a mulher dele.

Nem tampouco comer suas amantes, irmãs, filhas, nem mesmo sua vovó ou mamãe. Nem mesmo o papai do machista pode comer a mamãe dele, veja-se a problemática do Édipo levantada por Sigmund Freud.

O machista se acha “dono” dessas mulheres, especialmente a “sua” esposa, noiva, namoradas e amantes. A possibilidade que uma delas possa traí-lo – “côrno!” -, é uma fonte constante de preocupação, pois o machista é refém da opinião pública, em especial a dos outros homens.

 

AS CAFETINAS, OS CAFETÕES, OS GIGOLÔS

Mas além desta infra-estrutura “psicológica”, que acabamos de apresentar e que enfoca o sentimento de posse, o machismo, etc.;  existe também, caro leitor e gentil leitora, um aprendizado prático do sexo, como já havíamos comentado antes de “apresentar” o Malandro, e diferenciá-lo de outros atores, não tão nobres, do cenário da marginalidade.

E, apesar das cafetinas e cafetões não serem necessariamente Malandros – são comerciantes capitalistas -, seus ensinamentos práticos lançam uma certa luz, embora geralmente de forma grosseira e rude, sobre a desconhecida arte do sexo – algo básico nos ensinamentos da Escola da Malandragem.

Na intimidade, o Malandro coloca em ação  seu conhecimento sexual e sensual; muitas vezes aprendido com velhas cafetinas e prostitutas de ilimitada experiência, quando ele ainda era um adolescente.

Estas distintas senhoras vestem seu protegido com roupas vistosas, brilhantina no cabelo, e um exagero de perfume; enfeitam-no com muitos anéis, grossas pulseiras e cordões de ouro; formam o jovem malandreco na prática e na teoria do sexo e das mulheres.

 

O CLITÓRIS

Mas qual o teor prático deste aprendizado sexual?

O ensino básico se refere ao clitóris.

Ouvi uma velha megera escolando um de seus protegidos:

“Quem gosta de pau duro é viado; mulher gosta é de siririca (masturbação) e dinheiro!”

Em outra ocasião, ouvi um experiente e bem sucedido gigolô – que na adolescência, antes de fazer seu upgrade, tinha sido cafetão -, pontificar um discurso para um grupo de neófitos. Este Malandro, até certo ponto, relatisava a falta de importância do “pau duro”, explicitado pela velha cafetina. 

Os aprendizes ouviam-no atentamente e em silêncio, podia-se literalmente ouvir uma môsca voando. O prestígio deste gigôlo tinha fundamentos evidentes: estava sempre rodeado de mulheres; de todos os tipos – “quem de tudo come, está sempre mastigando” -; e de todas classes sociais – era um verdadeiro socialista e democrata.

“Homem tem medo de brochar, então quando fica de pau duro vai logo metendo a piroca na mulher.

 Eles acham que “ser homem” é dar uma porção de pirocada com força na buça da mina. Aí o cara goza. A mina faz aquele teatrinho, e finge que gozou também.

Se ela não fingir que gozou, o mané vai sair dizendo que ela ‘é frígida’.

E a próxima mina que o mané comer vai ficar com fama de ‘gostosa e quente’ se fizer bastante alarde e teatro, dizendo que gozou.

Mulher não está aí pra botar azeitona na empada de uma outra vadia qualquer. Então, ela finge que gozou; apesar de não ter tido tempo, nem preparação – a siririca -, para gozar.

Foda é que nem jogo de futebol.

Os primeiros 45 minutos é só lingua e dedo no grelinho (clitoris); a mina vai ficar toda molhada, vai gozar na tua boca, vai implorar pra voce meter nela.

Mas você não mete.

No máximo fica tateando, só com a pontinha da pica, a entradinha da buceta dela, enquanto continua a bater a siririca com o dedo.

Presta atenção, mané, que dedo não é Bom-bril (palha de aço para limpar panela), e o grelo da mina não é frigideira enferrujada. Passa o dedo de leve, de preferência molhado de cuspe, ou se voce for um perfeicionista, use vaselina. Se a mina, mais adiante, e já enlouquecida, quiser que voce esfregue com mais força; ela vai te pedir com palavras, ou vai guiar a tua mão.

O pau-nas-buças só entra em campo pra dar a goleada nos 45 minutos do segundo tempo.

Mas, aí, o jogo já está ganho.

Mesmo assim, a pica dura tem seu valor. Valor físico na hora da foda, e tambem nas mentalidades da mina.

Se voce tiver a sorte de ter um pau de tamanho mediano, ou um pouco maior que o mediano; na segunda vez que voce for comer a mina, ela vai ficar gulosa do teu pau. Ela sonhou e viu aquele pau duro nas fantasias da imaginação dela, depois que voce deu aquela primeira surra de siririca e de pica na creatura.

Aí, um garotão que estava entre os ouvintes, com uma expressão de descrença crítica no rosto, comentou:

“Eu não entendo essa mania de querer comer todas as mulheres do mundo. Eu tenho minha namorada, gosto muito dela, e ela é apaixonada por mim. Pra que eu vou perder meu tempo comendo uma porção de mulheres. Acho tudo isto um sinal de muita carência afetiva, de muita insegurança”.

O ex-cafetão ficou olhando pensativamente para o jovem, finalmente deu de ombros, e respondeu.

“Faz o seguinte: arma um time que tenha umas mulheres gostosas, umas mulheres bonias, umas inteligentes, outras com suíngue e personalidade. Come estas minas uns dois ou tres anos; depois compara com o período que voce passou junto a namorada que te ama tanto. Aí, a gente conversa”.

O garotão levantou uma sobrancelha, naquela de desafio. Neste momento ia passando,  na rua, uma senhora bem tipo classe média. O malandro, irônico, comentou, indo diretamente ao cerne da questão:

“Aí, acho que tua mãe tá te procurando”.

 

SAINDO BATIDO

Meus relacionamentos com as quatro balzaquianas de Belo Horizonte eram um lance meio perigoso, apesar de apenas uma delas ainda ser casada e morar com o marido.

É que eu era um mulato jovem. E, para irritar mais ainda os racistas de plantão – que não eram poucos -, eu era boa pinta, dançava bem pra caralho – era um sucesso nas boatezinhas avant garde.

Então, meus encontros com aquelas gostosas eram sempre em ambiente fechado. E não podia nem ser num dos poucos motéis da cidade; seria um escândalo, a começar pelo porteiro – a dondoca com o mulato.

Ou então a coisa rolava numa das duas buatezinhas frequentadas por jovens ricaços doidões, artistas plásticos de araque, jornalistas e colunistas sociais descolados, aspirantes à literato, várias bichas talentosas da alta costura, e mais algumas outras que eram donos de antiquário ou de galeria de arte. Ali, naquele ambiente escurinho regado a uísque escocês, as mentalidades eram mais arejadas e em sintonia com os lances que rolavam nos círculos prafrentex de New York e da Europa.

Eu transitava livre e tranquilamente pelos ambientes modernosos de Belô: mandava bem o francês e inglês, arranhava alemão.

Nas tranzas com as minas, nos vários anos de Europa, tinha aprendido – europeia adora civilizar um primitivo! – quem era Picasso e VanGogh; Coco Chanel e Saint Lauren; Jung e Freud; Banhaus e Andy Warhol; Baudelaire e Nitzsche; Kerouac e Jim Morison. Não era preciso sacar nada em profundidade, só uma meia dúzia de clichês superficiais e rastacueras; e, então, eu era o cara!

Mas mesmo nesses guetos de riquinhos e descolados rolava um racismozinho.

E foi num desses, quando eu já estava instalado e curtindo a maior onda, que a vaca foi pro brejo.

 

Fim do capítulo 6

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