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Briga por Moqueca

MARIA DOZE HOMEM E ANGÉLICA ENDIABRADA

Uma era calada, cara que não se abria pra qualquer um, jeito duro de andar e gesticular. A outra faladeira, sempre metida em algum bate-boca por causa de galinha de vizinho ou fofoca de vida alheia. Bastava começar uma discussão ou uma briga e pronto… parace que o diabo tomava conta dela!

Com Maria Doze Homem ninguém bulia não… todo mundo respeitava e ate temia. Aquela cara amarrada e aquele jeito esquisito, metia medo em qualquer que fosse. Mesmo os valentões do pedaço, nem pensavam em ousadia pros lado dela. Mas a Angélica, ah… essa era esculhambada… vivia contando piada e gargalhando pela rua. Do que vivia, ninguém sabe não, mas o seu quartinho lá no Taboão, era um entra e sai de homem de todo o tipo: marinheiro, estivador, beberão, e até  doutor.

Mas um dia… num é que a tal endiabrada resolveu se meter com a Maria, por causa de uma moqueca de arraia? É, o Zeca Pescador prometeu uma arraia, das grandes, para Angelica, mas quando chegou no cais, não encontrou a danada e vendeu o peixe foi para a Maria mesmo, que não sabia de nada e logo subiu pro Taboão pra preparar a tal moqueca. Quando Angélica chegou já era tarde e não teve duvida, foi tirar satisfação com a vizinha. O fuzuê tava armado!!!

Angélica começou a xingar Maria do lado de fora, na rua mesmo, esperando que a vizinha saísse. E o cheiro da moqueca começando a subir. Quando Maria surgiu na porta, com aquela cara enfezada, foi um Deus nos acuda, já foi partindo pra cima da Endiabrada soltando pernada e cabeçada. As duas rolavam pelo châo, e não tinha cristão que conseguisse apartar não. Chamaram até a polícia, mas foi ai que a coisa mudou de figura, porque uma coisa elas tinham em comum: num gostavam de policia não!!!

Acho que foram uns sete soldados que chegaram, todos afoitos para apartar a confusão. Quando as duas perceberam a presença dos milicos, saíram distribuindo sopapo e pontapé pra todo lado. Era cada cabeçada e cotovelada que desnorteava os coitados, que ficavam sem poder nem reagir. Foi quando Maria 12 Homem tirou a navalha, escondida dentro do cabelo. Então começou a cortar quem tava pela frente. A confusão se armou de vez, e até o povo que assistia se meteu na briga, pois sempre tem um valentão querendo tirar suas casquinhas em briga com polícia. Foi o suficiente pras duas escaparem, correndo juntas pros lados da Barroquinha. Dizem que depois desse dia, as duas não se largavam mais, andando sempre juntas, pra baixo e pra cima, comprando peixe e fazendo moqueca. *

 

* Nota: Texto construído a partir de informações contidas nos livros “No tempo dos valentões: os capoeiras na cidade da Bahia” de Josivaldo Pires de Oliveira (2005, p.78) e “ A capoeira na Bahia de todos os santos” de Antonio Leberaque C.S. Pires (2004, p.113)

 

Fonte: Mestres e Capoeiras famosos da Bahia de Pedro Abib – 2009

 

** Sugestão e colaboração: Nélia Azevedo e Luciano Milani

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