O Capoeira Água: quando o corpo flue em sintonia com o caminho
O Capoeira Água: quando o corpo flue em sintonia com o caminho
Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin
A grande arte de viver a capoeira se constitui em se qualificar enquanto ser adaptativo, aquela que consegue ser o que situação pede ou oferta, a capacidade de reinventar-se para viver o que é possível, para assim construir o impossível. Neste texto, trataremos um pouco sobre esta grande habilidade, a de ser o “Capoeira Água”.
A água, este elemento fundamental a presença da vida neste planeta, encerra em nosso dia-a-dia algumas lições pra nós capoeiristas. A primeira delas, irei anunciar a partir da fala de uma amiga que dizia assim: “Brisa, seja como água, que nunca confronta com seus obstáculos, mas os contorna”, e num é que é verdade? Uma das grandes competências e lições que a água nos deixa em seu estado, fluido e corrente, é a habilidade de desviar dos obstáculos, sem, no entanto, desistir de seguir seu percurso e correr para o mar. O “Capoeira Água” é aquele/a que quando tudo parece bloquear suas ações e projetos, se refaz, percorrendo um novo caminho possível para completar seu objetivo, e não é que sempre consegue?!
Outro dia presenciei a experiência diante de um amigo, mestre de Capoeira, que independente de não ser lá o senhor simpatia, era um profissional dedicadíssimo, que não cessava de pensar em novos projetos para a capoeira, pensando sempre na comunidade, em atividades que trouxessem melhorias para o coletivo de capoeiras. Mas vou direto ao assunto, advinha o que aconteceu? A inveja, talvez, o orgulho, possivelmente, ou a inquietação com alguém que trabalhava tanto e de maneira tão inusitada, começou a chamar a atenção de um grupo pequeno de capoeiristas, que, de graça tentavam boicotar suas ações. O que aconteceu? Este mestre, “capoeira água” que era, reinventou a forma de trabalhar em prol da comunidade, livrando os rastros de sua assinatura, e segue até hoje ajudando a capoeira a se firmar enquanto ferramenta social e com latente potencial educativo. Ele, como água corrente que aprendeu a ser, segue firme e forte, contornando os obstáculos que se apresentam e só aumentando sua prosperidade, enquanto os indivíduos/obstáculos, inertes e retrógrados, nem o enxergam mais.
Outra habilidade da Água é ganhar a forma de onde estiver, flexível, se for colocada no copo, terá forma de copo, se estiver numa jarra, terá formato de jarra, e assim por diante. Pois é, o/a “Capoeira Água” será flexível o bastante para se adaptar ao local que o colocarem. Se você pedir pra ele trabalhar com idosos, nascerá a metodologia para tal; se precisar que ele se reúna com o prefeito, lá estará ela vendendo o projeto da capoeira; se precisar que ele toque para 2000 pessoas, será ovacionado; se pedir pra ele dar aula para adultos em uma sala de 3 x 4m, lá estará ele adaptando sua aula para este espaço, e não duvide, será uma das melhores aulas que já deu.
Enfim, o/a “Capoeira Água” carrega em seu cerne a natureza fluida e malemolente. Será sempre a pessoa mais apta aos contratempos que a vida lhe impuser, driblando os obstáculos com leveza, gingando sempre e negarceando com o “sistema”.
É importante destacar a diferença entre adaptar-se e perder a essência (natureza do que é), pois muitas vezes é uma linha tênue que separa a água do “barro sujo”, ou seja, como liquido deslizamos por uma infinidade de caminhos, mas sempre atentos para não nos confundirmos com a “sujeira” de onde passamos, separando o “joio do trigo”, pois, caso contrário poderemos nos transformar em “lama” com discurso de “água”….. Aquilo que presta um mau serviço a comunidade/cultura popular pela perda da, já citada, essência/afrodescendencia, sendo apenas mais um “Acarajé de fest food” sem baiana.
Por essas e outras, eu te digo que “beiço de jegue não é arroz doce”, portanto, se ligue no recado, aprendendo que ser CAPOEIRA ÀGUA é se perceber na forma dialógica de existir em harmonia com o todo, quando o corpo flue em sintonia com o caminho.
Axé.:
Por: Mestra Brisa e Mestre Jean Pangolin
