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Lobato: De campo de petróleo a portal do subúrbio

Mestre Gato (José da Silva Cunha) aos 69 anos mantem vivo o sentimento de carinho e camaradagem através da capoeiragem. *

Santa Luzia, Prainha, Jardim Lobato, Boa Vista do Lobato, Alto do Cabrito, Joanes (nome de uma das ilhotas cercadas por manguezais que existiam na região) são algumas das subdivisões do primeiro bairro do subúrbio ferroviário, espalhadas em três administrações regionais. Apesar da vista privilegiada da Enseada dos Tainheiros, na Ribeira, a fama vem do fato de ter sido o local onde foi descoberto o primeiro poço de petróleo no Brasil, em 21 de janeiro de 1939, período da campanha nacionalista do presidente da época, Getúlio Vargas, O Petróleo é nosso.

Os atuais moradores chegaram em casas construídas pelo Estado, após uma enxurrada que destruiu várias casas em áreas próximas, conhecidas como Bananeira (Baixa do Fiscal), Cacau e Santa Luzia. O aposentado José Olimpo da Silva, 75 anos, conhecido como Zé da Mula, fez parte do grupo que formou o bairro. “A gente perdeu tudo, ficou morando um tempo na Estação da Leste e, para construir aqui, carregava o material nas costas”, contou. O apelido vem da época que percorria diversas feiras da cidade.

Todo o sofrimento e trabalho fizeram nascer o amor pelo Lobato. “Vivo aqui há mais de 50 anos. Todos os meus filhos (ele só sabe que tem mais de 10) nasceram e foram criados no Lobato, e não tenho motivo para não gostar daqui. Todos os dias pego meu peixe fresco nas barcas que vêm de Plataforma e sou feliz”. Hoje, ele só quer saber de se debruçar sobre o balcão de sua mercearia, olhando o movimento da rua e conversando com os vizinhos, e lembrar do tempo que paquerava na seresta que acontecia em um antigo bar na entrada da Rua do Amparo.

Com a mesma mentalidade do vizinho, José da Silva Cunha, conhecido como Mestre Gato, aos 69 anos, tem o trabalho voltado a incutir o sentimento de carinho pelo bairro na nova geração. Por meio da capoeira, as lições são dadas no projeto Renascendo Cidadania, onde 56 jovens e adultos entre 5 e 30 anos aprendem “a não ir para o lado esquerdo”, como ele mesmo costuma falar. “Tenho orgulho de ter tirado cerca de 90% dos jovens do tráfico daqui com a capoeira, que vence tudo, maculelê, samba- de-roda e puxada de rede. Eles têm que mudar a imagem que o bairro tem de violência, ser homens de bem”. No meio da conversa, uma das alunas, Marcela Santos Castro Dias, 8 anos, vem orgulhosa mostrar ao mestre que tirou 10 na escola. “Ela que não tire, não. Se não for bom aluno e não obedecer a pai e mãe, não fica”, dá o recado.

Meire Oliveira, do A Tarde
http://www.atarde.com.br
Foto: Elói Corrêa/Agência A Tarde

* Grifo Portal Capoeira

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