Foto: Paulo Dias

AACD incentiva pacientes a praticar esportes e Capoeira

A menos de três meses do início dos Jogos Parapan-americanos, que será realizado no Rio de Janeiro, um grupo de jovens pernambucanos está buscando inspiração no esporte para driblar suas limitações e lutar pela reintegração à sociedade. São pessoas que possuem algum tipo de deficiência física e recebem na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) incentivo para adotar alguma prática esportiva como meio de sociabilização e, em alguns casos, de complemento aos cuidados médicos. Embora não tenha um setor de reabilitação desportiva, como existe na unidade de São Paulo, a AACD do Recife iniciou aulas de capoeira nesta semana que completou oito anos de funcionamento. Quando os pacientes demonstram potencial para outras modalidades, como natação, basquete e atletismo, eles também são motivados e encaminhados pelos médicos para a prática do esporte – só que em outros locais devido à falta de estrutura.
 
Alguns deles se destacaram e estão participando de competições nacionais. É o caso do paratleta Thyago Moura, 20 anos. Ele possui paralisia cerebral e é paciente da AACD desde a criação da entidade no Estado, em 1999. "Durante as hidroterapias, Thyago era muito ansioso, sempre demonstrou disposição na água e interesse de fazer algum esporte. Encaminhamos ele para a natação, mas agora ele se destacou no atletismo", revela a fisioterapeuta Simone Rosa da Silva. Hoje, o jovem é o orgulho da família. Conquistou mais de 35 medalhas e no fim de semana passado quebrou o recorde brasileiro no arremesso de dardo (8m59) durante o Circuito Loterias da Caixa Brasil Paraolímpico, realizado no Rio Grande do Norte. "O esporte é minha vida. Treino todos os dias à tarde e agora luto para ir ao Parapan", conta Thyago. A irmã, que também é sua assistente técnica, comemora o desempenho: "Desde que começou a treinar, aos 14 anos, ele só ganhou uma medalha de bronze. Depois só foi ouro", ressalta Luzia Cristiane, 26.
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Pela primeira vez os Jogos Parapan-americanos serão disputados na mesma cidade, no Rio, e consecutivamente aos Jogos Pan-americanos. De 12 a 19 de agosto, cerca de 1.300 paratletas e 700 membros de delegações vão encarar a disputa em 10 modalidades.
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A família sempre buscou o melhor para Thyago, mas não imaginava que ele poderia ser um atleta. "Quando ele chegou na AACD não segurava nem a cabeça sobre o pescoço. Aqui, ele conseguiu reestabelecer 90% do equilíbrio, da fala e da auto-estima", conta Luzia. Mesmo já tendo recebido alta, ele faz revisões anuais na instituição. O incentivo dos familiares, segundo a neurologista e coordenadora clínica Vanessa Van Der Linden, é primordial para o desenvolvimento dos portadores de deficiência. "Se a família acredita no paciente e entende suas limitações, ela pode enxergar suas potencialidades e investir nelas." Vanessa lembra que é necessário respeitar as particularidades de cada doença e a vontade do paciente. "Não basta ter capacidade física, mas força emocional e disposição em praticar o esporte", destaca. Assim como Thyago, Hugo Santos, 15, recebe o apoio dos pais, amigos e médicos para continuar a praticar basquete e natação. Ele tem mielomeningocele e usa cadeira de rodas para se locomover, mas isso nunca foi um empecilho. "Durante os treinos, contribuo para meu desenvolvimento e faço amigos", conta o jovem que já foi campeão municipal de basquete sobre rodas. Atualmente, devido a ferimentos na pele (escaras), ele teve que se afastar das atividades. "É só o tempo dele melhorar e voltar a sua rotina", enfatiza a mãe Josefa dos Santos, 55.
 
Para o operador de rádio Zenas José de Farias, 41, o esporte é muito mais do que uma técnica de reabilitação ou complemento do tratamento médico. "Todo deficiente deveria procurar o esporte porque esporte é saúde e traz diversos benefícios, como aumento da coordenação motora e da auto-estima, além da aceitação da sociedade. É preciso entender que o deficiente é eficiente para alguma coisa". Zenas teve poliomielite aos três anos e, quando tinha 24, foi atropelado por uma kombi. "Tive que colocar platina no fêmur esquerdo, na patela esquerda e no pé direito, além de ser obrigado a usar muletas e um aparelho ortopédico fabricado pela AACD para me locomover", enumera. Quando apresentou melhora, ele decidiu mudar de vida. Fez natação e depois investiu no atletismo, no qual conquistou 35 medalhas em competições nacionais. Por pouco não obteve índice para o Parapan-americano no arremesso de disco, mas isso não o desanimou. "Quero continuar a praticar o atletismo. Até quando Deus me der saúde eu estou no esporte."
CAPOEIRA
 
A primeira aula de capoeira da AACD do Recife foi realizada nessa segunda-feira (14). Os movimentos básicos da luta servem para alongar, relaxar e divertir pacientes que têm paralisia cerebral, se locomovem com cadeiras de rodas ou usam próteses. Ao todo, 20 crianças a partir dos sete anos terão a oportunidade de participar das aulas, que serão ministradas pelo professor voluntário Severino Júnior. Cada uma, no entanto, aprenderá elementos da capoeira mais adequados às necessidades. Com os pacientes que usam cadeira de rodas, haverá atividades de alongamento da coluna e relaxamento muscular. Crianças com paralisia cerebral poderão interagir com música. Quem usa prótese poderá iniciar-se em movimentos básicos da capoeira, como o aú (estrelinha), o agachamento e a ginga.
Muitas iniciativas da AACD esbarram na falta de verba e espaço físico. A instituição sobrevive, entre outras coisas, do convênio com o SUS, doações de pessoas físicas e jurídicas, campanha dos cofrinhos e pela venda de artigos produzidos pela Oficina Ortopédica, a qual é a única do Estado que produz órteses e próteses sob medida. Saiba como ajudar abaixo.
 
Fonte: JC OnLine – Recife: http://jc.uol.com.br

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