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16º. ENCA EM BRASÍLIA Novos horizontes para Capoeira

A capital federal, palco de eventos nacionais e internacionais, sediou o 16º. ENCA – Encontro Nacional de Capoeira. O evento foi promovido pela Associação de Capoeira Ladainha, presidido pelo Mestre Gilvan Alves Andrade, capoeirista há 20 anos, que, em parceria com o Ministério do Esporte e Governo do Distrito Federal, mobilizou cerca de 2.500 capoeiristas entre mestres, contra-mestres e convidados.
 
O ENCA, que já é tradição entre os capoeiristas brasileiros, atraiu delegações do Piauí, Rondônia, Minas Gerais, Mato Grosso, Ceará e Goiás, estados com maior participação no evento, cujo maior mérito, segundo informa o Mestre Gilvan, é a confraternização entre os amantes da Capoeira e o 24 Horas de Capoeira, evento-síntese do ENCA no qual, por 24 horas ininterruptas, soou o som dos Berinbaus, Atabaques e Caxixis marcando a roda de Capoeira no palco da rodoviária de Brasília, por onde passam diariamente, 600 mil pessoas.
 
Convidados do mundo artístico, político, social e cultural visitaram o evento na rodoviária de Brasília para receber homenagem da Ladainha, por serviços prestados em prol da cultura brasileira representada pela Capoeira. O ex-ministro do esporte, Agnelo Queiroz e o ex-governador do Distrito Federal, Benedito Domingos, os deputados Wasny de Roure e Érika Kokay, apoiadores do evento, foram aplaudidos pelos capoeiristas e agraciados com o Mérito Ladainha. Também esteve no palco da rodoviária o atual secretário de esportes João Guisone; Fredo, candidato a deputado federal e Risomar Carvalho, candidato a deputado distrital. O arquiteto José do Egito, criador do projeto Taguapark foi outro que visitou o 24 Horas de Capoeira e, impressionado com a habilidade dos capoeiristas, comentou: “Eles desafiam a lei da gravidade com o próprio corpo.”
 
HISTÓRICO – O ENCA teve sua primeira edição em 1990 cuja maior motivação, segundo explica o criador, Mestre Gilvan, era mostrar às autoridades locais e nacionais e à sociedade, que a Capoeira poderia ser um excelente instrumento de socialização e inclusão social e econômica. O fato de ser esporte, luta, dança e arte, torna a Capoeira atraente a todos – independentemente de idade, condição social, cor ou raça. “A Capoeira brasileira é o esporte com o menor custo-benefício. Para sua prática bastam apenas um espaço pequeno, um Berimbau e disposição para jogar, não exigindo infra-estrutura, equipamentos ou qualquer recurso que demande investimento.” Explica Mestre Gilvan destacando que a Capoeira brasileira é praticada atualmente em 150 países, o que contribui para a promoção da imagem positiva do Brasil no exterior e atrai turistas interessados em conhecer as raízes brasileiras além, claro, de abrir aos mestres capoeiristas, as portas do mercado de trabalho no exterior.
 
Gilvan Andrade explica que ao criar o ENCA, tinha em mente ajudar o Brasil a conhecer melhor a Capoeira, demonstrar que sua prática era viável a todos e sensibilizar os governos a investir na divulgação e na promoção da Capoeira até torná-la um esporte acessível a todos que quisessem praticá-la. Graças ao ENCA, Gilvan explica que hoje a Capoeira tornou-se conhecida e admirada em escala nunca antes vista com a participação no evento, de mestres, contra-mestres, estudantes de educação física e praticantes de rua.
 
O resultado, hoje, é visível. O deputado petista Wasny de Roure, a pedido do Mestre Gilvan, levou a Capoeira para a Câmara dos Deputados e para o Senado Federal onde os parlamentares receberam capoeiristas em sessões plenárias e viram, de perto, a luta e seus benefícios para a saúde dos praticantes. Imediatamente, após as plenárias da Capoeira, o Ministério do Esporte entendeu que a Capoeira teria que constar na pauta das suas atividades e, acatando a solicitação coletiva dos capoeiristas, incluiu-a no Programa Segundo Tempo, possibilitando a 300 mil crianças aprender Capoeira, conhecer a cultura brasileira e os códigos dessa luta-referência nacional. Outros órgãos do Governo Federal, entre estes a Petrobrás, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Ministérios da Saúde, Cultura, Turismo e Educação adotaram nas suas atividades, a Capoeira como atividade capaz de ajudar nos programas sociais desenvolvidos por eles.
 
Com os resultados positivos proporcionados pela Capoeira, o Ministério do Esporte incluiu nos seus programas, a Capoterapia para atender à 3ª. Idade, parcela significativa da população brasileira que exige investimentos altíssimos em políticas de saúde, cujos os resultados estão longe do ideal. A Capoterapia – prática que mistura atividade física com práticas lúdicas, nascida da Capoeira e criada pelo Mestre Gilvan – foi desenvolvida para beneficiar exclusivamente aos mais vividos. Os resultados foram tão satisfatórios que a Capoterapia passou a integrar a pauta do Ministério do Esporte e, voltada para os idosos, ajudou o Ministério do Esporte a atender, conforme está no Estatuto do Idoso, a parcela menos favorecida pelo governo com políticas públicas de saúde.
 
PROGRAMA VIDA SAUDÁVEL – Graças à Capoterapia, o Ministério do Esporte encontrou a alternativa ideal para atender idosos conforme determina o Estatuto do Idoso, na sua necessidade de praticar esportes compatíveis com sua condição física. A Capoterapia, praticada há oito anos no Distrito Federal com resultados excelentes para idosos de até 75 anos, foi incorporada ao Programa Vida Saudável. Voltado para idosos, este programa tem na Capoterapia sua maior referência e será estendido a milhares de pessoas idosas no Brasil, gerando trabalho e renda para centenas de profissionais capoeiristas..
 
MERCADO DE TRABALHO PARA CAPOEIRISTA – A partir da inserção da Capoterapia no Programa Vida Saudável, surge para os profissionais capoeiristas, um novo mercado de trabalho em todos os Estados brasileiros. As estatísticas mostram que a idade média do brasileiro aumentou de 60 para 66 anos obrigando os governos municipais, estaduais e federal a investirem mais dinheiro nas ações públicas previstas no Estatuto do Idoso. De olho nesse mercado, a Associação Brasileira de Capoterapia oferece cursos para capoeiristas interessados em atuar como capoterapeutas habilitados para atuar com a 3ª. Idade. É um amplo mercado de trabalho para profissionais da capoeira. “Basta assimilar os conhecimentos e técnicas próprias da Capoterapia, organizar turmas e ganhar dinheiro com a Capoterapia.” Declara Mestre Gilvan, o criador da mais nova modalidade derivada da Capoeira: a Capoterapia.
 
O EVENTO – O Encontro Nacional de Capoeira também serve de laboratório para estudantes universitários pesquisar junto ao público presente na Rodoviária de Brasília, o que representa a Capoeira para o esporte e para a cultura brasileira. A imagem da Capoeira nem sempre é positiva junto ao público. Isso ocorre justamente porque a mídia sempre foca a Capoeira de forma tendenciosa com reflexos sobre a opinião popular. Ao tomar conhecimento das origens da Capoeira o público se emociona e muda rapidamente de opinião. A Capoeira é luta mas é também tradição e cultura e, por usar elementos da cultura africana, emociona a quem assiste uma roda de Capoeira. Foram estas as principais contribuições do 16o. ENCA. Ao mostrar na Rodoviária de Brasília esta arte genuinamente brasileira, o ENCA foi vitrine para a promoção de uma luta que também é esporte e terapia para idosos, crianças, jovens e adultos. No dia seguinte ao evento, milhares de pessoas interessadas em conhecer e praticar Capoeira, telefonaram para a Secretaria Nacional do ENCA para se informar sobre os locais, no Distrito Federal, onde se poderia aprender Capoeira. A exposição da Capoeira desperta nas pessoas o interesse por sua prática e estimula a expansão de escolas, centros e clínicas especializadas em Capoeira. Justifica o idealizador, Mestre Gilvan, que antecipa o convite a todos os amantes da Capoeira espalhados pelo Brasil e pelo exterior, para, em 2007, participar o 17º. ENCA e contribuir para a consolidação do evento no calendário nacional de eventos voltados para a promoção da Capoeira que, mais que um esporte, é uma opção de vida na qual se preserva a história dos antepassados, o respeito ao ser humano e à natureza e exalta valores como solidariedade, reciprocidade e liberdade.
 
MESTRES DA CAPOEIRA – Nascida da necessidade dos escravos fugitivos das senzalas se defenderem dos seus perseguidores, a Capoeira foi estigmatizada durante muitos anos já que alguns dos golpes eram mortais. Proibida sua prática, a Capoeira foi por anos, condenada como prática de gente vadia, sem ocupação e sem profissão definida.
Graças aos Mestres Bimba e Pastinha, a Capoeira foi promovida à condição de luta, dança e arte. Foram eles que ordenaram, através de publicações ilustradas e comentadas, a prática da Capoeira, inicialmente como luta de rua, depois como arte e dança e posteriormente incorporada pelas academias até ser levada para a Europa e América do Norte, de onde foi difundida para outros países até ser focada pelo cinema em filmes de lutas e artes marciais. Graças aos mestres pioneiros, hoje a Capoeira é celebrizada e praticada em 150 países nos cinco continentes.
 
A CAPOEIRA SOCIAL – Desde sempre a Capoeira foi instrumento de socialização e inclusão dos menos favorecidos economicamente. E, ao contrário do que a maioria pensa, a Capoeira como atividade econômica, não tem dado aos seus mestres, o devido retorno financeiro. A prova é a história de vida de alguns dos mais conhecidos mestres que nunca obtiveram lucros significativos ensinando Capoeira. Os maiores mestres, Bimba e Pastinha, morreram pobres, mesmo tendo promovido a Capoeira ao nível de luta nacional.
 
Atualmente um dos maiores e mais respeitados Mestres de Capoeira, Mestre Sabú, conhecidíssimo em Goiás e na Bahia, passa por dificuldades financeiras e enfrenta uma situação dificílima não dispondo de recursos financeiros para cuidar da saúde. Durante toda a vida, Mestre Sabú atuou voluntariamente atendendo meninos e meninas de rua em Goiânia. Num depoimento para o Documentário Mestres da Capoeira, realizado pela Associação de Capoeira Ladainha, emocionado, Mestre Sabú pediu socorro aos capoeiristas de todo o Brasil, para ajudá-lo com qualquer quantia em dinheiro, que lhe possibilite pagar uma operação na perna esquerda, atacada por problemas de circulação, resultado do estresse – doença que ataca o sistema nervoso e provoca danos ao corpo.
 
Mestre Sabú se emocionou ao contar sua trajetória de vida tirando das ruas de Goiânia, adolescentes em situação de risco social proporcionando a eles, acesso a informação e formação profissional abrindo-lhes perspectiva de vida, de ascensão social e econômica. Agora, já com a idade avançada, o velho mestre tem que recorrer à ajuda humanitária para cuidar da saúde, já que o governo o abandonou à própria sorte, negando a ele um tratamento justo para preservar sua saúde.
 
Para contribuir com o Mestre Sabú, deposite qualquer quantia na conta 70.006 – 1 Bradesco, em nome de MANOEL PIO DE SALES – O Mestre Sabú. Infelizmente é assim que o Brasil trata seus mestres. E, cabe a nós, que amamos e respeitamos a Capoeira, ajudá-lo nesse momento.
 
 
Leão Hamaral. Jornalista – 0xx61-8464.1820

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