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Nos caminhos e trilhas de Dandara

É agradecendo à organização institucional Akanni, especialmente Reginete Bispo, minhas parceiras e parceiros de equipe, todas as Dandaras, meu mestre de Capoeira, professor e amigo, Paulo Antônio da Costa e ao universo inteiro que minhas palavras se entrelaçam entre sentimentos de amor, gratidão, alegria, satisfação, encorajamento, docilidade, pureza e muita sabedoria. Conhecimentos adquiridos, amizades, verdadeiras pontes humanas, com as quais oportunamente ampliamos nossas habilidades, transfiguramos atitudes comportamentais, culturais, sociais e políticas na sociedade como um todo.

Oportunidade convergente, positiva, coesa, duradoura, principalmente para a vida das mulheres, sobretudo nós mulheres negras. Nossa participação política, que historicamente fora destituída dos poderes de decisão e de intervenção na sociedade, agora se consolida em torno das crescentes políticas públicas, gerando novas perspectivas de vida, valorização pessoal, reconhecimento coletivo, sentimentos de pertencimento e de justiça junto às mulheres empoderadas nas comunidades, bairros, vilas, favelas, quiçá do mundo!

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Formatura do curso de formação política e construção do pensamento crítico para mulheres negras, promovido pelo instituto Akanni e UFRGS. (Divulgação)

Acreditar que as mudanças de fato ocorram na esfera global, é alimentar, fomentar e promover novas metodologias e práticas, especialmente através do esporte e da cultura. É abrir portas para uma sociedade mais plena, digna e atuante de forma crítica no meio em que vivemos. Logo teremos mais saúde, mais educação e vida digna. Sem dúvida, a educação é a ferramenta mais potente e eficaz na vida de qualquer indivíduo. Não somente para uma boa articulação na sociedade, mas sobretudo para alcançar e assegurar direitos constituídos democraticamente. Mas para além disso, absorver os conteúdos escolares, acadêmicos e desenvolver de fato, aprendizagem integral e qualificada, dinâmica e plural nos processos de ensino aprendizagem.

Estas são fortes razões, dentre outras percepções que o Projeto Primeiros Passos, Iniciação à Capoeiragem: Uma Proposta Capoeiristica com Mediações Pedagógicas nas Escolas Públicas, vem concretizando-se. Ele é uma criação inspirada através das vivências da cultura afrobrasileira e africana e a religiosidade inserida nas teorias e práticas desenvolvidas junto à Escola de Capoeira Guerreiros, instituição pela qual, traz essencialmente nas ações pedagógicas, o elo facilitador para a construção da cidadania e a liberdade extraída nos fundamentos da arte capoeira.

Um dos objetivos principais e metas estabelecidas projetadas nos processos metodológicos, é expandir o pensamento dos alunos e alunas, onde todos e todas possam trabalhar a coordenação motora através da ludicidade com brincadeiras africanas e indígenas, conhecendo a historicidade dos povos e estabelecendo ligações com as suas vivências. Ampliar o diálogo a partir do jogo da capoeira favorece a aprendizagem, o desenvolvimento e a liberdade de forma progressiva, oportunizando práticas lúdicas, inclusivas, processuais e coletivas. Aprimorando assim a flexibilidade, o equilíbrio, a destreza corporal, aliviando as tensões do dia a dia, proporcionando criatividade e liberdade de movimentos, manifestando desejos, emoções e principalmente transformando sonhos em realidade motivados pelas práticas da capoeiragem.

Em tempos de conflito acirrado, seja ele pela desvalorização da educação, seja pela mercantilização do ensino, cujos objetivos incidem diretamente no aumento da desigualdade social, é importante ter em mente de forma a despertar a conscientização constante dessa problemática que fere os direitos humanos, sobretudo da criança, jovem ou adolescente em vulnerabilidade social, pois, quem assegurará seus direitos enquanto cidadão e cidadã em meio a esse mundo caótico?

As potencialidades da educação, cujas metodologias implementamos nos mais diversos espaços de atuação contemplam com muito sucesso a população que se apodera desses saberes diversos e plurais. Uma educação mais aberta, menos hierárquica, menos burocrática, com possibilidades de participação comunitária democrática efetiva e de valorização do ser humano integralmente, é o que precisamos.

Nesta trajetória, onde buscamos incansavelmente dar continuidade à um legado de luta com ações anti racistas e de combate a toda e qualquer forma de violência, construção e reconstrução identitária, equidade para as mulheres, vamos reivindicando através de nossas pautas, políticas públicas de ações afirmativas para minimamente suprir as necessidades e reverter um quadro de dor e sofrimento.

Projetos que ao longo da história foram adormecidos, excluídos dos espaços de poder de decisão se tornam concretos, reais e transformadores onde as vertentes do universo afro-brasileiro são jorradas abundantemente e assim eternizamos nossas vivências no mundo numa imensa explosão de ideias e conhecimentos conectados. Resgatados e transformados na maior e melhor vivência, estimulada e enriquecida pela arte desenvolvida dentro de um contexto de luta pela resignificação sociopolítica, cultural e afetiva.

 

Fonte: https://www.sul21.com.br
Nos caminhos e trilhas de Dandara (por Élida Machado)

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