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Ano Internacional da Mulher Capoeirista no Jornal do Capoeira

O Camarada Miltinho e toda a equipe do Jornal do Capoeira, entram em 2006 com uma proposta nuclear… "A mulher e a Capoeira".
De São Paulo uma agradável surpresa foi o texto de Teca Sanches, abordando A Mulher e o Código Implícito do Olhar: A mandinga feminina.
 
A porta está aberta o canal de comunicação disponivel… Precisamos é de mais Mulheres dispostas a escrever e fazer valer a sua voz!!!
Como diz o meu amigo Astronauta: "Vamos no conta gota… o importante é somar… e evoluir…"
  
Nós do Portal Capoeira, como site parceiro e irmão do Jornal do Capoeira, não podemos deixar passar em branco um tema tão atual e de fundamental importância dentro e fora das rodas de capoeira e "papoeira". 
 
… Não não não… a mulher não nasceu para sofrer… Não não não… ela não deveria morrer…
… Não não não… a mulher não nasceu para sofrer… Não não não… ela tem de lutar por seu lugar!!!
    (refrão já devidamente adaptado em respeito a força e encanto das "Mulheres Capoeiras")
  
Segue a matéria publicada no Jornal do Capoeira.

CAPOEIRAGEM & PROPOSTA 2006
Ano Internacional da Mulher Capoeirista no Jornal do Capoeira
Jornal do Capoeira – www.capoeira.jex.com.br

Edição 56 – de 15/Jan a 21/dez de 2006

 

Milton Cezar Ribeiro
Jornal do Capoeira – 01/2006
São Paulo – SP
Portal Capoeira Ano Internacional da Mulher Capoeirista no Jornal do Capoeira Capoeira Mulheres
Mulher Capoeirista
Estivesse a ONU encarregada de decretar "Anos Internacionais" nos diversos setores e manifestações da sociedade mundial, 2006 seguramente, seria o Ano Internacional da Mulher Capoeirista.
 
Afirmação aparentemente suspeita, posto que nosso grande tema é sempre Capoeira e a mulher, de uma ou de mil maneiras, está sempre dentro deste tema. Trata-se, entretanto, de afirmação muito razoável e muito bem fundamentada.
 
Senão, vejamos.
 
As Sociedades Africanas, como é do conhecimento de todos, de modo geral, são essencialmente matriarcais. A mulher é a base da Família na maioria dos países daquele continente, responsável pela transmissão dos primeiros ensinamentos e pela educação de sua prole. É o elo maior entre "gerações", garantindo a transmissão do que chamamos "ancestralidade".
 
Essa ancestralidade começa a ser passada já no ventre materno, quando as primeiras informações vitais, sempre carregadas de conhecimentos e sentimentos "impregnados" em nossos DNA"s, são repassadas. É no ventre materno que se recebe as vibrações positivas para que a nova vida prospere e dê também seus frutos. Somente mais tarde é que a figura masculina terá a oportunidade de "acrescentar algo" (sem negar o mérito masculino na parceria inicial carnal…). Se assim é, biologicamente, o mesmo não ocorre em termos de reconhecimento social, posto que a mulher é sempre classificada como ocupando posição secundária na família, na sociedade e…na capoeira… Em suma, embora principal jogador da equipe, a mulher continua sendo rotulada como mera coadjuvante.
 
Este quadro, felizmente, vem sendo mudado radical e rapidamente. No Mundo maior e no mundo específico da Capoeira. Com a mulher, cada vez mais, ombreando-se ao homem, deixando de ser a "rainha do lar" (eufemismo para "doméstica sem reinado") e passando ser parceira atuante do seu marido, Ou então, simplesmente, partindo para brilhante carreira "solo". É só checar as estatísticas do mundo, não apenas na África, mas nos quatro cantos do mundo. Mesmo assim falta muito a ser conquistado!
 
Existe um longo caminho ainda a ser percorrido. E o mundo da capoeira dá vários exemplos de problemas machistas que devem urgentemente serem superados. Na sua parte cantada, por exemplo, urge uma revisão completa, eliminando-se seu alto teor de preconceito em relação ao papel da mulher na sociedade (e na Roda). Sei que alguns mestres de capoeira, mais tradicionalistas, contra-argumentarão lembrando que "o repertório musical, incluindo as letras dessas músicas, é pura tradição não podendo ser modificado, revisto e/ou atualizado". Mas, mesmos esses tradicionalistas, terão que admitir que a quase totalidade das músicas que se referem à mulher em geral e à mulher-capoeirista, em particular, são extremamente discriminatórias, quando não "condenatórias" e debochadas. Pintam a mulher como a grande e única geradora de problemas, "causadora de discórdia, perdição dos homens, símbolo de maldade e falsidade". Todos nós hoje em dia, convenhamos, sabemos que não é bem assim que a banda toca. Nos cânticos que ainda campeiam por aí, quando o homem é comparado com a cobra – símbolo muito presente na capoeira, especialmente nas cantigas e ladainhas – é para salientar sua grande astúcia, sua malandragem extremamente inteligente, seu interminável arsenal de mandinga. Já a mulher, quando comparada a este mesmo símbolo (cobra) é para evidenciar seu perfil traiçoeiro, venenoso, peçonhento: "deixa o pobre na miséria" e "o pobre sem vergonha…".
Sobre este assunto Mulher e Canto na Capoeira, a Dra. Maria José Somerlate Barbosa, professora de literatura e cultura brasileiras da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos,  desenvolveu excelente estudo que resultou num excelente artigo que deveria ser lido por todos.

De forma brilhante, Mestre Cláudio (Angoleiros do Sertão – Feira de Santana-BA) prestou homenagem a esta professora.  Homenagem feita através de  emocionante e emocionada ladainha de angola, registrada em seu CD, feito  em parceria com Mestre Felipe de Santo Amaro. A bem da verdade essa homenagem e esse cd são frutos de mais uma produção da Associação de Capoeira Angola Marrom e Alunos, Copa-Leme, Rio.

"A Mulher em todo mundo

É peça muito importante

Cuida da casa e dos filhos

Sofre quando está gestante

Só esconde o valor dela

Quem for muito ignorante

É do ventre da mulher

Que sai toda geração

Desde o General de arma

Ao Governo da nação

Deve honra a mulher

Pela sua posição

Nem só para ser doméstica

A mulher foi preparada

Temos mulher na Cultura

Juíza e Deputada

Com toda sua virtude

Merece ser respeitada

Camaradinha…

Iê viva meu Deus..

Iê é hora, é hora

Iê jogo de angola…"

Autoria: Mestre Cláudio Angoleiro do Sertão

Este ano de 2006 promete!
 
Muito especialmente no que tange ao tema Mulher na Capoeira, já estando programados vários eventos:
1)  Primeiro Encontro Europeu de Angoleiras, Colônia (Kölm), Alemanha, Abril de 2006;
 
2)  VI Encontro de Mulheres Angoleiras, Grupo de Capoeira Angola Irmãos Guerreiros – Taboão da Serra, São Paulo;
 
3)  O Grupo de Estudo Sementes do Jogo de Angola, sob a coordenação do Mestre Jogo de Dentro e da Contramestra Daisy, estará promovendo um ciclo de palestras e discussões temáticas, sendo que no mês de Março o tema será "A Mulher na Capoeira Angola";
 
4)  Mestre Dominguinhos e a Prefeitura Municipal de São Sebastião (SP) promoverão na semana do 8 de março um conjunto de atividades – rodas, debates e palestras – sob o tema: Mulher, Capoeira e Sociedade, uma questão de consciência;
 
5)  Na Paraíba, o Contramestre Rafael Magnata realizará em novembro de 2006 seu Encontro Anual de Mulheres Capoeiristas.  Bené, nosso correspondente daquele Estado, já se comprometeu fazer a cobertura completa do evento;
 
6)   No Rio de Janeiro a Federação de Capoeira Desportiva do Rio de Janeiro (FCDRJ – Mestres Bogado e Paulão), por meio de seu Departamento Feminino, estará desenvolvendo atividades especiais no mês de março de 2006;
 
7)   O mesmo acontecerá com a FCERJ – Federação de Capoeira do Estado do Rio de Janeiro, sob a coordenação geral da Mestra Cigana – Fátima Colombiano;
 
8)   O Grupo Nzinga Capoeira Angola realizará o Primeiro Encontro de Angoleiras do Estado de São Paulo, evento este previsto para ser realizado em novembro de 2006 sob a coordenação da Dra em Educação e Mestra em Capoeira Angola Rosângela de Araújo – Janja.

O Jornal do Capoeira, por meio da presente crônica, estabelece (que ousadia!), ao menos no âmbito deste veículo de comunicação sócio-capoeirístico, que 2006 será o Ano Internacional da Mulher Capoeirista. Assim sendo, estamos convidando, diria mais, conclamando a comunidade capoeirística – mulheres ou não – a escrever sobre o tema "Mulher, Capoeira, Sociedade, Respeito e Evolução".

Viva a Mulher Capoeirística,

Viva Mestra Joraci Maria – a mestra maior (Mãe) em minha vida.

Miltinho Astronauta
Nota da Ilustração: Família Ribeiro = Ariovaldo "Cabeludo" e Miltinho Astronauta nos berimbaus; Mestre Chico & Mestra Joraci Maria no jogo de capoeira, enquanto o caçula da família acompanha com palmas até chegar o momento de também entrar na "roda".

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