CODIGO DE ETICA

ÉTICA DIDÁTICA

Aos professores é dado todo o direito de criarem os seus objetos/formas de ensino da capoeira, de acordo com suas condições, locais de trabalho, características, idades dos alunos, ambiente social e outros fatores que o auxiliem ou limitem no exercício do ensino da capoeira.
Todo professor tem a obrigação de manifestar e fazer compreender aos seus alunos os princípios da capoeira, sua identidade, origem, grandes nomes dos seus precursores, etc; de forma implícita ou explícita, dependendo das faixas etárias e outros fatores típicos de cada turma/escola, bem como ensinar e respeitar os princípios deste Código.
A capoeira pode ser ensinada em qualquer local, desde que ofereça as condições de segurança e higiene aos seus praticantes.
Os professores, sempre que possível, devem exigir de seus alunos o uso de uniforme limpo e completo.
Nenhum professor deverá impor posturas rígidas aos adeptos da capoeira, sendo facultado aplicar-se regras de eficiência no desenvolvimento, na movimentação e no resultado final da aprendizagem da capoeira.
Os professores devem ter sempre em conta as limitações e potenciais de seus alunos, devendo procurar ensiná-los a explorarem seus recursos físicos e faculdades naturais.
A capoeira como arte nacional terá sempre sua vinculação às nossas tradições e história, sendo obrigação dos professores incentivarem nos alunos o hábito do estudo de nossa história e de nossas origens.
Nenhum professor de capoeira poderá fazer uso de técnicas ou recursos típicos de outros esportes dentro da aula a iniciantes de capoeira, ficando facultado o estudo de outras artes somente aos capoeiristas, alunos e professores, que já possuam a maturidade sufuciente para não misturar as características, regras e recursos de outros esportes à capoeira.
São considerados iniciantes, para esse entendimento os capoeiristas graduados até a corda verde-escuro da graduação da ABPC.
É obrigação dos professores, conhecerem, ensinarem e exigirem a relação entre os toques de berimbau e o tipo de jogo de capoeira.
Todo professor deve ensinar e dar exemplo de respeito aos mais antigos, tendo os mais velhos sempre a preferência nos jogos de capoeira, a seu critério.
É obrigação do professor desestimular os seus alunos de levarem ou trazerem comentários de natureza agressiva ou que estimule a rivalidade entre os grupos, sendo falta grave a troca de insultos entre professores particularmente na presença de alunos ou por intermédio desses.
Se ficar comprovado que algum professor estimulou ou estimula alunos seus a levarem ou trazerem insultos ou desagravos de qualquer natureza, a outros grupos ou colegas, o mesmo podera ser advertido ou mesmo punido pela representação da ABPC Regional do seu Estado ou Nacional.
O professor não deve jamais estimular seus alunos à violência de qualquer espécie, sendo passivo de punição e incompatibilização com a ABPC o professor que assim proceda e que fique comprovado.
É vedado aos professores utilizarem para seus interesses ou seus serviços – sem remuneração – os seus alunos de qualquer idade!
É vedado aos professores qualquer forma de agressão moral ou física aos seus alunos.
Será considerada falta grave o ato do professor que mantiver relações amorosas ou sexuais com seus alunos ou alunas menores de idade, particularmente no local de ensino da Capoeira.
A ABPC reconhecerá os professores auto-didatas desde que os mesmos respeitem e declarem aderir ao seus regulamentos e preceitos, e desde que sejam aceitos pelos representantes regionais da ABPC, na forma dos seus Estatutos ou regulamentos.

ETICA DESPORTIVA

A competição desportiva de capoeira se regerá por regulamentos amplamente debatidos pelos envolvidos e serà sempre feita em locais que permitam a assistência do público.
Independente da estrutura das competições de capoeira, as mesmas serão sempre conduzidas de forma a preservar seus valores tradicionais e princípios básicos.
A capoeira, quando em competição desportiva terá sempre como árbitros mestres e professores de reconhecida tradição e notoriedade no meio capoeirístico local, regional e nacional, conforme a competição.
É obrigação dos professores ensinarem seus alunos a, quando em competições desportivas, terem sempre em mente a preservação física e moral dos adversários, devendo ainda criar e estimular todas as condições de fraternidade e de alto espírito comunitário do esporte.
Todos os professores tem a obrigação de prepararem seus alunos tanto para a vitória quanto para a derrota, e a terem sempre em conta a respeitabilidade mútua com os seus adversários.
Nenhuma competição de capoeira deve ser feita retirando-lhe as características fundamentais ou que exponha a regras estranhas os seus praticantes. Fazem parte das características fundamentais da capoeira, particularmente sua música, instrumentos e ou outros princípios, citados no presente, nos Estatutos da ABPC e outros, do conhecimento e consagrados pelos capoeiristas e mestres.

ÉTICA MARCIAL

A capoeira reune todas as possibilidades de uma arte-marcial. É considerada marcial toda a arte de guerra – a palavra vem de Marte – o Deus da guerra, entre os romamos.
Podendo ser armadas ou desarmadas, as artes marciais mais conhecidas não incluem a capoeira, isso porque o seu poder combativo não é de dominio público. No entanto, a ABPC reconhece essa parte da capoeira e recomenda aos seus afiliados que procurem praticar e demonstrar sempre que possível os recursos de luta da capoeira ao público, para ampliar o seu respeito e o nùmero de adeptos, evitando-se, no entanto;

  • expor gratuitamente todo o seu potencial combativo e com isso empobrecer o elemento mais importante que a compõe numa luta, a surpresa! É dever portanto, dos capoeiristas preservarem os recursos combativos da capoeira evitando-se que os mesmos lhes sejam roubados ou assimilados gratuitamente por outras modalidades.
  • não se recomenda também aos associados participarem de combates para fins exclusivamente comerciais ou financeiros;
  • não deve haver participação de menores de idade em confrontos marciais;
  • não se recomenda a participação de combates que não tenham como base regras de preservação moral e física dos contendores;
  • não devem os capoeiristas, em hipòtese alguma, transferir para a capoeira a responsabilidade por sua derrota, uma vez que o derrotado é o lutador e não a arte. Ninguém reúne condições de representar a totalidade dos recursos da capoeira, portanto, se alguém é derrotado, essa derrota não será atribuída à capoeira! É responsabilidade dos capoeiristas assumirem esse princípio antes ou depois dos combates que participarem.

ÉTICA MORAL E SOCIAL

A capoeira tem sua origem na luta pela igualdade entre os homens e porisso ela precisa ter preservada a convivência solidária e democrática dos seus adeptos à sociedade como um todo e aos camaradas de arte em particular.
É obrigação moral dos professores de capoeira se distinguirem como cidadãos de bem. Por isso é esperado que eles se destaquem:

  • por jamais expor um semelhante a qualquer forma de humilhação (a não ser em defesa de  sua própria integridade ou de outrem, em situação de inferioridade);
  • por defender sempre o mais fraco;
  • por respeitar as pessoas de mais idade; as mulheres e as crianças;
  • por estar sempre dentro da lei;
  • por defender a democracia e a liberdade;
  • por jamais perder o auto-controle;
  • por respeitar os adversários;
  • por defender os principios nacionais, a língua e os demais fundamentos da capoeira;
  • por honrar os mestres e professores;
  • por preservar sempre a integridade física e moral de seus adversários;
  • por não discriminar qualquer pessoas por credo, raça, cor, nível social, etc;
  • pela sua auto-disciplina e consciência moral;
  • por jamais cometer qualquer forma de covardia;
  • por defender a capoeira além dos seus próprios interesses pessoais;
  • por não utilizar seus conhecimentos para autopromoção pessoal ou para levar vantagem sobre pessoas indefesas ou inocentes.

A IDENTIDADE CULTURAL DA CAPOEIRA

Ideal seria que nenhum capoeirista perguntasse por que a capoeira precisa de uma identidade. No entanto, é fato que parte deles perguntarão essa razão. Então, para exemplificar o sentido da identidade ao qual estamos nos referindo, lembramos:

  • o judô não permite chutes;
  • o boxe não usa dar tesoura;
  • o karatê não usa luvas;
  • a luta greco-romana veste calção como uniforme;
  • entre muitos outros exemplos que poderiam ser dados, e a capoeira?
    Bem, como exemplo, diríamos que a capoeira é jogada ao som da música do berimbau, que é seu instrumento básico… Mas isso é só um exemplo.

A idéia do presente código de ética é estabelecer outros parâmetros mais amplos para a capoeira.

A seguir são apresentadas algumas propostas para serem adotadas como princípios inseparáveis da identidade da capoeira:

A capoeira é sempre jogada: o jogo da capoeira assume diversas formas de manifestações, segundo o momento em que esteja ocorrendo, e pode ser:

  • Esporte: quando em competições para as quais sejam estabelecidas regras prévias tais como: tempo de duração, forma de pontuação, categorias de participantes, regras de estilo, número de jogos por fase, arbitragem, etc., e quando é estudado e desenvolvido com visão de desempenho físico-motor, tais como capacidade aeróbica, velocidade, explosão, elasticidade, etc.;
  • Vadiagem/Lazer: quando em manifestações espontâneas em locais públicos, ou particulares, sem regras prévias ou restrições, sem tempos determinados, sem responsável prévio, sem uniforme, etc;
  • Folclore/apresentação: quando em exibições de grupos especialmente preparadas para um momento específico, em palco ou outros ambientes próprios para isso, podendo ser usado esquemas combinados, movimentos de efeitos (esquetes), e nesses casos podem ser representados números de outras artes e folclores associados à capoeira. Nesse tipo de expressão da capoeira, são válidas as manifestações tradicionais da capoeira ao mesmo tempo em que, como folclore é de domínio público, por isso numa manifestação com essa conotação é livre a criação própria de cada grupo, ou mesmo comunidade. É obrigação dos professores de capoeira, quando organizarem ou participarem dessa forma de manifestação, informar ao público e autoridades presentes a natureza específica desse momento: a capoeira tem muitos outras facetas, que para serem exibidas são necessárias outras condições e regras;
    Espetáculo Plástico ou Coreográfico: quando seus movimentos forem adotados, combinados entre si, visando um efeito de dança ou coreografia, nesse contexto, a capoeira pode ser entendida como um espetáculo de dança capoeirística, onde a intenção maior é explorar os recursos de sua beleza plástica rítmica, sensualidade, etc.;
  • Jogo Marcial/Luta: quando em confronto marcial entre adeptos da capoeira ou de outras lutas, nesse caso deve haver a definição prévia das regras a serem respeitados, peso, pontuação, etc. bem como os critérios de vitória, quando se tratar de outras lutas. Esse tipo de manifestação não deverá ser de iniciativa das Entidades representativas da capoeira, sendo no entanto livre aos seus associados participarem quando assim o desejarem em eventos que não os da capoeira; respeitadas as regras éticas do presente código;
  • Jogo Psicológico/Mandinga: essa é a forma de manifestação mental da capoeira, que se baseia em confrontar ou examinar o conhecimento e o nível de experiência dos capoeiristas, através de recursos e argumentos de qualquer ordem, que permita a demonstração e a discussão dos aspectos relevantes da arte do jogo da capoeira. Sondar os sentimentos dos adversários; testar os seus reflexos mentais mais elevados e o conhecimento entre os capoeiristas. Essa forma de identidade é particularmente reconhecida pelos capoeiristas mais antigos, não tendo regras prévias, a mandinga também é admitida dentro do jogo físico, e se caracteriza por criar ilusões no adversário tais como: se machucar, estar com medo, ser mais fraco, não conseguir acertar, estar cansado, etc. Esse é o estágio mental da evolução do conhecimento do capoeirista, a fase mais elevada da arte da capoeira…

Além dessas formas de pratica da capoeira é também parte inalienável dessa arte a música, o berimbau, o pandeiro, as palmas e os seus cânticos particulares.

A capoeira deve ser jogada no espaço de um círculo ou semi-círculo, visando manter suas relações com os rituais tradicionais afro-brasileiros e também pelos aspectos de acústicas, de visibilidade e de participação coletiva na sua manifestação mais essencial e tìpica que é a roda de capoeira.
A capoeira é uma manifestação coletiva, devendo os praticantes desde cedo aprenderem que são parte importante da manifestação capoeirista e que são os responsáveis em promover a vibração necessária para que aconteça na sua plenitude.
A capoeira será sempre praticada na lingua brasileira, sendo obrigação dos capoeiristas impedirem qualquer mudança na nomenclatura dos golpes, seguências ou símbolos usados na prática da capoeira em outras línguas que não o Português/Brasileiro. Serão permitidas explicações e descriçào sobre os golpes e movimentos da capoeira em outras línguas desde que os seus nomes sejam sempre mantidos em português.
É permitido na capoeira o uso de cânticos em dialetos afro-brasileiros, devendo ser evitado recorrer-se aos pontos de umbanda, candomblé, e outros rituais religiosos na roda de capoeira.
A música da capoeira é própria, devendo os capoeiristas impedirem a introdução de outros estilos musicais e letras de músicas estranhas à capoeira nas rodas, ou em outras manifestações capoeirísticas.
A cor do uniforme oficial do capoeirista è branca, sendo vedado em competições oficiais a utilização de outras cores no uniforme do capoeirista independente da graduação. Detalhes de identificação serão admitidos desde que não comprometam o conjunto.
Em manifestações folclóricas ou plásticas são admitidos vestuários livres.
Fazem parte da essência capoeirística os costumes nacionais do Brasil, devendo ser sempre procuradas as origens de nossa terra para embasar as teorias e as práticas da capoeira. Nenhum capoeirista deve introduzir idéias ou símbolos na capoeira, alheias ao povo brasileiro, particularmente que alterem suas características primárias, como gestos, movimentos, atitudes, formas de relacionamento, música, cânticos, etc.
Será considerado persona non grata e traidor, o capoeirista que introduzir ou deixar introduzir valores estrangeiros à capoeira, de tal maneira que descaracterize sua identidade e sua nacionalidade.
São reconhecidos como estilos pela ABPC a capoeira Regional e a capoeira Angola.
Qualquer filiado à ABPC deverá respeitar a existência desses dois estilos.
Qualquer outro estilo terá que se fazer justificar e se fundamentar, em todos os aspectos para que possa ser considerado um novo estilo de capoeira.
Somente uma Convenção Nacional do ABPC pode aprovar um novo etilo de capoeira.

A capoeira Regional se caracteriza pela adoção dos princípios criados pelo seu fundador, Mestre Bimba, sendo dever de honra a vinculação da Regional ao seu precursor.
São princípios da capoeira Regional:

  • Os toques de berimbau da capoeira Regional;
  • As seguências didáticas do Mestre bimba (oito seguências do Mestre);
  • A cintura desprezada “Balão cinturado”;
  • e outras características próprias da Regional, definidos por seus seguidores.

A capoeira Angola possui suas próprias tradições, devendo ser preservadas as suas características e princípios. A capoeira Angola se diferencia da Regional, basicamente por:

  • Seus toques tradicionais de berimbau;
  • As “chamadas” de Angola;
  • A origem de seus adeptos, o vínculo direto ou indireto com mestres Angoleiros;
  • entre outros aspectos, próprios do estilo, definidos pelos seguidores de Angola.

ESPIRITUALIDADE NA CAPOEIRA

A capoeira visa o crescimento espiritual do seu praticante…
Essa espiritualidade ocorre, em particular, quando o capoeirista atinge a maturidade do seu desenvolvimento. Porém, os professores devem motivar os seus alunos na intenção de buscar a sua realização espiritual.
Quando uma capoeirista consegue reconhecer as suas reais possibilidades e mesmo assim não as utiliza gratuitamente, ou quando ele evita revelar seus conhecimentos gratuitamente ou para se autopromover socialmente, está se desenvolvendo espiritualmente.
A capoeira é um caminho para os seus praticante se aperfeiçoarem como seres humanos, e atingirem a plenitude de sua cidadania e espiritualidade.
A música da capoeira deve ser entendida e manifestada como um transporte para os estágios mais elevados da consciência e através de sua prática e vivência o capoeirista deve buscar estabelecer conexão com as energias superiores da vida, com as mensagens dos capoeiristas nossos antepassados e com os mais elevados sentimentos humanos de solidariedade, de felicidade e de paz.
A capoeira é uma manifestação que deve atingir a alma humana no seu mais profundo entendimento, acima das sensações puramente físicas.
A saúde do corpo e a plenitude do espírito devem ser metas da prática da capoeira.
O capoieirista deve sempre buscar a superação de suas limitações e ansiedades e a capoeira deve ser uma forma de libertação para seus adeptos, seja dos vícios, dos medos, dos limites, ou de outras formas quaisquer de mediocridade humana.
É obrigação dos capoeiristas buscarem o seu crescimento interior. A possibilidade de crescimento interior è infinita!
A grande diversidade de entendimentos sobre a capoeira, associada à grande lacuna na sua organização e coordenação oficial, a tem transformado a cada dia num maior emaranhado de definições, tanto práticas quanto teóricas e sua divulgação, quanto maior, mais influências são acrescentadas, num sem-número de inovações, seja de natureza didática, desportiva, marcial, espiritual e também, perigosamente, de identidade.
Num encontro realizado em Brasília-DF – na Universidade de Brasilia, em 1990 – o Doutor Milton Freire, conhecido na capoeira como Mestre Onça-Tigre, descedente de Mestre Bimba, falou sobre a versatilidade da Capoeira e de como o Mestre Bimba, o criador da Regional foi revolucionário por recriar e redefinir a capoeira.
De certa forma o Mestre Onça-Tigre deu uma rasteira nos capoeiristas fiéis a uma capoeira padronizada e definitiva, ao afirmar que a “capoeira é dialética”, quer dizer, a capoeira se ajusta à realidade onde ela é aplicada ou praticada… Ela se funde com o ambiente em sua volta. Daí surgem inúmeras e infinitas formas de treinamento e entendimento, além de símbolos os mais diversos, associados à capoeira. Todos, em princípio, partes da capoeira.
É lógico que não se está defendendo qualquer coisa como sendo capoeira, ou pelo menos não achamos que tudo possa ser entendido como a capoeira regional baiana, ou a capoeira angola…
Nesse ponto é que começamos a falar da nossa questão básica, ou seja, as definições e fundamentos da capoeira: a CAPOEIRA REGIONAL e a CAPOEIRA ANGOLA…
Essa discussão carece de um ponto de partida, um ponto de apoio teórico e uma convenção em que se basear. Nesse sentido é que surge a ABPC e é essa a sua principal tarefa: criar um fundamento comum na prática da capoeira; organizar e divulgar uma abordagem profissional dentro da militância capoeirística e com isso, ocupar um importante espaço de integração dos capoeiristas, seja a nível de seus valores tradicionais, preservando-os, seja a fim de permitir sua evolução dentro de uma espectativa moderna e ao mesmo tempo fiel a seus princípios éticos.
Essa é a principal questão do presente trabalho: fornecer uma abordagem ética à discussão e difusão da capoeira, à sua prática e à sua teoria… E é essa a nossa intenção!

POR QUE É NECESSARIA A ÉTICA?

Numa referência bastante superficial sobre a ética, encontramos as seguintes definições básicas:

ETHOS Palavra grega de onde provém a ética, que significa forma de comportamento social de um indivíduo ou grupo humano (roupas, atitudes, cultura) indicadora de que seu portador faz parte de determinada classe social ou grupo étnico.
ÉTICA – parte da filosofia que aborda os problemas da moral.

Existem muitas outras definições a respeito da ética, mas só nos interessa uma explicação mínima, visando justificar essa discussão. Pois, afinal,se considerarmos válida a questão do comportamento dos capoeiristas ou dos professores de capoeira, então a ética já está presente em nosso pensamento; Ou seja, mesmo sem ter a idéia clara da ética, já discutimos isso o tempo todo, quando julgamos as atitudes ou as idéias sobre a capoeira, sejam as nossas ou de outras pessoas…
Outro aspecto que é preciso ficar claro é que não existe a intenção de sugerir uma postura adocicada ou de “bom-moço” para os capoeiristas ou professores de capoeira. A meta é discutir aspectos viáveis e estabelecer fronteiras, dentro do que a capoeira possa ser reconhecida e compartilhada…
Ou seja, aqueles que tiverem uma versão individual da capoeira, e que entendam ser a verdade definitiva, estará absolutamente livre para adotá-la e defendê-la, restando apenas aos que se preocupam com ela dentro de um contexto cooperativo e profissional mais amplo; sua prática num processo sócio-desportivo e outras formas de sua manifestação coletiva e moralmente aceitas é que precisam se deter nessa questão.
A capoeira é de domínio público, enquanto manifestação folclórica e assim terá sempre o direito de ser livremente manifestada. Esse, aliás, pode ser considerado o código zero da capoeira: ela é a livre manifestaçã cultural do povo brasileiro e porisso é reservado aos cidadãos brasileiros o direito de praticá-la livremente.
Nossa preocupação é quanto aos professores adeptos à Associação Brasileira de Professores de Capoeira – é no sentido de dar-lhes uma base de identificação com sua Entidade, é com uma abordagem que envolva os profissionais da capoeira.
Por outro lado, como nos demais princìpios adotados pela ABPC, o presente regulamento é de livre adoção em quaisquer outras correntes capoeirísticas independentes. Quanto à isso, apenas pedimos que, caso os conceitos e entendimentos aqui formulados venham a ser utilizados, seja mencionado que se trata de bibliografia destinada aos adeptos e filiados à ABPC, bem como o autor. (Essa ética – do direito autoral -, não pertence à capoeira. É bem anterior).

COMO APLICAR A ÉTICA?
PARA QUE SERVE?

Hoje em dia a quantidade de informações que chegam às pessoas é bastante grande. Mesmo sem perceber – e aí está o maior problema – recebemos uma carga de influências as mais diversas, vindas de todas as fontes: televisão, cinema, rádio, shows, conversas com pessoas de diferentes formações, leituras de jornais, livros, etc… Tudo isso nos influencia em menor ou maior grau, sendo que nossa mente trabalho o tempo inteiro fazendo associações, e tudo o que tem a ver com nossa vida em particular, É mais assimilado, e fica mais forte no nosso subconsciente.
Assim, está mais do que claro que a força dos meios de comunicações interfere em nossa formação e posicionamento. Por exemplo, podemos citar a importância das olimpíadas na capoeira, particularmente da ginástica de solo. E a grande maioria que recebe essa influência desconhece a fonte original do estímulo, e é mesmo capaz de jurar confiante que aprendeu ou viu uma seqüência de saltos mortais, seguidos de flip-flap, swapt e outros movimentos acrobàticos numa roda de capoeira!
Absurdos à parte, falta muitas vezes uma base de sustentação ideológica que garanta a identidade do esporte/arte que praticamos. Ou melhor, falta uma definição própria do que seja admitido ou nào na capoeira – embora muitos livros tenham sido escritos, de grande valor, sem dúvida, mas essa questão da identidade por exemplo não temos tido muitos trabalhos a respeito, havendo mais preocupação com a tècnica e a història da capoeira..
Assim, em cima da pergunta formulada, precisamos definir de antemão algumas utilidades práticas de um código de ética:

  1. Para a definição uma política de relacionamento e convívio;
  2. para a orientação de caminhos para os filiados da ABPC, que compartilham dos princípios aqui adotados e com essa ética definida fica fácil se conhecer a priori (antes) quais as exigências para se ser um associado;
  3. para fazer com que a capoeira possa servir de estratégia de vida, já que seu aprendizado, visto na sua plenitude é um modo de viver. Algo bem maior do que uma simples regra de jogo, a capoeira deve permitir ao seu praticante a sua realização pessoal e cidadania plena, uma condição profissional até, se assim o desejar;
  4. impedir a introdução de preconceitos à capoeira e com isso garantir a sua democratização sempre;
  5. impedir a introdução de influências capazes de deturpar a teoria e a prática da capoeira, tirando-lhe sua identidade cultural e substituindo seus fundamentos e princípios básicos;
  6. como guia de ensino aos professores e novos alunos, os quais saberão preservar as tradições e ensinamentos da capoeira, permitindo sua criatividade mas garantindo suas origens, princìpios e suas tradições;
  7. para criar um instrumento capaz de demonstrar, de forma organizada e acessível, a amplitude da arte da capoeira e com isso poder divulgar os seus recursos ao público, aos órgãos públicos e também para os estudiosos, que queiram entender e pesquisar a capoeira.

 

Reginaldo da Silveira Costa “Squisito”
Conversão da linguagem original para HTML por Decanio Filho

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