Capoeira_mulheres_gingadosventos

Exemplo da Mulher-Capoeira!

Decidi divulgar esta matéria, publicada originalmente no Jornal do Capoeira,  por considera-la de grande importancia e desta forma também homenagear o lindo trabalho deste grupo de guerreiras!
Luciano Milani

Nesta crônica, homenageamos o trabalho extraordinário realizado pelas professoras Bebezonas do Ginga dos Ventos – Capital Paulista.
CAPOEIRA GINGA DOS VENTOS
Uma família de guerreiras
Preliminares:
Essa arte fascinante que é a capoeira é algo realmente singular em sua pluralidade. Explico! Ao mesmo tempo que, quando questionados, muitos mestres respondem "não sou A nem B, sou Capoeira", ao colocarmos em prática as formas de expressar nossa Capoeira é possível observar um amplo espectro de diversidade.
 
Quando dei início à série "Coletânea da Capoeira em São Paulo" – sonho idealizado por Mestre André Lacé, e que aos poucos vai ganhando adeptos – tratei de elencar os mestres, grupos e capoeiras que representariam a Capoeira em nosso Estado. Considerando-se, é claro, as diversas formas da prática e época.
 
Em se tratando da "coletânea", o time começa a receber reforço, ou seja, alguns volumes de Coletâneas da Capoeira em alguns estados já estão em andamento. Na Paraíba, João Pessoa, Benedito dos Santos (Bené) é quem coordena os trabalhos. No Rio Grande do Sul é a vez do Tairone Sant´anna (Gigante). Em São Luis do Maranhão o Prof. Leopoldo Vaz encontra-se com a tarefa de casa bem adiantada.
 
Em São Paulo estamos, a bem da verdade, em uma força-tarefa: Raphael Moreno em São Carlos; Carlos Cavalheiro em Sorocaba e eu na região do Vale do Paraíba e Litoral Norte. E tem mais gente chegando!
 


Bueno, voltemos ao tema-base deste artigo.

 
Capoeira & Ginga dos Ventos
 
    O Grupo de Capoeira Ginga dos Ventos é um dos grandes exemplos que a Capoeira Paulistana tem a dar às demais regiões do Estado, e por que não dizer ao Brasil e ao mundo. Esse grupo é coordenado pelas jovens guerreiras Cristiane, Viviane e Cenira (todas Briz Nascimento), filhas e mãe, respectivamente.
 
Conhecidas na capital paulista pelo apelido carinhoso de "bebezonas", essas capoeiras iniciaram-se na prática no final da década dos 80, no Grupo Almada Santos de Mestre Ananias Tabacow (Zona Leste, Capital). O Almada Santos, por sua vez, tem raiz no "Capitães de Areia" de Mestre Almir das Areias, autor do livro "O que é Capoeira", coleção Primeiros Passos (1986). Mestre Almir – hoje conhecido por Anande, seu novo nome espiritual – passou pelo grupo Cordão de Ouro de Mestre Reinaldo Ramos Suassuna. Salvo engano, Almir ficou com Suassuna até o início dos anos 70.
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As Bebezonas, após se formarem (1995), fundaram um trabalho próprio, mas ainda sob a chancela do grupo de origem. Cinco anos mais tarde (2000) fundam o Ginga dos Ventos, um dos raros grupos comandados exclusivamente pela força feminina. Em São Paulo, até onde é de meu conhecimento, apenas o Ginga dos Ventos e o Grupo de Capoeira Angola Nzinga são coordenados por mulheres-capoeiras. O Nzinga, por sua vez, tem à sua frente a Dra em Educação, e Mestra em Capoeira Rosângela Costa Araújo (Janja). Cabe ressaltar que, mesmo tendo lideranças femininas, ambos os grupos são constituído por homens e mulheres, desde crianças até a fase da onde se somam "muitas voltas ao mundo".
 
O trabalho do Ginga dos Ventos prima pelo respeito à individualidade, incentivo à diversidade e busca pelos preceitos e fundamentos da Capoeira. O Grupo tem como base a Capoeira Paulista – um misto de "angola" com "regional"; de capoeira baiana com carioca. Os trabalhos são desenvolvidos principalmente na Zona Leste da Capital Paulista. A capoeira paulista é resultado da fusão das "capoeiras" apresentadas logo acima, fusão esta que se deu mormente no final dos anos 60 e início dos anos 70. Naquela época, aconteceram alguns fenômenos interessantes (sic): "brancos" foram culturalmente "enegrecidos" pelo amor à nossa arte, momento em que se ocorreu o – infeliz, mas inevitável – "embranquecimento" da Capoeira pela massificação do lado exclusivamente esportivo da Capoeiragem. Para saber mais sobre este processo, recomendo leitura dos livros "Capoeira, um mundo de pernas pro ar" (Letícia Vidor, 1998) e "Volta do mundo da Capoeira" (André Lacé, 1999).
 
Sobre o Ginga dos Ventos, sempre fiquei curioso para entender seu peculiar sistema de graduação. Principalmente sobre o uso do lenço trançado junto ao cordão (ou cordel).
 
Eis que trago à vocês parte da explicação. As cores dos cordões do grupo se baseiam nas cores da Bandeira Nacional (verde, amarelo, azul e branco), acrescido pelo vermelho presente na Bandeira Paulista. Sobre a cor preta, também presente a bandeira de nosso Estado, e (aparentemente) ausente na graduação do Ginga dos Ventos, deixo para vocês descobrirem, oralmente, com as professoras Bebezonas.
 
E sobre os lenços?
 
Seu uso é opcional dentro do grupo, ou seja, não faz parte da graduação, tampouco seu uso é obrigatório. A escolha da cor fica a cargo de cada integrante. E, acredito, cada representante do Ginga dos Ventos tem um porque – totalmente pessoal – para o uso ou não do lenço, bem como para cada cor quando o capoeira decidiu por usá-lo.
 
Em homenagem ao lado místico da Capoeira Ginga dos Ventos, e à força feminina na Capoeira do Brasil, dedico os versos abaixo que, também, tem seu lado místico.
 
"Refletiu a luz divina
Com todo seu esplender
É o povo d´aruanda
Trazendo a paz e o amor
 
Luz que refletiu na terra
Luz que refletiu no ar
Luz que veio de Aruanda
Para todos ilumina…".
 
Bebezonas! A luta consciente de vocês está, acreditem, dando muito bons resultados. Então, avante meninas!
 
Miltinho Astronauta
Jornal do Capoeira
www.capoeira.jex.com.br
Piracicaba, Maio/05
(Ilustrações: Revista Praticando Capoeira)

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