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De capoeirista e auxiliar administrativo até virar apenas Roger

Ele já foi ajudante de obra e auxiliar de serviços gerais na empresa de construção do pai, depois vendedor de álbuns de “crianças fotogênicas” em vilas populares, auxiliar administrativo em uma financeira, divulgador e representante de discos na época das grandes gravadoras. Também já foi capoeirista, fez frevo e participou do Balé Popular do Recife por uns dois anos. Tudo isso foi o que ele fez antes de se tornar apenas Roger de Renor, figura recifense mais conhecida por seus programas televisivos e em rádios: primeiro foi o Sopa da Cidade, na antiga Rádio Cidade, depois o Som da Sopa, o Sopa de Auditório e agora o Som na Rural – que está sendo gravado e será exibido em cadeia nacional pela TV Brasil – e o programa Sopa Oi FM, além de ser diretor da TV Pernambuco desde o ano passado.

Um comunicador nato, Roger de Renor não é daquelas pessoas que conseguimos separar entre a figura pública e privada. Ele é um só, que participa da cena cultural do Recife por prazer e que acabou se transformando também em profissão. Além da atuação como dono dos lendários e extintos bares Soparia e Pina de Copacabana, esse cidadão recifense que se destaca onde chega por seu visual – agora, lembra um pirata tatuado e barbado – nos conta quem ele é.

A começar pelo nome, qual seria o nome de batismo de Roger de Renor? Rogério, Rogesvaldo, arrisquei a pergunta. “É Roger de Renor, mesmo. Meu pai se chamava Paulo Renor da Silva, e minha mãe é Maria Tereza Paiva Rosa e Silva. Eu e minhas três irmãs somos ‘de Renor’. Na realidade, o sobrenome dos meus pais era ‘Silva’. Hoje ninguém liga para isso, mas por preconceito com o ‘Silva’, que não tem nada de mais nesse sobrenome, resolveram colocar o ‘Renor’, que na realidade o segundo nome do meu pai, como se fosse Paulo Ricardo, por exemplo.”

Já o seu nome foi uma homenagem que sua mãe quis fazer a um artista circense que ela viu em um circo em Natal (RN). Roger acabou descobrindo que o seu homônimo fez parte do Circo Nerino, famoso na década de 1940, e sobre o qual escreveu o livro Circo Nerino. “E o meu nome é massa porque eu só sabia que minha mãe tinha se inspirado num artista de circo. Mas descobri o livro. Roger era um trapezista do circo. Tu acredita que o livro começa com uma mulher contando da vez que o circo tinha voltado para 
Olinda?” 

E Roger continua: “E uma mulher chega perguntando: ‘Cadê Roger?’ E o cara fala: ‘Roger tá aí’. ‘Ah, Roger tá aí? Então tudo bem.’ E ela entra, paga o ingresso, espera por Roger e não o encontra. Quando ela vai falar para o cara: ‘Você disse que Roger tava aí.’ O cara diz: “Você não viu, não? Ele é palhaço agora.’ Ela tinha conhecido ele como trapezista, ele era o galã do circo, andava em cima dos cavalos, fazia pirâmide humana. Como ele ficou velho, virou palhaço”, conta rindo.

“Ele era a referência que minha mãe tinha de artista de cinema, esse era o cara mais lindo que existia que tinha chegado na cidade de Natal. E o melhor é que eu conheci Roger, quando ele estava com 85 anos, quando ele veio para o Festival de Circo aqui no Recife e eu tinha sido convidado para apresentar o festival. Ele tomou cerveja comigo. E ele disse que tem Roger no Brasil inteiro por causa dele, um pessoal da minha faixa etária. Fiquei gostando ainda mais do meu nome, é uma história bacana.”

Nomes à parte, quem era Roger de Renor antes de se tornar uma das figuras mais conhecidas no cenário musical recifense? “Eu não gostava de estudar, minha escola era quase um colégio integralista. Não gostava de nada na escola, só da turma. No primeiro ano científico, parei de estudar.” Depois de passar por quatro escolas, resolveu fazer supletivo para concluir o Ensino Médio. 

SOPARIA – Nesse tempo também resolveu trabalhar com o pai, que tinha uma empresa de construção civil. “Meus pais não reclamaram, sinto até falta, acho que deveriam ter ficado no meu pé. Eu não sou como meu pai em relação a meu filho. Digo a ele que ele tem que estudar e pronto. Acho que meus pais deveriam ter feito assim. Mas eu fui trabalhar como auxiliar de serviços gerais, fiscalizava obras com meu pai.”

Depois Roger não quis trabalhar mais com o pai. “Virei vendedor de uns álbuns que eram vendidos em vilas populares, de crianças fotogênicas. Na verdade, um fotógrafo dizia que estava tirando foto para uma revista. Mas era tudo mentira. Depois de revelarem as fotos e publicarem num álbum, eu e outros vendedores tínhamos que voltar nesses lugares para vender essas fotos a esse pessoal bem pobre.” 

Também trabalhou em financeira e depois passou cerca de oito anos trabalhando para uma gravadora. “Eu ganhava bem, mais que o suficiente. Aí eu tinha vinte e poucos anos e tinha um carro, uma moto, apartamento alugado, era massa. Mas esse negócio era muito angustiante, eu gostava demais de música para vender disco. O disco, você vendia o produto, e não o conceito, a história, o lance da música. Era como quem vendia sapato, roupa.”

Enquanto trabalhava como representante de gravadora, Roger de Renor fazia o que gostava. Organizava festas na casa da mãe, fazia capoeira e até ensinou capoeira em academia e chegou até a participar do Balé Popular do Recife. “Como eu vivia essa vida boa aí, eu podia viver outra coisa boa. A única coisa boa que a escola me trouxe foi que não me fez ser um playboy foi a capoeira. Na capoeira aprendi a me relacionar com gente de todo nível social, aprendi a tocar pandeiro, berimbau. Ensinei em academia, participei de campeonato, sou capoeirista graduado, posso ensinar.”

Como um caminho quase que natural, Roger fez um curso de frevo na Casa da Cultura e fez um teste para o Balé Popular do Recife, onde passou mais de dois anos. “Fazia capoeira e frevo, caboclinho, coco. Imitava embolador. Participei do espetáculo Prosopopeia – um Auto de Guerreiro.” Também fez teatro, participou de alguns espetáculos no Recife, como Salto Alto, Arlequim. “Era muito bom. E eu ia ficar vendendo disco, cara?! Ficar naquele papo no lugar das revendas: ‘E aí, como vai?’ E o outro: ‘Agora que você chegou tá tudo bem’. ‘Não, que é isso?! Você que manda’. E o outro: ‘Eu não mando nada, você que manda e eu obedeço.’”, brinca.

“Não ia ficar envelhecendo naquela porra. Eu falei ‘Vou fazer qualquer negócio, aliás não vou fazer nada.’ Ainda trabalhei de segurança, chefe de camarim, fiquei sem fazer nada, tinha a grana que tinha recebido da gravadora, pensei em botar uma kombi com lanche, carrocinha de sanduíche, só pensamentos retardados. Eu não era mais menino e pensava nisso, só pra não entrar no negócio de trabalhar, só coisa que me divertisse. Foi quando resolvi botar o bar.”

Em 1991, Roger abriu a Soparia, no Pina, que era um esquema “para não trabalhar”. Num cenário não tão diferente do de agora, Roger conta que na época o Recife não tinha lugar para inde ir depois das 2h da manhã. “Ou você ia para o Hospital da restauração ou para Brasília Teimosa. Resolvi abrir a Soparia de meia-noite até 7h da manhã. “ Roger conta que abriu o bar numa meia-noite de Carnaval e não apareceu ninguém. Depois do Carnaval, o movimento foi aumentando, o bar passou a abrir às 7h da noite e ia até 5h, 6h da manhã. “É muito perigoso trabalhar com bar gostando de gente, de bebida, de festa… é um perigo.” 

Depois que a Soparia fechou, Roger abriu o Pina de Copacabana, na Rua da Moeda. Mesmo funcionando por apenas dois anos, entre 2000 e 2002, o bar até hoje é referência. Muita gente que nem frequentou o espaço – que depois foi reaberto como Novo Pina e que hoje já adotou um outro nome – até hoje costuma se referir ao espaço como “o antigo Pina”.

TATUAGENS – Além da barba fechada, dos brincos e anéis, Roger é todo estampado. Numa ocasião, durante uma entrevista, Roger falou que tinha quadros nas paredes do seu corpo para se referir às tatuagens. São dez ao todo, entre gatos, sereias e a mais curiosa: a palavra “Saudade”. “A primeira tatuagem foi a sereia, todas foram feitas a partir da Soparia, quando eu tinha uns 28, 29 anos. Tem essa aqui que vou retocar: ‘Saudade’, que fiz quando estava bêbado. Saudade é massa, porque é amor, né, querendo amar, bêbado. E uma vez uma mulher no elevador disse: “Soldado? Você é militar?”, conta rindo e brinca: “Deveria ter dito: ‘Não, é um cara que eu namorei, um recruta”, ri.

“Sou vaidoso, gosto muito de… não é uma história de ‘Preciso ter aquela roupa’. Mas não dispenso uma atividade física, se não correr na praia três dias na semana, fico agoniado. Ando de skate no Parque Dona Lindu, ando de bicicleta.”

Vaidoso, o produtor cultural, comunicador, apresentador ou seja lá qual a definição que melhor se encaixa para ele, tem uma paixão: motocicletas. “Eu comprei uma moto com 19 anos. Gosto por causa dessas fantasias mesmo, todos os clichês, vento na cara, zoada, fazer parte da natureza, os filmes, tem toda uma simbologia. Agora tenho a moto que mereço, uma Fat Boy, uma Halley Davidson 1660 cilindradas. Ela é linda, ela é um sonho”, fala como um menino que estivesse falando do seu brinquedo predileto. “Em vez de investir em carro novo, prefiro a moto, que é meu sonho. Também já viajei muito de moto, já fui muitas vezes para o Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Ceará. Não conheço o Brasil todo porque ainda não fui pra cima nem pro Sul.”

Além da sua Fat Boy, Roger tem uma Caravan de 1978. E já teve um Landau. “Minha vaidade tá nisso. Também nem seja vaidoso, mas amostrado. Se fosse vaidoso, teria um carro zero. Mas prefiro ter uma Caravan azul, que é muito mais amostrado”, brinca e termina a entrevista mostrando o forro novo do carro. “Veja que lindo, né? E sou modesto, né? Agora diga que não é bonito?!.”

 

Fonte: http://ne10.uol.com.br/canal/cotidiano

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