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Évora: o Nosso Reencontro 2012

O Mestre Umoi foi um dos primeiros capoeiristas brasileiros a aportar em terras lusas para ensinar a capoeira. Nos tempos idos dos finais da década de oitenta a capoeira estava ainda em fase de implantação no continente europeu e em Portugal em plena gestação. Trabalhar com capoeira não era tarefa fácil, quase sempre o nome capoeira, em Portugal, era confundido com criação de galinhas e pouco ou nada se sabia sobre a nossa arte afro-brasileira.

Em finais da década de noventa surge um dos maiores e mais importantes encontros de capoeira de Portugal e da Europa, O nosso Encontro. Idealizado pelo mestre Umoi, o encontro era resultado da sua vivência fora do Brasi, e da ideia que lhe havia sido dada pelo Mestre Beija-Flor, um dos seus primeiros parceiros feitos nas incursões pela Europa. Foi assim que no ano 2000 surgiu O Nosso Encontro, num momento de grande eclosão da capoeira em toda Europa e em particular em Portugal, onde o grupo União na Capoeira, liderado pelo mestre Umoi, possuía sua principal inserção.

O encontro de Évora, como ficou carinhosamente denominado por muitos dos que ali passaram, preenchia uma importante lacuna na capoeira de Portugal que vinha crescendo em número de grupos e praticantes e se inseria num calendário europeu de eventos ao mais elevado nível. Por sua importância, o encontro de Évora começou a fazer parte do calendário europeu com eventos tais como O Encontro de Páscoa organizado na Holanda pelo Mestre Samara e o Summermeeting organizado na Alemanha pelo mestre Paulo Sequeira, bem mais antigos que o Nosso Encontro.

Para ser ter uma ideia da sua importância, em Portugal, era comum nos meses de verão nas conversas entre os capoeiristas, perguntar-se: E então pá!  Esse ano vais a Évora? Qualquer praticante em Portugal sabia que Évora era um momento mágico, especial, que se podia jogar com qualquer um independente da graduação ou grupo, tendo a certeza de que seria respeitado, que iria divertir-se com a capoeira, fazer amigos e restabelecer as energias para o ano seguinte. Poderia mesmo acontecer que, grupos que eventualmente possuíssem rivalidades, deixassem de lado as suas desavenças e de ambas as barricadas se fizessem alianças de amizade, e até de amor, uma vez que muitos casais ali se formaram.

O encontro, que teve em início no ano 2000, durou até o ano de 2009 e esteve parado durante dois anos. A parada, segundo os seus organizadores, deveu-se ao contexto de declínio no número de alunos, aos elevados custos que comportavam a presença de um corpo crescente de mestres, Contra Mestres e professores, mas também ao grau de dedicação intensa e voluntária que envolvia um grande esforço pessoal.

Por ocasião da sua décima edição, Pedro Abib, músico, capoerista, cineasta e professor universitário que esteve presente no ano de 2009, dedicou no site Portal Capoeira uma bela crónica onde ressaltou aspetos valiosos do Nosso Encontro tais como a diversidade, o respeito as tradições e a acomodação as mudanças que concernem a qualquer prática cultural.

 

Mesmo no contexto de crise e dificuldades Mestre Umoi e seus colaboradores lançaram mãos a reorganização do Encontro de Évora que correu entre os dias 13 e 16 de Setembro de 2012. Iara Tiago, aluno do Mestre e também uma das integrantes da organização, conta-nos com entusiasmo que participou em todas as edições do encontro :

A meu ver este encontro foi direcionado àqueles que realmente sempre acreditaram neste evento, que em 4 dias vê-se a União entre grupos como nunca se vê… e àqueles que se tornam curiosos de tanto ouvirem bem do “Nosso Encontro”. Este evento foi realmente mágico porque se viu bons capoeiras, com sorrisos e abraços, bons jogos, muito conhecimento e…Não há encontro como este. Palavras para quê? Posso dizer isto de boca cheia porque sou a aluna que nunca faltou a um evento de Évora desde 2000.” (Iara Tiago)

Quando lhe perguntei qual tinha sido para ela o melhor encontro, ela respondeu-me que o primeiro, por toda novidade que ele representava, mas também o último deste ano e que não havia como os separar. Perguntei lhe também sobre algum momento especial do evento, Iara Tiago destacou o jogo entre o Mestre Gêge e o professor Careca:

“Porque se vê dois tipos de capoeira completamente diferentes, e se notou realmente a mandinga nesse jogo. É bom ver que – nunca se esquecendo da corda que se traz na cintura – um professor mostrar, na sua pura manha e com todo o respeito, o jogo que tem a oferecer ao mestre. O mestre aceitando e percebendo o respeito, responde em “igual moeda” e assim se desenvolveu um jogo fechado mas lindo aos olhos de quem via. Os sorrisos e os avisos de quem vacilou seguidos de mais sorrisos num jogo de mestre com professor, é raro de se ver. Foi um bom jogo” (Iara Tiago).

 

No Reencontro de 2012 consta–se que participaram cerca de 76 praticantes e inúmeros grupos, entre os quais: Grupo União na Capoeira, Capoeira União, Grupo Internacional Raiz, Muzenza, Lagoa da Saudade, Gingarte, Arte Pura, Berimbau de Ouro, Centro Cultural Capoeira Baiana (Professor Careca), Nossa Filosofia, Reliquia Espinho Reimoso (prof. Fantasma), Grupo Amazonas da croácia, Arte Nossa Capoeira, Arte Polular, Porto da Barra e Grupo Terreiro.

Esperamos que sempre seja possível reedita-lo ao longo do tempo e ver gerações de capoeiristas cresceram no Nosso Encontro.

Salve o Mestre Umoi, Salve O Nosso Encontro, até para o ano.

 

http://www.jogodemandinga.com

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