Portal Capoeira A "bateria" da Angola de Pastinha: A organização dos berimbaus Fundamentos da Capoeira Papoeira
|

A “bateria” da Angola de Pastinha: A organização dos berimbaus

A “bateria” da Angola de Pastinha: A organização dos berimbaus


Por: Mestre Jean Pangolin

Dentre os diversos princípios estruturantes da capoeira Angola, trataremos um pouco sobre a organização dos berimbaus na “bateria” (local onde ficam os instrumentos), a partir da sistematização do Mestre Vicente Ferreira Pastinha.

Na maioria dos locais mais tradicionais de capoeira Angola na Bahia, percebemos, em via de regra, a organização da orquestra/bateria composta por atabaque, três berimbaus, dois pandeiros, agogô e reco reco, Neste sentido, trataremos especificamente dos berimbaus, suas funções no ritual e a inspiração para a quantidade dos mesmos.

A partir de relatos orais da cultura da capoeira percebemos que muitas das coisas/procedimentos/fundamentos da roda são fruto de uma conexão relacionada a matriz africana, sendo tais expressões correlatas e entrelaçadas, considerando algumas semelhanças entre si. Desta forma, a quantidade dos berimbaus e suas funções no ritual são derivados da observação do uso dos atabaques na dinâmica ritualística do candomblé.
 
No candomblé temos três atabaques com tamanhos e afinações diferentes que exercem funções distintas, pois o mais grave e maior (Rum) é responsável pelas variações e em suas dobras rítmicas acontece, geralmente, a conexão entre o Orum (Céu dos orixás) e o Aiê (Terra dos humanos). Já o segundo atabaque (Rum pi) faz a sustentação da base dos toques em contraponto inverso ao toque realizado pelo atabaque mais agudo (Lé). Assim, temos uma tríade de atabaques que sustentam os variados toques característicos para cada orixá no desenvolvimento do ritual, sendo a quantidade dos mesmos uma alusão ao conceito de família defendido por alguns povos na África, composto por pai, mãe e filho.
 
Em capoeira, pela diferenciação das intenções ritualísticas, considerando que a capoeiragem não é religião, temos uma inversão das funções dos berimbaus, visto que, o berimbau mais grave (Gunga) fará a marcação do ritmo, o berimbau de afinação intermediaria entre grave e agudo (médio) fará a inversão do toque do mais grave, e o berimbau agudo (Viola) fará as variações, impedindo assim a conotação religiosa pela semelhança com a função do instrumento grave na conexão com o plano espiritual.
 
Vale ressaltar que a inversão das funções dos instrumentos graves e agudos, considerando a passagem do candomblé para a capoeira, não é fruto do acaso ou mera coincidência, pois foi intencionalmente feita para extrair a conotação religiosa da dinâmica do jogo da capoeira, considerando especificamente a parte do ritual vinculada a musicalidade.
 
Axé.:

Artigos Relatados

0 0 votos
Avaliar Artigo/Matéria
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários