O PODER DO FEMININO NA CAPOEIRA
O PODER DO FEMININO NA CAPOEIRA
Ensinando e Aprendendo com os Ventos e Tempestades de Oyá
Por: Mestre Jean Pangolin
“…A eparrei ela é Oyá, ela é Oyá
A eparrei é Iansã, é Iansã
A eparrei
Quando Iansã vai pra batalha
Todos os cavaleiros param
Só pra ver ela passar…”
Estamos enfrentando um momento em que parece ser fundamental ter um “lado”, como se o mundo coubesse nas expressões “nós e elas”, “certo ou errado”, “homem ou mulher”, “preto ou branco”, “Angola ou Regional”, dentre outras. Neste sentido, me parece oportuno refletir sobre o perfil dos filhos e filhas de Oyá em analogia a Capoeira, pois poderemos perceber traços estruturantes que servem de possíveis “anúncios” para superar as dualidades, ou seja, as dicas surgem sempre da observação de nossa ancestralidade pulsante. Então, vamos dançar ao som do Agurê de Yansã?
Carismática e atraente, a Capoeira nos convoca a uma sedução impossível de não nos contagiar logo no primeiro contato, pois invade nossos sentidos, nos roubando toda atenção, criando uma espécie de “ligadura” magnética que produz um transe para um balanço involuntário, aquele que faz o pé do “gringo” não parar de se mexer , mesmo sem nunca ter tido acesso a qualquer traço da cultura afrodescendente. Assim é Oyá, arrebatadora e envolvente como nossa arte/luta, encantando com belicosidade que mata, portanto, o mesmo vento que seduz, tanto pode soprar e destruir tudo em seu caminho, como também é extremamente importante para impulsionar as embarcações e trazer o sustento dos pescadores, cabendo o aprendizado de que nada, absolutamente nada nesta vida, pode ser apenas “bom” ou “mau”.
Personalidade forte e temperamental são traços de algumas pessoas em Capoeira, pois, forjadas historicamente numa espécie de “resiliencia ativa”, aprenderam a se defender para alem da fuga, confrontando os opressores pelo signo da “negativa”, que finge “sair” “entrando”, negociando com “balanço” o momento mais oportuno de dizer “EU SOU”. Para os críticos das respostas mais enérgicas, pergunto, onde há mais violência, no pássaro cativo que se debate dentro da gaiola, ou na função da própria gaiola em si? Oyá nos ensina que o problema não esta em lutar de forma mais enérgica, mas sim no sentido pelo que se luta, transformando sofrimento em esperança e a “rasteira” em oportunidade de treino para uma boa “queda de quatro”.
Em Capoeira a “liberdade” é uma premissa, pois a “experiência capoeirana” pode traduzir um importante mecanismo para descoberta de caminho também se faz caminhando, sem controles e comandos, invertendo o “olhar” na bananeira e descortinando um novo “mundo” de pernas pro ar. Como os ventos de Oyá não se interrompem por ninguém, não é possível “segurar” uma filha do orixá, pois, em qualquer dimensão de sua existência a liberdade é um bem muito precioso para estas pessoas, portanto, quando o “barravento” da vida chegar, dê passagem e aproveite cada minuto do aprendizado que esta por vir.
As mulheres na Capoeira, muitas vezes, encaram dificuldades para coexistirem na cena das culturas populares. Assédio, desrespeito e baixa expectativa, são marcas lamentáveis do patriarcado que empodera o machismo estrutural que nos assola. Oyá é o símbolo perfeito da mulher Capoeira, que aguerrida e determinada, não tem medo de correr riscos, que canta, toca, joga, estuda, trabalha, cria filhos, enfrentando todos os dias à guerra em favor de uma sociedade com mais equidade. Assim, o PODER DO FEMININO na arte da ginga é como AR em movimento, impossível de se segurar…. Por isso, te convido a ir COM ELAS, usando o VENTO para voarmos JUNTOS E MISTURADOS!
EPARREI OYÁ!
Axé.: