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O Capoeira na/da Roda “Dura”

O Capoeira na/da Roda “Dura”


Por: Mestre Jean Pangolin

Tenho visto diversos vídeos de rodas de capoeira espalhadas no Brasil e no mundo, e “estranhamente” aquelas com mais cenas de truculência e violência desmedida são as que possuem mais likes e visualizações, mas o discurso da capoeira no século XXI esta no sentido contrario, ou seja, estamos em dissenso ou simplesmente mascarando a realidade com palavras. Neste sentido, trataremos aqui sobre alguns aspectos relativos a estes espaços da “capoeira viril”.

Me pergunto, como tantos mestres não conseguem perceber que o jogo bem jogado pressupõe a capacidade de permanência do outro no próprio jogo? Portanto a perspectiva da lógica de “finalização” (quando aplicamos um golpe em que a luta é interrompida pela submissão total do outro) não cabe na dinâmica do fluxo de um bom jogo. pois, como já foi dito, se o outro desiste ou se submete totalmente, o processo será interrompido e o AXÉ (força vital) será comprometido.

A capoeira não pode ser reduzida exclusivamente ao treinamento de golpes cada vez mais letais, pois todo o processo do jogo deve ser mediado por uma ritualística que, em tese, deveria compor o sentido da prática, tanto fisicamente, como do ponto de vista metafísico. Assim, penso que o “contexto” sempre irá revelar mais que o próprio “texto”,ou seja, o capoeira pode até ser o potencialmente mais letal da roda, mas se não for capaz de transformar sua prática em algo ritualizado, com certeza não será alguém que contribuirá com o ciclo de propagação da ancestralidade, sendo apenas mais uma pessoa a prestar um desserviço a arte.

Ressalto que não estou defendendo uma capoeira “mimimi” ou respaldando um monte de gente que não quer treinar e fica com discurso barato contra uma capoeira mais “dura”, mas sim, chamando a atenção para algumas formas “bizarras” de expressão da capoeira e códigos equivocados de qualificação de seus praticantes, pois, o cara que bate mais é apenas alguém que “bate mais”…..rsrsrsrsrrs…….Redundante, mas é bem assim, portanto não confundamos “alhos com bugalhos”, pois ser capoeira “fundamentado” é outra coisa completamente diferente de “caras e bocas feias” e golpes rápidos.

Aprendi dos mais antigos que o real perigo do jogo ta naquele jogador que não esperamos absolutamente nada, sendo em via de regra aquela pessoa calada, postura serena, observadora, com um leve sorriso no rosto e com um balanço de jogo difícil de decifrar o próximo movimento, quebrando a robotização do padrão de seqüências no jogo, e transformando o improviso pela criatividade em sua maior habilidade na peleja com o outro.

Concluo me identificando, em muitos momentos, com tudo aquilo que critico hoje, pois vivi na pele a “confusão do ego” de alguém que, por imaturidade capoeiristica e/ou falta de recurso ritual, transformava a atuação em roda numa espécie de “campo de batalha” medíocre e pouco eficaz para potencializar a força das culturas populares de matriz africana, considerando a expressão de minha corporeidade na interação com o outro jogador.

AXÉ!!!!

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