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O Mito da Capoeira AfriKana: Ingenuidade intelectual ou má fé?

A Mito da Capoeira AfriKana: Ingenuidade intelectual ou má fé?


Por: Mestre Jean Pangolin

A capoeira e sua história inicial estão diretamente associadas ao processo de escravização de seres humanos, e parte do estudo deste, por sua vez, foi comprometido pelo ato do senhor Ruy Barbosa, considerando que o mesmo, quando ministro da Fazenda, com o argumento de apagar a história nefasta da escravidão, mandou incinerar uma vasta documentação relativa a esse período . Neste sentido, para entender o começo da trajetória da capoeira, precisaremos recorrer a fatos históricos indiretos que nos ajudam a montar o grande quebra cabeças da chegada da matriz cultural que vai compor esta arte em território brasileiro.

Pesquisadores do mundo inteiro disputam versões para a origem da capoeira, dentre estas, destacamos três principais: A primeira delas afirma que a capoeira é africana, ou seja, foi criada na África e veio já estruturada para o Brasil; A segunda versão afirma que a origem se deu em território brasileiro por forte influência dos povoa originários, minimizando a colaboração cultural africana; A terceira versão aponta para uma possibilidade de origem hibrida, considerando a capoeira uma arte afro- brasileira. Desta forma, tentaremos dialogar com estas três principais versões no texto abaixo, descrevendo detalhes e argumentando em favor da possibilidade que mais nos identificamos.

Sobre a possibilidade de que a capoeira é exclusivamente africana, apresentamos uma discordância radical, considerando, inicialmente, que, se assim o fosse, deveríamos ter a arte espalhada na mesma proporção da diáspora africana pela escravização em mais lugares para além do Brasil, ou seja, partes das etnias trazidas para nosso país foram traficadas também para América Central, outros países da América do Sul e do planeta. Sendo assim, deveríamos ter capoeira em mais algum lugar além das terras brasileiras, sem ter sido por influência nossa, fato até hoje desconhecido dos pesquisadores, pois a capoeira como conhecemos, sempre que encontrada fora de nossos limites territoriais, foi levada por uma cultura corporal impregnada de brasilidade.
A versão de que a capoeira seria exclusivamente brasileira se enfraquece na medida em que se assim o fosse, não seria possível encontrar em outras partes do planeta, que receberam pessoas escravizadas da África ou no próprio continente africano, expressões culturais muito próximas do contexto filosófico, técnico e ritualístico da capoeira, que antecedem a presença da cultura brasileira nestes lugares. Assim, expressões culturais como o Bambuco Patiano colombiano, que atualmente se expressa no campo da música, mas indica fortes traços com a capoeiragem, também a Ladja, dança luta da Martinica, o Mani em Cuba, o Moringue, o N`golo e a Bassula, todos de Angola, dentre outras, representam fortes indícios de que existe uma matriz comum com base na cultura negra.

A terceira possibilidade é aquela que nos aproxima de uma versão mais coerente com os indícios históricos, pois considera todo hibridismo étnico característico da cultura brasileira e reafirma as argumentações que justificam a pouca probabilidade das duas versões anteriores. Neste sentido, acreditamos que a capoeira, em sua estrutura central, é afro-brasileira e, em nosso território, junta a base cultural africana, a necessidade de liberdade do negro escravizado, costumes dos povos originários e do colonizador europeu, fazendo um caldeirão cultural, denominado de capoeira. Neste sentido, uma comparação coerente, seria imaginarmos uma mulher negra, africana e escravizada que tem um filho em território brasileiro. Esta criança teria toda a carga genética de sua mãe, a necessidade de se libertar, mas seria criada também sob a influência de costumes dos povos originários e dos portugueses.
Diversos autores, em seus estudos, dizem que a capoeira nasceu no Brasil, fruto da conjuntura local, daquele momento da história, que impelia os escravizados a criarem alternativas em busca de sua liberdade, considerando todas as mesclas culturais e o trato com esta diversidade como estratégia de luta.

Vários elementos da capoeira nos indicam traços de influências culturais distintas, como exemplo podemos citar: O uso da navalha por capoeiras no século XIX, pois segundo dados históricos, a navalha foi trazida para o Brasil por membros da marinha portuguesa; Traços da movimentação dos povos originários na técnica, nomenclaturas de golpes e letras das cantigas; A relação da “Chula” portuguesa com a musicalidade, dentre outras, e tudo isso inserido em um contexto de luta pela liberdade, com uma base cultural africana.

Acreditamos que este convívio intenso de diferentes culturas e as necessidades em território brasileiro ajudaram a moldar, ritualisticamente, a arte capoeira, imprimindo nela um toque peculiar de brasilidade e “miscigenação” de costumes característicos de nosso cotidiano. Neste sentido, diversos autores consagrados, afirmam que a capoeira nasceu da mistura de diversas lutas, danças, rituais e instrumentos musicais vindos de várias partes da África, sendo, no território brasileiro, tudo isso misturado, provavelmente em Salvador e no Recôncavo Baiano durante o século XIX.
Esta grande mistura cultural serviu de catalisador para construção de toda complexidade que compõe a capoeira na atualidade, contudo, a conjuntura histórica de cada período ajudou a constituir a estrutura da arte na forma que conhecemos atualmente.

Agora que explicamos e fundamentamos nosso parecer sobre a origem, conclamo os capoeiras para que não sejam “ludibriados” por versões alteradas da história, pois, atualmente, existe um “movimento politico/ideológico” que tenta vincular a origem da arte, exclusivamente, as terras africanas, com ituito de fortalecer uma identidade de espaço de poder, por ativismo de militantes étnicos, que manipulam as informações e se aproveitam da falta de acesso de parte da comunidade de capoeira, considerando a crença de que precisam vencer uma “guerra ficticia” entre brancos e pretos no Brasil.
Finalizo, pedindo que estas breves palavras sirvam para aguçar a curiosidade dos capoeiras, para que busquem mais informações sobre o tema e não sejam “presas fáceis” neste universo de manipulção das informações.

Axe.:

Por: Mestre Jean Pangolin

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