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Capoeira de “Vênus”: Sentir o “feminino” não fere minha parte masculina

Capoeira de “Vênus”: Sentir o “feminino” não fere minha parte masculina

O espelho de Vênus é um círculo com uma cruz embaixo e é o símbolo astrológico do planeta Vênus. Este símbolo tem sua origem na mitologia grega, sendo o círculo apoiado na cruz a representação do espelho da deusa Afrodite (Vênus, na mitologia romana).

Nossa intenção nesta escrita é ponderar sobre alguns dos desafios da mulher na capoeira, considerando o “olhar” possivelmente contaminado pelo machismo estrutural que me assola cotidianamente, e também por isso, antecipadamente peço perdão pela fragilidade reflexiva dos parágrafos que seguem.

Ao longo de vinte anos pude conviver de perto com a experiência formativa de diversas mulheres, em particular daquela que se tornou minha companheira e mãe de meus filhos. Assim, mesmo com esse histórico, reafirmo que essa reflexão não pode ser tomada como verdade absoluta sobre as mulheres, pois se nem Freud conseguiu desvendar seus mistérios, eu não tenho a pretensão de faze-lo…..rsrsrsrsrs….Brincadeira, pois o texto de Freud reproduz o machismo da época, e, salvo melhor juízo, não expressa o que de fato as mulheres desejam.

Eu lembro que todos os desafios enfrentados na capoeira, quando se tratava da mulher, tinha sempre um plus, pois, meu foco era o jogo, o toque, o canto, a filosofia, já para ela, além desta demanda, vinha toda a carga cotidiana do machismo impregnado em homens e mulheres na capoeira, ou seja, o cara “roçando” na fila para jogar, a bateria inacessível mesmo tocando melhor que o homem, o jogo sempre na premissa de aceitação do julgo pela imposição da força física, mesmo jogando com outra companheira, a fala interrompida e/ou atropelada por alguém que só queria dizer quem “manda no pedaço”, dentre outras coisas.

Lembro de uma roda no interior da Bahia em que um capoeira, depois de superado no jogo, no canto e no toque, desafia a mulher verbalmente, afirmando…”Você deve procurar um tanque de roupa suja pra lavar”….Naquele momento eu só pensei em silenciar o rapaz no jogo, mas hoje penso que essa atitude não ajudaria a mudar a “cena” de respeito a mulher na capoeira, e sim fortaleceria o “lugar” de que elas sempre precisam da tutela protetiva masculina.

O exemplo acima nos aponta o quão nocivo pode ser quando um Mestre diz…”agora é só roda de mulheres” , ou “quero uma bateria só de mulheres”, ou “no meu evento teremos um momento só de mulheres”….”Na mesa da atividade tem que ter mulher pra ninguém falar mal”. Assim, o homem, do alto de seu lugar de poder, resolver ceder o espaço ao ser “inferior” mulher, que só tem “lugar”, graças a benevolência masculina….Que absurdo!…As vezes me sinto em um mundo bizarro, fortalecido por homens e mulheres em busca apenas de espaços de poder….E a capoeira como fica?

Outro dia me disseram que o caminho esta na garantia de direitos iguais para as mulheres, e eu particularmente sou terminantemente contra, pois direitos iguais para “desiguais” é o ato mais perverso de todos, pois pressupõe realidades/vidas iguais, e isso não condiz com o trato da diversidade, pois a água que pode matar a sede, também pode afogar, sendo a diferença de cada situação a condição da eficácia em favor de cada necessidade, ou seja, a igualdade na oferta de água a duas pessoas diferentes, desconsiderando as características individuais das mesmas e as circunstâncias de cada para receber a água, poderá tanto fazer mal como bem.

Prefiro crer que as mulheres precisam de equidade, que é a adaptação da regra a um caso específico, a fim de deixá-la mais justa.

Tenho sido um crítico ferrenho da incompetência na formação em capoeira de algumas mulheres, mas preciso ter o bom senso de reconhecer que todos temos responsabilidade nisso, pois já imaginou culparmos o “povo preto” por sua dificuldade cotidiana em busca de justiça social, desconsiderando toda a dívida histórica pelo processo de escravização?

Cantar, tocar, jogar e entender o ritual é obrigação basilar dos/as capoeiras, mas é importante equidade no “olhar”, sem contudo, transformar a mulher capoeira em uma espécie de “sub categoria” mal sucedida.

O que tenho percebido, em situações difíceis, é que sempre tentamos “jogar a sujeira para baixo do tapete”, transformando o outro/diferente em carrasco de nossa dor para aliviar nossa consciência de culpa, ou seja, tudo será sempre responsabilidade do “bicho homem”. Assim, mesmo reconhecendo todas as limitações, penso que existe um outro caminho, o da percepção de que juntos, homens e mulheres, podemos fazer uma capoeira diferente e melhor.

É preciso que possamos avançar para além do discurso que enviesa a luta e mascara a opressão, por exemplo, pagando profissionalmente o justo pela participação feminina em eventos, qualificando-as pela capoeira e não pelo decote da roupa e/ou suas curvas, escutando-as com os ouvidos da “alma”, auxiliando e se permitindo aprender pelo signo da diferença, enfim, nos permitindo “capoeirar” com elas.

 

Eiiii mulher..Psiu!
Nos ensina e ser/fazer diferente….

Axé.:

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