Responsabilidades formativas em capoeira: O “freio de arrumação” na “casa de mãe joana”
Responsabilidades formativas em capoeira: O “freio de arrumação” na “casa de mãe joana”
Por: Mestre Jean Pangolin
O Mestre será sempre o principal responsável pela formação de seus discípulos, mesmo que devamos considerar a coparticipação de outros agentes nesse processo, incluindo o próprio discípulo.
Os ditos populares do subtítulo fazem referência a organização abrupta (freio de arrumação) de algo desorganizado (casa de mãe Joana). Neste sentido, seguiremos fazendo uma reflexão sobre as responsabilidades dos envolvidos no processo formativo em capoeira.
Quando um Mestre atribui uma titulação a alguém em capoeira, ele empresta “valor” a um dado processo formativo, que invariavelmente influência a comunidade para além dos limites da instituição que os envolvidos diretamente fazem parte, ou seja, graduar/reconhecer alguém em capoeira é como o cometa, ele passará, mas sempre deixa um rastro com seu “rabo”.
Esse papo de autonomia na formação é extremamente perigoso, pois cria a falsa ideia de que ações individuais não podem ser também parametrizadas pelo coletivo, como se uma pessoa pudesse sair atirando livremente nas ruas por conta do respeito à sua autonomia decisória.
As motivações para se graduar alguém em capoeira são as mais variadas possíveis….o Mestre precisa de grana….o Mestre quer demonstrar poder….o Mestre quer expandir seu “negócio”….o Mestre quer fazer uma “moral” com quem gradua….sei lá.. São tantas aberrações que chega a ser constrangedor descrever aqui. Desta forma, muitas vezes, a intenção primeira do processo formativo, desenvolver a capoeira, fica ofuscada pelos delírios de um Mestre “confuso”.
Qual a justificativa para se graduar alguém afastado da capoeira? Como é possível alguém chegar a mestria sem ter serviços prestados à capoeira? É legítima uma titulação “na tora”, apenas pela vontade de quem gradua?
Uma analogia interessante é quando imaginamos um tocador de piano clássico que não sabe afinar o próprio instrumento….”estranho”, mas na capoeira é possível ver alguém chegar a mestria sem saber nem armar um berimbau, pois para esse indivíduo, afina-lo seria uma espécie de “luxo pedagogico”…Onde vamos parar nessa “casa de mãe Joana”?
E se não bastasse o equívoco de agentes diretos envolvidos neste absurdo, ainda temos uma comunidade que tolera, aplaude de frente, e fofoca pelas costas destes Mestre atrapalhados, sendo o mais grave de tudo isso, que todos sabem, pelos códigos simbólicos culturais, quem tem “nome” e quem tem “apelido”.
Em alusão ao “mito da caverna” de Platão, penso que é preciso fazermos um pacto pela capoeira, sendo justos conosco e com o coletivo, convocando as pessoas que se enquadram nessa absoluta obscuridade, a sair da zona de conforto e buscar a “luz” fora da “caverna”/Mestre/grupo.
Se liga, pois quem é de grupo não cai em “grupo”.
Axé!