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A Roda de Capoeira como patrimônio imaterial da humanidade

A Roda de Capoeira como patrimônio imaterial da humanidade: o Brasil expandindo seu prestígio por intermédio da capoeira

Há tempos, as artes marciais agiram e continuam agindo como um importante vetor de disseminação da imagem e prestígio dos países nos quais estas se originaram, sendo consideradas parte fundamental dos seus patrimônios culturais*. Dentre alguns exemplos mais conhecidos temos: Krav Maga, oriundo de Israel; Taekwondo, oriundo da Coreia do Sul; Kung Fu, oriundo da China; Muay Thai, oriundo da Tailândia; Judô, Karatê e Aikido, oriundos do Japão; e Capoeira, oriunda predominantemente do Brasil e reconhecida no mundo como a arte marcial autenticamente brasileira. E sendo parte do patrimônio cultural dos países supracitados, estas artes marciais possuem acentuada importância na construção de uma imagem positiva e favorável aos interesses destes países no cenário internacional, haja vista que o prestígio cultural de um país é um componente básico deSoft Power**.

Cabe destacar o fato de que, neste ano de 2013, o “Comitê do Patrimônio Imaterial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura” (UNESCO) vai avaliar a inclusão da “Roda de Capoeira” na lista representativa do “Patrimônio Imaterial da Humanidade”, candidatura que está sendo levada a cabo pelo “Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e tem como base um dossiê redigido a partir de pesquisas já realizadas no registro da “Roda de Capoeira e do Ofício de Mestre de Capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil”.

A se destacar, neste dossiê, as seguintes metas: a importância dos mestres de capoeira como divulgadores da cultura brasileira no cenário internacional, o que torna necessário pensar alternativas para facilitar o trânsito destes por outros países; o reconhecimento do ofício e do saber do mestre de capoeira, para que ele possa ensinar em escolas e universidades; a necessidade de criar mecanismos que facilitem o ensino da capoeira em espaços públicos; e um plano de manejo da biriba, madeira usada para confecção do berimbau e que pode ser extinta no correr dos anos.

Em adição, no intuito de incentivar sobremaneira a candidatura da “Roda de Capoeira”, o IPHAN vem empreendendo esforços e encaminhando aos grupos de “Capoeira do Brasil” uma lista de adesão a esta candidatura.

Torna-se necessário compreender o significam “Bens Culturais de Natureza Imaterial e Patrimônio Cultural Imaterial”. A “Carta Magna” brasileira de 1988, em seus artigos 215 e 216, ampliou a noção de patrimônio cultural ao reconhecer a existência de bens culturais de natureza material e imaterial. Segundo esta, os “Bens Culturais de Natureza Imaterial” dizem respeito às práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer, em celebrações, em formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas, e em lugares que abrigam práticas culturais coletivas. Quanto ao “Patrimônio Cultural Imaterial”, a UNESCO o define como as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural, definição esta que se encontra de acordo com a “Convenção da UNESCO para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial”, ratificada, em março de 2006, pelo Brasil.

Neste sentido, a preservação da Capoeira segundo este novo entendimento de patrimônio cultural despertou a atenção do governo brasileiro a partir de 2004, tendo se tornado uma política pública efetiva quando o então “Ministro da Cultura”, Gilberto Gil, esteve em Genebra (Suíça), na sede da “Organização das Nações Unidas” (ONU), acompanhado de inúmeros capoeiristas brasileiros, para um show em homenagem ao ex-embaixador brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Nesta ocasião, o ex-ministro discursou sobre a expansão da Capoeira no mundo, destacando sua utilização como um instrumento de paz, e lançou o “Programa Brasileiro e Internacional para a Capoeira”, ações estas que podem ser vislumbradas no documentário “Capoeira – Paz no Mundo”, que foi realizado em Genebra, no dia 9 de Agosto de 2004, e contou com o financiamento do “Ministério da Cultura”.

Por outro lado, a Capoeira também é percebida como uma prática corporal e atividade de lazer hodierna, inserida no cenário e no contexto da modernidade, que oferece uma práxis única e peculiar que, mesclada com a herança histórica e sociocultural que traz em seu bojo, proporciona ricas oportunidades de utilização, podendo ser vista como uma proposta cultural de prática esportiva social. Desta maneira, dado seu aspecto multifacetado e polivalente, a Capoeira é compreendida como arte, dança, cultura, luta, arte marcial, jogo, esporte, música, folclore e filosofia, o que a capacita, plenamente, a ser encarada como um esporte que propicia uma elevada integração social[1]. No tocante a este aspecto, o “Estatuto da Igualdade Racial”, instituído pela “Lei nº 12.288, de 20 de Julho de 2010”, em seu título “Dos Direitos Fundamentaiscapítulo IIDo Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazerseção IVDo Esporte e Lazer”, em seu Art. 22 assevera que a Capoeira é reconhecida como desporto de criação nacional, nos termos do Art. 217 da Constituição Federal.

Cumpre registrar que o “Ministério das Relações Exteriores” (MRE), por intermédio da “Divisão de Operações de Difusão Cultural (DODC) é responsável pela difusão e promoção da Capoeira nos postos do Brasil no exterior, segundo os preceitos e agenda da política externa brasileira. À guisa de ilustração, nos campos de refugiados deShuafat, em Jerusalém Oriental, e em Jalazoun, na Cisjordânia, próximo a Ramallah, o governo brasileiro financia um projeto da “Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina” (UNRWA) que visa impulsionar a prática da Capoeira nestes territórios, iniciativa que partiu da ONG Bidna Capoeira, que implementou o ensino da Capoeira com sucesso nos campos de refugiados na Síria. Segundo à ex-representante do Itamaraty em Ramallah (Palestina) e atual Embaixadora do Brasil em Maputo, Ligia Maria Sherer, projetos de desenvolvimento cultural e de educação como estes devem ser consolidados[2].

Outrossim, a Embaixada do Brasil em Nairóbi (capital do Quênia) promoveu, em fevereiro do corrente ano, eventos culturais de apoio à Capoeira tanto em Campala (capital de Uganda) quanto em Nairóbi. Em Nairóbi, no “Museu Nacional do Quênia”, durante o festival “A Day of Cultural Expressions”, a Capoeira foi o chamariz para o festival, que contou com estandes brasileiros sobre a “2ª Expo Brasil na África Oriental”, que será realizada entre os dias 24 e 26 de Julho de 2013, em Nairóbi, e sobre a preparação dos megaeventos esportivos que o Brasil sediará. Já em Campala, integrantes do grupo “Senzala Uganda”, que é apoiado pela embaixada brasileira, promoveram inúmeras rodas de capoeira e oficinas abertas, as quais contaram com a presença de vários capoeiristas convidados, culminando com o primeiro batizado do grupo.

No entender dos segmentos envolvidos na inclusão da Roda de Capoeira como parte do Patrimônio Imaterial da Humanidade – IPHAN e governo brasileiro –, esta representa mais um passo na consolidação da Capoeira como expressão original do povo brasileiro que se oferece aos povos do mundo como prática, atitude de vida, pensamento, técnica, esporte, prazer, arte e cultura. Ademais, esta inclusão seria um pacto entre o Brasil e o mundo para aumentar as bases de expansão das raízes brasileiras, ou seja, um passaporte a mais para abrir fronteiras e dar o tom brasileiro no cenário internacional.

Deve-se ressaltar, contudo, que, embora essa inclusão venha a ocorrer, tal seria um ato de fortalecimento que não interferiria na autoria da Capoeira nem na autoridade dos mestres, pois a Capoeira continuaria fiel à sabedoria dos que a criaram, sem perder direitos nem sofrer intervenções em seu conceito ou prática.

 

Cabe salientar que, figurando, também, como esporte olímpico, o Judô e o Taekwondo têm propiciado aos países medalhistas olímpicos um acentuado prestígio e visibilidade no cenário internacional.

** Conceito cunhado por Joseph Nye, presente no livro Bound to Lead, publicado, inicialmente, em 1990.

 

Fonte: http://www.ceiri.net

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