Capoeiragem: Seminário Nacional em Floripa – SENECA
Com o "gunga" na mão, o Editor do Jornal do Capoeira, Miltinho Astronauta, fez a chamada e de pronto respondi… Segue a matéria do SENECA (Seminário Nacional de Estudos da Capoeira), ferramenta importante para a malta da capoeiragem e estudiosos…
Os preparativos para o II SENECA, previsto para maio de 2006, em Florianópolis, estão a pleno vapor
Jornal do Capoeira – www.capoeira.jex.com.br
Edição 53 – de 11/dez a 17/dez de 2005
O Seminário Nacional de Estudos da Capoeira (SENECA) é fruto de movimento capoeirístico-acadêmico que surgiu no Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, CBCE – www.cbce.org.br. Pouco a pouco este projeto vem se firmando no cenário geral da Capoeira. Seu objetivo, basicamente, é garimpar, resgatar e refletir sobre o passado e o presente da Capoeiragem, projetando tais reflexões para o futuro. Tarefa nada fácil, como sabemos, que exige trabalho paciente, exaustivo, competente e, sobretudo muita humildade. Trabalhos pretensiosos, ou baseados em dogmas e fantasias, também sabemos, já temos até demais.
Pois muito bem, essas características essenciais, acima resumidas, estão presentes no Grupo de Estudos da Capoeira, GECA, responsável pelo SENECA e estudos correlatos.
Daí porque, pouco a pouco, o GRUPO vai aparecendo e se firmando no Mundo da Capoeira. Sua dinâmica de funcionamento é tão simples e eficaz quanto sua estrutura. O GECA, basicamente, funciona através da Internet; para participar dos trabalhos de pesquisa e discussão basta escrever para um de seus coordenadores (Paula Cristina – Paulete; Letícia Vidor; Falcão etc.), enviando resumo do próprio perfil sócio-capoeirístico e adiantando as maiores áreas de interesse dentro do projeto. A solicitação será devidamente avaliada e, no prazo de 4/5 dias o candidato receberá sua resposta.
Errará, entretanto, quem tentar concluir que o GECA é mais um grupo meramente virtual (com todo respeito aos grupos "meramente" virtuais), pois vai muito além, promovendo reuniões periódicas "de corpo presente" desde maio de 2004. Encontros que acabaram criando condições para encontros ainda maiores, espécie de mini-simpósios e, mais adiante, o surgimento da série "Seminário Nacional de Estudos da Capoeira", ou simplesmente SENECA.
O Primeiro SENECA, realizado na cidade de Campinas, São Paulo, sob a brilhante batuta organizacional das Guerreiras Paulete, Letícia Vidor e do Mestre Tule, reuniu aproximadamente 300 participantes. Como resultado daquele I SENECA, foi elaborada e divulgada a "CARTA DE CAMPINAS", sendo que tal documento, salvo engano, foi encaminhado para os diversos Ministérios (Cultura, Educação, Esporte, Igualdade Racial etc), além de cada Governo Estadual (Minas, São Paulo, Rio, Bahia, Roraima, Santa Catarina, Paraná…) ter recebido também uma cópia da carta devidamente assinada pela comissão do GECA.
Claro que ocorreram alguns senões em termos de logística institucional e gerencial, pois desta ninguém escapa, mas que serviram e servirão para subsidiar futuros aprimoramentos. Administrativos. O saldo, entretanto, foi altamente positivo, com todos os participantes sentindo-se muito à vontade para dar o melhor de si em cada grupo de trabalho.
SENECA EM FLORIPA
Dentre as diversas deliberações do I SENECA, ficou estabelecido que no ano de 2005 deveriam acontecer SENECAs Regionais (Estaduais!), e que no ano de 2006 seria realizado o II Encontro Nacional.
Infelizmente, talvez até por algum motivo não ocorreram os SENECA´s Regionais.
É possível que a coordenação geral tenha optado por reunir-se apenas anualmente. É possível, também, que os estados potencialmente interessados, não tenho tido condições de realizar seus respectivos Encontros. Ou, ainda – quem sabe? – julgaram tais encontros desnecessários no momento.
Apenas faço especulações, permitindo-me lamentar a não realização de tais encontros, pois, sem dúvida seriam da maior relevância, com mestres e estudiosos locais, sérios e competentes, dispostos a participar do Projeto. Encontro Nacional deve ser um encontro sinérgico entre o maior número possível de suas partes, do contrário perde-se muito, das preciosas peculiaridades locais (algumas de grande valor histórico) ao verdadeiro consenso democrático.
Mas, se permitem uma bela frase feita, "o inimigo do BOM é o PERFEITO".
Melhor seria um II Encontro Nacional para tratar de proposições estaduais de bom nível, mas, não sendo possível, que venha o II SENECA mesmo assim. Pois, entre outros méritos, terá o de despertar e alertar o Mundo da Capoeira, mais uma vez, para a importância e urgência de um trabalho deste peso.
Como o SENECA é um movimento aberto à comunidade, e não estritamente "gecalino", seria muito interessante que durante o II Encontro estabeleçam-se estratégias que façam vingar os "Senequinhas" (sem conotação diminutiva). Acredito que ganhará a Capoeira como um todo, acadêmica ou não!
O mais importante é que a programação do SENECA II está de vento em popa, sendo nosso anfitrião, o Mestre Falcão, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Floripa, SC.
A data-tentativa da realização do segundo encontro é de 12 a 14 de Maio de 2006 – justamente quando "comemora-se" a Abolição.
Já foram estabelecidos alguns Grupos Técnicos de Trabalho (GTT´s):
1. GTT Capoeira e Educação;
2. GTT Capoeira, História, corpo, cultura e memória;
3. GTT Capoeira e Esporte;
4. GTT Capoeira Gestão: Políticas Públicas e Contemporaneidade.
Roda final não programada, do SENECA I – nos berimbaus mestre Jerônimo Capoeira e Dinho Nascimento
Além do "approach" (Créditos para Mestre Zeca Pagodinho!) acadêmico-capoeirístico, a coordenação geral do II SENECA também poderia incluir algumas aulas magnas sobre "Capoeira e Sociedade" (Luiz Sergio Dias), "Capoeira e Negritude" (Dr. Nei Lopes), "Capoeira e Ciência do Esporte" (Professor-Doutor Lamartine Pereira da Costa); "Capoeira e Sociologia do Esporte" (Dr. Nelson Mello e Souza) e "Capoeira e Psicologia" (Dr. João Alberto Barreto).
O certo é que a programação incluirá – ou poderia – algumas atividades sócio-culturais, com belos passeios pela região, e com apresentações de "Maracatu Arrasta Ilha", "Samba de Caboclo", "Candombe" (Vilaró – Uruguai).
Temos aí, vejam só, a comprovação da importância de se criar no Brasil, Mecas Itinerantes de Capoeira. Em maio, por exemplo, a MECA será no SENECA através do GECA, a Meca será na fascinante Ilha de Floripa, em Santa Catarina.
Aonde haverá altas reflexões sobre passado, presente e futuro da Arte da Capoeiragem, onde haverá rodas antológicas, de Capoeira e de Samba.
Quando o Mundo da Capoeira presente aproveitará para perguntar ao capoeira catarinense "barriga-verde", de preferência aos de ascendência alemã:
"Canarinho da Alemanha
Quem matou meu curió".
Não valendo responder que o "segredo da Lua, quem sabe é o clarão do sol".
Isto é Capoeira, minha gente.
Miltinho Astronauta
Nota: Fotos por Rui Takeguma ; Na primeira foto estão Frede Abreu, Anand das Areias, Letícia Vidor, Nestor Capoeira e Mathias Assunpção