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Professor de crianças autistas é condenado por abuso sexual infantil

Ele filmava e fotografava estupros de alunos e divulgava imagens na dark web, parte da internet profunda que promete anonimato

Jovem e educado. Morador de um bairro nobre de São Paulo. Indicado por uma psicóloga e referendado pela passagem por uma escola especializada no ensino de crianças com autismo. O professor de música e capoeira Pedro Henrique Barbosa, 33, parecia ser alguém acima de qualquer suspeita.

Era nesta condição que ele ministrava aulas particulares para crianças atípicas em São Paulo, cujas famílias, de classe média alta, abriram suas casas e confiaram em seu trabalho.

Nesta semana, Barbosa foi condenado a 90 anos, 6 meses e 20 dias de prisão pelo estupro de dois alunos. Ele gravava, em foto e vídeo, os abusos e divulgava essas imagens na chamada dark web, espécie de abismo da internet profunda, ou deep web, que promete anonimato e, portanto, concentra atividades criminosas.

O professor de capoeira e música Pedro Henrique Barbosa, condenado por estupro de crianças autistas

Foi a partir do cruzamento e comparação das imagens dos abusos divulgadas por Barbosa na dark web com fotos postadas por ele em seu perfil no Facebook que a Polícia Federal chegou à autoria dos crimes e a suas vítimas. Entre elas, João (nome fictício), 11.

 

Barbosa já estava preso desde outubro do ano passado, quando foi alvo da Operação Mestre Impuro .

 

Advogada experiente, sua mãe, Patrícia (nome fictício), 50, se sentou diante do delegado do caso como se fosse sua primeira vez numa delegacia. Dele, ouviu que seu filho autista havia sido abusado pelo professor.

“Eu surtei. Chorava. Não conseguia levantar da cadeira. Não tinha força física”, lembra ela, que diz ter voltado a si apenas oito horas depois.

Desesperada, ela levou o filho ao pronto-socorro no hospital Albert Einstein para obter um kit profilático para vítimas de violência sexual. Trata-se de um coquetel de medicamentos para prevenir doenças sexualmente transmissíveis.

“Cheguei lá e descobri que eles não tinham protocolo médico para o atendimento de criança abusada. Isso em um dos hospitais mais renomados do país”, diz.

Procurado, o hospital Albert Einstein diz que tem protocolo de atendimento para vítimas de violência sexual.

Patrícia agonizou por 21 dias até ver os resultados de exames de sífilis, Aids e hepatite.

Ao buscar atendimento psicológico para abuso sexual de crianças atípicas, outra decepção.

“Simplesmente não existe! A gente não está nada preparado para a realidade. E a realidade é essa tragédia que eu estou vivendo.”

Ela conta que, desde que seu filho foi diagnosticado como autista aos dois anos, sua casa passou a ser frequentada por um “exército de terapeutas”, que contratava depois de aferir competências e antecedentes criminais.

Barbosa foi indicação de uma psicóloga que fazia a coordenação das terapias de João. “Fiquei culpada porque aceitei a indicação e não fui atrás das informações que geralmente buscava”, admite. “E tento me consolar pensando que, se o tivesse investigado, não encontraria nada porque ele era réu primário.”

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A mãe conta que sempre teve um pé atrás com quem lidava diretamente com João porque a comunicação dele é ruim. “Eu temia os maus-tratos porque a gente ouve relatos sobre crianças autistas que sofrem violência, mesmo em escolas caríssimas”, diz. “Em casa, a porta estava sempre aberta, com alguém de olho.”

Em 2017, dois anos depois das primeiras aulas de Barbosa, o professor sugeriu um encontro semanal na praça da vizinhança, para que João interagisse com outras crianças. A mãe consentiu.

“Vimos que estava tudo bem e baixamos a guarda. Foi nosso maior erro”, lamenta.

O professor era vizinho do local e levava João para sua casa às escondidas. Era lá que os abusos ocorriam.

“Não tenho como não sentir culpa. Até isso acontecer, minha maior preocupação era como meu filho ficaria depois que eu morresse. Depois disso, passei a pensar: ‘de que adianta eu estar viva se uma coisa dessas aconteceu debaixo do meu nariz?’.”

Em retrospecto, Patrícia percebe que João deu os sinais que pôde para indicar que havia algo errado.
“Ele começou a ficar nervoso e irritadiço. Gritava muito e se agredia”, conta ela, que o levou ao médico e recebeu a indicação de aumento na dosagem de antidepressivo.

“Eu silenciei a reação dele, e isso me corrói. Mas sou apenas a mãe de um menino atípico. Como é que nenhum dos terapeutas ou médicos levantou outras hipóteses para aquela alteração?”, revolta-se.

Segundo especialistas, entre os sinais apresentados por crianças abusadas, a mudança repentina de comportamento é o principal.

“Claro que você pensa que esse tipo de coisa não acontece com a sua família. E eu descobri que acontece com todo mundo, que é sempre alguém próximo, em geral familiar. E que o que as pessoas fazem é jogar pra debaixo do tapete.”

Patrícia diz que a condenação não lhe trouxe satisfação. “Só fez voltar a raiva. Ainda que seja bom saber que ele está atrás das grades, me dá medo imaginar que, em 30 anos, ele estará de volta às ruas e poderá fazer novas vítimas.”

Fernanda Mena – Folha de São Paulo – https://www1.folha.uol.com.br

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