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A Capoeira e os conflitos da Intervenção Pedagógica

A capoeira atualmente está enfrentando uma de suas maiores crises de identidade, principalmente no âmbito de atuação escolar, pois pela sua recente inserção e pelos conflitos gerados a partir de um confronto de ideologias que apontam, na maioria das vezes,  toda repressão e sectarismo na estruturação do sistema de ensino brasileiro adotado em nossas escolas.
Vale a pena ressaltar que não podemos perder de vista que a instituição escolar surge para atender uma necessidade da burguesia, reservando-se, na maioria dos casos,  o papel para a mesma de ferramenta mantenedora da estruturação social vigente, que se firmou ao longo dos anos através de símbolos condicionadores para um perfil social forjado para atender os interesses das classes dominantes.
 

A capoeira da escola vive o desafio de a serviço da mesma contrapô-la, pois se mergulharmos a fundo na estruturação de nossa arte, perceberemos que em seu arcabouço ideológico contem o embrião necessário para a ressignificação dos equívocos sociais.
 
A partir deste preâmbulo discutiremos algumas questões relacionadas às ideologias pedagógicas que perpassam pela capoeira. O primeiro ponto desta discursão é o fato de boa parte da comunidade de capoeira está investida de idéias que apontam para a fenomenologia, mesmo sem nunca ter ouvido falar neste nome, ou seja, alguns capoeiristas acreditam numa essência de homem pré-existente, estabelecendo o homem como um elemento forjado pelo contexto, o que inviabiliza uma idéia de homem como sujeito ativo e transformador de seu tempo. Essa idéia citada é facilmente percebida nos discursos que defendem a tradição como a “fórmula” correta para a capoeira, inviabilizando o novo e as readaptações. “Tradição é uma trilha e não um trilho!”. 
 
O marxismo nos aponta uma possibilidade mais interessante, pois propõe uma idéia de homem ativo, que influencia e é influenciado pela sociedade, sofrendo a ação de um conflito de classes que o impulsiona a superação e desencadeamento de novos conflitos.
 
O segundo ponto consiste no fato do equivoco em se confundir imparcialidade com neutralidade, pois toda prática pedagógica é judicativa, ou seja, é impossível não se posicionar diante de um fato, estabelecendo-se sempre um juízo de valor, o que significa que mesmo na omissão estamos sempre nos posicionando quando empreendemos alguma ação pedagógica com a capoeira.
 
O discurso de respeito a diversidade de opiniões, respaldado na teoria democrática, na maioria das vezes fundamenta um erro de ordem catastrófica, pela má interpretação por parte de alguns capoeiristas, pois o respeito não se consiste no fato de se calar uma idéia, omitindo-se uma opinião e sim no reconhecimento da diversidade enquanto possibilidades alternativas.
 
A solução para a maior parte dos conflitos da capoeira institucionalizada está no reconhecimento da diversidade e no desenvolvimento de uma autonomia crítica e criativa, que seja capaz de se posicionar afirmando, contrapondo ou resignificando as idéias propostas. Se o capoeirista não se der conta desse admirável “mundo novo”, que jamais deve excluir o velho (modelos e paradigmas) e sim, quando necessário “superá-lo”, redimensionando e adaptando seus ensinamentos ao contexto atualizado de forma que, quando pertinente e funcional, possamos a partir dos mesmos nos posicionar na reconstrução de novas possibilidades, pois nesta lógica construiremos uma proposta mais saudável para nosso tempo, negando a tendência de cada vez mais nos submetermos as interferências neoliberais e aos paradigmas da aculturação imposta pela minoria dominante. 
 
       

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