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Iê dá volta ao mundo camará!

Da senzala para o mundo, a capoeira conquistou nações com sua arte, história, força e malandragem. Hoje, é o ritmo que o planeta não consegue deixar de amar

“Esta é a prova de que o mar leva… e o mar devolve: saímos dos porões amargurados dos navios negreiros e voltamos consagrados pela fraternidade da arte. Resistência da Capoeira… “, essas palavras fazem parte de um discurso do então Ministro da Cultura, Gilberto Gil, na sede da ONU em Genebra. E naquele dia, 19 de agosto de 2004, a Organização das Nações Unidas foi presenteada com uma roda de capoeira, com a presença de capoeiristas de várias partes do mundo. Mestres de capoeira e figuras políticas entusiasmaram-se com o ato, considerado o início do reconhecimento do movimento para a história do Brasil.

Desde que Getúlio Vargas retirou do código penal a punição pela prática da capoeiragem, considerada crime pelos anos de 1890, os capoeiristas resistiram às imposições governamentais de transformar a sua prática cultural em mero desporto regulado em papel, o que poderia descaracterizar o jogo de suas origens. Durante o período da ditadura, entre os anos de 1964 e 1985, houve uma série de projetos dos militares para os esportes em geral, inclusive a capoeira. Criou-se o Departamento Especial de Capoeira, vinculado à Confederação Brasileira de Pugilismo, coordenado por um militar. A Aeronáutica promoveu simpósios no Rio de Janeiro com o objetivo de homogeneizar as nomenclaturas de golpes e graduações para unificar a capoeira como arte de campeonato, como explica a historiadora e doutoranda, pela Fundação Getúlio Vargas, Vivian Fonseca.

– Ela foi reconhecida durante a década de 1970 como esporte, foi feito um regulamento técnico; não encontrou muito eco dentre os capoeiristas, mas de qualquer maneira foram ações que estiveram em pauta. Eu costumo dizer que neste período houve uma atuação muito autoritária sobre a capoeira. Nos simpósios foram chamados os mestres pra ouvir o que eles pensavam, só que havia uma proposta independente das opiniões divergentes. Na verdade, ele não conseguiu se concluir, mas houve essa tentativa de levar à frente e não teve uma consulta pública pra esse campo.

Após a ditadura, a capoeira já fazia sucesso no Brasil e no exterior e muitas vezes suas apresentações integravam parte dos cronogramas oficiais de grandes eventos, inclusive do governo, mas sem obter uma proposta de valorização para a arte genuinamente brasileira, como esclarece Vivian. Para a historiadora, a partir do governo Lula há um novo olhar pra capoeira, com uma maior percepção dos atores envolvidos, buscando a discussão e construção de uma política não autoritária, de cima pra baixo: “A partir do mandato da presidente Dilma, as ações ficaram meio desarticuladas, mais em função de cortes de orçamentos, rearranjo de prioridades, mas ainda há mobilização”.

Quatro anos depois do Ministro discursar na ONU, a capoeira finalmente se tornou Patrimônio Cultural Brasileiro, reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN. Antes disso, porém, os capoeiristas ainda precisaram se organizar para ter suas demandas respeitadas. É o que conta a pesquisadora Vivian.

– Houve uma disputa com os conselhos de educação física sobre quem teria o direito de ministrar aula de capoeira, se seria o bacharel em Educação Física ou o mestre de capoeira. A partir daí houve um rearranjo no campo e os capoeiristas começaram a se articular um pouco mais politicamente.

 

ORIGEM E LEGADO

A capoeira surge com a escravidão, tendo seus primeiros registros encontrados a partir dos anos 1810. Ela se desenvolve na senzala como forma disfarçada de brincadeira, mas que serviria para a própria defesa dos escravos. A prática de jogos como a capoeira se desenvolveu em diversas partes do país, cada qual ao seu jeito, inspirada em diferentes lutas africanas.

No início do século XX, Manoel dos Reis Machado, mais conhecido como mestre Bimba, começou a desenvolver um novo estilo de jogo, que fundia movimentos da capoeira antiga, conhecida como Capoeira Angola, com o Batuque, jogo violento de pernadas praticado por seu pai. Mestre Bimba desenvolveu uma prática de capoeira mais voltada para a luta, atraindo muitos alunos, inclusive filhos de doutores e universitários, para sua academia. A esse estilo, mestre Bimba chamou Capoeira Regional. Ele desenvolveu técnicas e disciplinas e foi consagrado por seus discípulos como grande homem, lutador e sábio, que tornou aceitável para a sociedade brasileira muitos aspectos da cultura negra. Bimba cultivou 7 toques que determinavam o jogo de sua capoeira: São Bento (jogo rápido e duro), Cavalaria (também violento), Santa-Maria (que permite os floreios, acrobacias), Benguela (mais próximo da Capoeira Angola), Idalina (jogo alto e malicioso), Amazonas (sutileza e variação) e Iúna (para a exposição dos conhecimentos em ocasiões de festas). Bimba preservava as práticas do Candomblé e outros costumes antigos como, puxada-de-rede, samba-de-roda e maculelê.

Por outro lado, Vicente Ferreira Pastinha, mestre Pastinha, conseguiu manter viva a tradicional Capoeira Angola, sendo atualmente as principais vertentes praticadas da Capoeira aquelas preservadas ou desenvolvidas por ele ou Mestre Bimba, a Angola e a Regional.

Muniz Sodré, jornalista e emérito professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), está entre aqueles que treinaram com Mestre Bimba na juventude. Ele escreveu o livro Corpo de Mandinga, que inspirou o documentário sobre o capoeirista lançado em 2007. Há uma grande admiração pelo mestre de Capoeira, sendo indiscutível o consenso entre seus alunos, doutores ou não, sobre a inteligência e sabedoria de Bimba. Muniz Sodré compara seu mestre ao filósofo alemão, quando diz em seu livro que “Bimba jamais ouviu falar de Nietzsche, mas filosofava de jeito parecido, porque jogava do lado do corpo, do pensamento não-conceitual, do sentimento do instante”. E, com empolgação, o ex-Diretor da Biblioteca Nacional discorre sobre a cultura de sua origem e de seu mestre:

– Eu percebi que, mesmo na esfera do que é ágrafo, que não tem escrita, do analfabeto, na esfera mais rudimentar aparentemente da cultura popular, há uma erudição. A capoeira tem um aspecto erudito por detrás. Bimba era analfabeto, mas era um sábio, realmente sábio, até falando, no comportamento dele. A capoeira junto com o candomblé me mostraram a força da cultura do povo. E isso mudou a minha vida… Porque eu estudei na Europa, sou professor de cultura europeia, mas minha visão, minha perspectiva vem daí, do candomblé e da capoeira.

Além de Muniz Sodré, Bimba fez discípulos que permanecem na capoeira até hoje, tanto na Bahia, preservando a capoeira Regional, tal como ele criou, como pelo resto do país e mundo afora. Hoje, nome dos mais conhecidos da capoeira e grande propagador da arte pelo mundo, Mestre Camisa, que também foi aluno de Bimba – seguindo mais que os passos, a forma inovadora de pensar de seu mestre – é o fundador do grupo Abadá Capoeira, conhecido por ter um jogo próprio, que mescla as sequências de Bimba com novos estilos de esquiva e de golpes. Ele chegou ao Rio de Janeiro em 1972, com 17 anos, e logo começou a ensinar o que sabia de capoeira, um pouco do que tinha aprendido com o mestre somado à capoeira de rua que praticava antes da mãe permitir que frequentasse a academia. Mestre Camisa diz que a proibição de treinar com Bimba por parte de sua mãe era uma espécie de castigo, “não tá indo bem na escola, então não vai pra capoeira”.

Camisa começou ensinando aos colegas no bairro da Lapinha, em Salvador o que tinha aprendido na rua e, ao adquirir mais conhecimentos na escola de Bimba, reforçou para seus primeiros alunos como se jogava a capoeira. Bimba desenvolveu seu método em 8 sequências básicas, de onde resultava todo o jogo da capoeira Regional, e era isso que Camisa ensinava na primeira escola em que começou a dar aula, assim que chegou ao Rio. Ele conta que sentia falta de alguma coisa, de um jeito novo, esclarecimento, experiência, porque era muito jovem:

– Comecei a dar aula numa escola aqui no Rio e fui adaptando ao meu jeito, pela deficiência… ele tinha uma estrutura lá, com vários alunos formados e aqui eu não tinha nada. Passei a dar aula em outros lugares e a encontrar capoeiristas também, que jogavam de uma forma diferente. E com o tempo, eu fui tirando a experiência e o resultado de cada lugar. Fazia as rodas no fim de semana e cada um ia trazendo alguma coisa, de forma espontânea e fui estudando em cima disso, da necessidade, porque era meu ganha-pão. Tinha que ter resultado.

Mestre Camisa, ora questionado por alguns capoeiristas, que o consideram um transgressor da Capoeira tradicional, ora admirado como uma extensão de Bimba, por continuar a criar e instituir formas e regras numa nova escola de aprendizagem, faz crescer por todo o mundo a Abadá Capoeira, criando mecanismos de comprometimento social e ambiental, pensando formas de expandir a profissionalizar a capoeira. Um de seus próximos planos é criar uma escola profissionalizante da Abadá Capoeira, com categorias que atendam aos diversos níveis de escolaridade de seus capoeiristas, e que seja reconhecida pelo Ministério da Educação. Dentre aqueles que o apoiam e enxergam em Camisa um eco do grande espírito de Bimba, está o professor Muniz:

– Mestre Camisa tem no mundo mais de 40 mil alunos, é mais que uma universidade! Onde estão esses alunos? Na China, no Japão, em Israel, na Rússia, na Hungria. São alunos de alunos e ele é chamado constantemente pra fazer batizado, pra dar curso nesses lugares, vive viajando. É uma universidade invisível que ele comanda. Eu vi na Alemanha, na França, moças jogando capoeira muito bem e cantando chulas de capoeira sem saber falar português, mas cantando sem sotaque em português. Isso foi uma coisa que me emocionou muito, aqueles gringões grandes, fortes, jogando capoeira. E você vê que é uma coisa que não se enraizou, não foi a partir de adido cultural de embaixada, não foi a partir do nível escrito, foi dessa prática que não envolve dinheiro – claro que se eles vão dar um curso, eles vão cobrar, mas não é dinheiro que se contabiliza como investimento, é o salário dele. É uma arte que se propaga sem dinheiro, não é como o espetáculo do futebol… E isso vai penetrando. Já se disse que a capoeira ia acabar, com a vinda dessas artes marciais, como karatê, jiu-jitsu, mas, pelo contrário, a capoeira vai crescendo porque ela tem esse fundo cultural. A capoeira não é só luta. É luta, dança, canto… Talvez seja a única arte marcial que se pratica de forma alegre… Todo capoeirista que jogou com Bimba era um fominha de jogar. É como o Camisa conta, quando subia a escada e ouvia o berimbau tocar, o coração começava a bater bum bum bum bum bum bum… Todo mundo queria jogar!

 

DO BRASIL PARA O MUNDO

Lila Sax é americana e reside na Alemanha há 12 anos, mesmo tempo em que começou a jogar capoeira. Ela conta que estranhamente a capoeira foi a sua porta de acesso para a sociedade alemã, tendo inclusive aprendido o idioma a partir do esporte. Foi na capoeira que fez seus primeiros amigos e que encontrou um espaço naquele país. Hoje ela é antropóloga mas seus planos são de prosseguir com o jogo e se profissionalizar cada vez mais no esporte. Ela é uma das mulheres mais graduadas na Europa e, por conta de suas viagens pelo continente para competições e eventos, tornou-se muito conhecida no meio, inclusive no Brasil. Ela faz parte do grupo Abadá Capoeira. A principal bandeira levantada por Lila tem relação com o fato de ser mulher. Ela acha importante que as pessoas saibam que todo mundo pode jogar capoeira, que uma mulher estrangeira é capaz de jogar bem, cantar bem, tocar instrumento, como qualquer outro capoeirista.

– A diferença da capoeira, e eu acho que isso que atrai muito as pessoas, é que tem um lugar pra todo mundo. Se você não gosta de lutar, você vai dar mais ênfase ao lado musical da capoeira, vai aprender as músicas, as acrobacias e a história da capoeira; se você não gosta de música nem da acrobacia, vai dar mais ênfase ao lado da luta, vai chutar, dar galopante, banda… E é por isso que o pessoal lá fora, que faz judô, muay thai, eles vem pra capoeira e veem que tem um espaço pra todo mundo e que todos são aceitos, o que muitas vezes não é possível em outros esportes. E o legal que, independente de idade, altura, de flexibilidade, de deficiência, as pessoas fazem capoeira.

Já Luiz Carlos dos Santos Sobrinho, mais conhecido como Cao Capoeira, saiu do interior do estado do Rio, Campos dos Goytacazes, em busca de oportunidades para desenvolver suas ideias que desde muito jovem envolvem a Capoeira. Por causa do jogo, ele se formou em Educação Física e, no meio de sua graduação, fez um intercâmbio pela Alemanha, onde conheceu excelentes universidades que, segundo ele, valorizam bastante a pesquisa, principalmente na área técnica. No Brasil, ele chegou a conseguir uma bolsa para pesquisar na área de História da Capoeira, mas o projeto não conseguiu ir adiante, por falta de apoio. Após concluir o bacharelado, retornou à Alemanha e apresentou uma proposta de projeto para mestrado ao Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, uma universidades de elite no país. Sua ideia, que logicamente envolvia capoeira, foi aceita. Morando há quase dois anos na Alemanha, ele já pensa em temas para prosseguir com o doutorado em Karlsruhe:

– Infelizmente no Brasil a gente vê que não tem assim um apoio tão grande pra essa área de pesquisa. O conhecimento que tenho desenvolvido no Instituto, aplico na minha dissertação de mestrado, que é sobre capoeira, suas esquivas e o nível de lesão mecânica que essas esquivas podem causar principalmente nas articulações do joelho e do tornozelo. É do senso comum que capoeira faz mal pro joelho, pelos seus movimentos baixos, de chão. E a minha ideia é quantificar a lesão mecânica que ocorre nas articulações quando o capoeirista realiza esquivas específicas, entender isso melhor. Esse é um primeiro passo para mais tarde a gente otimizar a técnica, talvez alterar pequenas coisas, adaptar a capoeira para que pessoas de mais idade ou com problemas articulares também possam praticar de forma menos lesiva e, quem sabe mais à frente, usar esse conhecimento no desenvolvimento de uma metodologia de capoeira reabilitativa, para pessoas que tem problemas em joelho, tornozelo, aplicar a capoeira de forma adaptada e dosada como forma de reabilitação.

 

A CAPOEIRA EXPORTADA

Segundo o professor Acúrsio Esteves, formado em Educação Física pela Universidade Católica de Salvador e pesquisador da arte da Capoeira, o jogo começou a ganhar asas para fora do país a partir da década de 1950. Ele conta que mestre Bimba, mestre Pastinha e alguns outros mestres de Salvador, começaram a fazer, além da capoeira que eles ensinavam em suas academias, shows folclóricos que tinham como público-alvo os turistas que vinham conhecer o Brasil. Com uma visão crítica sobre a exportação da capoeira como elemento exótico do nosso país, o professor escreveu o livro A “Capoeira” da Indústria do Entretenimento. Ele sintetiza suas conclusões sobre a origem da difusão mundial da capoeira, a partir da formação de grupos parafolclóricos, formados no Brasil e levados para outras partes do mundo, a convite de estrangeiros. Para Acúrsio, esses grupos começaram a se estabelecer no exterior e seus integrantes iniciaram uma nova vida nesses países, dando aulas de capoeira para estrangeiros. O professor elenca o que considera os grandes difusores da capoeira pelo mundo afora, em ordem cronológica:

– Elas saíam do grupo e começavam a desenvolver uma atividade própria, particular. Depois vieram as academias de capoeira, que foram criando filiais no Brasil inteiro. E o processo foi esse, de uma forma bem resumida: primeiro pelo viés da cultura, depois pelas academias e, em terceiro plano, começaram a vir as publicações, os livros, e por último o cinema. Outro viés muito importante e bem recente é a divulgação pela internet, através de sites como o Portal Capoeira, do Professor Luciano Milani. Desde 2005 que Luciano Milani, capoeirista brasileiro, residente em Portugal há 10 anos, criou o Portal Capoeira, principal meio de comunicação direcionado ao capoeirista na atualidade, com uma média de 3 a 4 mil acessos por dia, segundo o editor do site. Atualmente, o Portal possui cerca de 20 colaboradores, sendo os mais atuantes o jornalista de Brasília Mano Lima e os professores baianos Pedro Abib e Acúrsio Esteves. Desde quando criou o site, ele mantém contato com capoeiristas do mundo todo, principalmente do Brasil, a fim de fortalecer as trocas sobre toda a cultura que envolve a capoeira. Dessa forma ele desenvolveu uma sólida amizade com mestre Decânio, discípulo de Bimba e médico em Salvador, foi o grande responsável e incentivador que possibilitou a criação do portal, diz Milani:

– A ideia básica do Portal é reunir o maior número de informações possíveis. Nós temos trabalhos de teses, mestrados, doutorados, livros, músicas, vídeos, matérias mesmo, subdivididas em diversas categorias. A nossa ideia é criar esse núcleo de cultura e conhecimento da maneira mais vasta possível, porém com coerência e muita responsabilidade. Aqui na Europa eu percebo que há muita preocupação com a pesquisa. Tenho muitos amigos desse meio que são professores, bastante preocupados com a disseminação da capoeira no sentido cultural mais aprofundado. Foi a partir de 2007 que o site ganhou importância, por conta do filme mestre Bimba, Capoeira Iluminada. O filme Mestre Bimba Capoeira Iluminada é um documentário de 2007 realizado pelo carioca Luiz Fernando Goulart que conta a história de Bimba através de seus antigos discípulos, historiadores e antropólogos, suas ex-esposas. Ele é rico em imagens antigas, inclusive vídeos feitos do próprio mestre. Ele é inspirado no livro Corpo de Mandinga, do Muniz Sodré. Sobre o Mestre Pastinha existe o documentário “Pastinha! Uma Vida Pela Capoeira”, realizado por Antonio Carlos Muricy, no ano de 1998.

 

CAPOEIRA E FILOSOFIA

Em 12 de junho de 1996, a Universidade Federal da Bahia concedeu, após 22 anos de sua morte, o título de Doutor Honoris Causa a Manoel dos Reis Machado, o mestre Bimba. Por tudo que aquele negro forte e mitológico representou para o reconhecimento da capoeira, desde a atração que exerceu sobre os doutores que depois vieram a ser capoeiristas, até o reconhecimento por Getúlio Vargas da capoeira como cultura popular e não mais crime, conforme registrava o código penal. Pela institucionalização da capoeira com regras e disciplina, sem perder, no entanto, a alegria.

O professor Muniz Sodré, que parece simpatizar bem com o alemão Friedrich Nietzsche, principalmente quando fala de mestre Bimba, também diz em seu livro que o filósofo “jogava capoeira com o pensamento, em especial quando se referia ao corpo como ‘um edifício coletivo de diversas almas’”. E Muniz prossegue no mesmo livro: “Na capoeira, assim como na filosofia de Nietzsche, o corpo pensa. Pensamento e corpo pertencem à ordem do diverso, isto é, a uma simultaneidade de coisas compreensíveis e incompreensíveis que raramente passam pela consciência. “

 

 

Áurea Maria Xavier Pereira Gomes

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