Alongamento versus treinamento de força

Introdução:

Recentemente, em um dos meus cursos, está questão foi levantada. É válido realizar um alongamento após um treinamento de força? A questão é polemica e abriu uma série de outras questões que valem a pena serem discutidas. A princípio, vamos tratá-las de maneira geral para depois aproximá-las do universo da capoeira, nosso foco principal.

Alguns esclarecimentos iniciais.

Nunca é demais lembrar definições básicas para que possamos melhor tratar nosso tema. A seguir a definição moderna de alongamento e flexibilidade.

Flexibilidade

“Capacidade que as articulações detêm de terem uma amplitude de movimento (ADM) para as quais foram projetadas (todas as articulações têm um limite de amplitude).”

E alongamento.

“É o conjunto de técnicas utilizadas para se manter ou para se aumentar a amplitude de movimentos.”

Partindo destes conceitos podemos estabelecer que o alongamento é um conjunto de técnicas que tem por objetivo aumentar a flexibilidade do nosso atleta.

Esta colocação nos leva à determinadas questões:

Depois de um trabalho de força um alongamento terá realmente seu melhor efeito?

Não seria melhor um trabalho especifico objetivando o alongamento? Ou este é realmente o momento ideal isto?

Claro que tudo isto importa é muito para o capoeirista, visto que força e flexibilidade são duas valências fundamentais para o seu bom desempenho.

Portanto, vamos começar a tentar elucidar esta questão. Retomando também o conceito de força.

Desenvolvimento.

Os autores de uma forma geral tendem a definir força em um contexto de trabalho muscular, da capacidade de influenciarmos o ambiente através do trabalho de um ou mais músculos. Esta valência, em particular, se desenvolve a partir de uma sobrecarga obedecendo ao princípio da adaptação que estabelece um equilíbrio instável entre os vários sistemas orgânicos, isto quer dizer, que para se aumentar a força é preciso “stressar” a musculatura, trabalhando-a com afinco, o que o nosso dia-a-dia também nos indica.

A questão é que ao se trabalhar determinada musculatura objetivando força a tendência de suas fibras é o “encurtamento” como qualquer que tenha se submetido a um treinamento de força sabe. Os músculos ficam “encurtados” neste momento um trabalho de alongamento leve irá sem dúvida nenhuma recompor as microfibras desgastadas, aumentar a absorção do ácido lático, redirecionar as fibras musculares propiciando uma melhor adaptação ao trabalho e uma maior recuperação. Este ponto não nos parece passível de discussão, principalmente no caso do capoeirista que não pode ficar com a musculatura “endurecida”.

Porém esta não é realmente a questão. Para que possamos realmente aumentar os níveis de flexibilidade de nosso atleta é necessário submete-lo a um trabalho de alongamento que traga sua musculatura para angulações ainda não alcançadas. Novamente passar do limite. Acontece que os dois treinamentos força e alongamento apontam para direções opostas no quesito fibras musculares, o treinamento de força trabalha concentricamente e com alta carga de intensidade lática; o alongamento trabalha as fibras no seu sentido longitudinal, atingindo sobremaneira a mobilidade articular e extensibilidade dos tendões e ligamentos.
 

Assim sendo um grupo muscular submetido a um trabalho de força teria seu melhor rendimento quando submetido logo a seguir a um alongamento?.

Como parece que estamos andando em círculos. Vamos/> tentar uma outra abordagem. Como outras linguagens corporais resolvem está questão?

O Ballet clássico uma linguagem que alia também, força e flexibilidade, a resolve separando as valências por módulos, ou seja, determinadas aulas são para “alongamento” determinadas aulas “para “força”. Conduto na própria estrutura dos movimentos de ballet existe uma alternância destas valências.

A estrutura de treinamento de outras artes marciais parece que também obedece um esquema de treinamento específico.

Uma nova linha de trabalho: a técnica de Pilates as intercala em movimentos extremamente lentos, usando até contrações isométricas antes do alongamento.

E a capoeira?

A grande maioria de nossos alunos recebe seus treinamentos de maneira stander, aulas de 90 minutos com um grande grupo. Neste caso parece que a melhor solução é viabilizar no momento de formação um tempo específico para força e outro para alongamento.

Porém se queremos um desenvolvimento mais rápido precisamos de um atendimento mais especifico e neste caso aulas especiais de alongamento e força passam a ser bem vindas.

Conclusão.

O assunto está longe de ter um final, porém cremos ter dado nossa contribuição para esta questão, sugerindo alguns procedimentos básicos:

– Depois de um trabalho de força deve-se seguir um alongamento com o objetivo especifico de melhoria da condição geral e uma recuperação lática mais eficaz. .

– Um trabalho específico de alongamento deve ser planejado junto com o desenvolvimento de técnica, por exemplo.

– O alongamento deve ser precedido de um pequeno aquecimento.

– O planejamento de uma aula de capoeira deve contemplar o trabalho de alongamento sob pena de ter alunos com índices técnicos muito abaixo do esperado pela simples razão de não ter desenvolvido esta valência.


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