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Palmares, um Projeto de Nação

O INÍCIO DE PALMARES…. , A ESCRAVIZAÇÃO DO ÍNDIO

“No dia em que nossa gente acabar de uma vez, eu vou  tirar esta
escora daqui, e o céu vai desabar, e todas as gentes vão desaparecer.
Vai acabar tudo”. Sinaá, Lenda do fim do Mundo, povo Juruna.”

  • 1533 – Bula Veritas Ipsa Papa Paulo III declarando “os índios homens racionais”…
  • Entradas, expedições organizadas pelos Gov. Gerais, ou diretamente pela Corôa.
  • Bandeiras, empresa (expedição) organizada por particulares, ambas para caçar índio.
  • Incursões de franceses, iniciativa particular de “piratas” e não de governo.

Toda e qualquer referência à escravização do índio, que nos interessa, seria uma repetição da escravização negra. A História do Brasil é contada em dois extremos de uma mesma arma – ora como uma peça de defesa, o secular cuidado com a cabeça de louça do cristianismo; ora uma peça dedescaracterização do negro – a condenação da vítima – “comprava-se negros escravizados por outros negros;  eram comprados por escambo índios escravizados por outros índios ” : Doe mais ao negro do Mundo, assim com ao índio do Brasil, estas mentiras secularmente repetidas que a própria escravidão a que foram submetidos, doem-lhes a insaciedade do dominador…

As narrativas feitas entre o Séc. XVI e o XVIII serve como relato, não como interpretação, de um lado por que os escrivães não conheciam absolutamente nada do índio; segundo porque eram interessados – uns como mercadores ou agentes de mercadores; outros, por serem agentes da Coroa Portuguesa que chega ao Séc. XIX  “tendo no Brasil apenas a vaca leiteira”.

Acrescente-se ao fato das expedições portuguesas serem compostas por homens sem letras. Se dentre os franceses e até dentre as poucas entradas alemãs de que se tem notícia sempre havia intelectuais, homens de letras, e muitos de ciência, (meramente interessados em ciência), dentre os portugueses não há um único registro com este cuidado, por todo o Séc. XVI e até o Séc. XVII. Mesmo entre os jesuítas pode-se encontrar quando muito um ou outro letrado, que eram dominados ou pelo interesse comercial da sua Ordem, ou pela posição de minoria dentre os seus pares, ou notadamente pela ordem severa da Igreja Católica. O que se conhece de imparcial e de cunho cultural é de origem francesa, depois holandesa.

 

RELATO SOBRE ÍNDIO, CRONISTA FRANCÊS JEAN LERY.

“Uma vez um velho índio perguntou-me: – Que significa isto de virdes vós outros, peros (portugueses) e mirs (franceses), buscar tão longe  lenha para vos aquecer? Não a tendes por lá em vossas terras? – Respondi que tínhamos lenha e muita, mas não daquele pau, e que não o queimávamos, como ele supunha, mas dele extraíamos tinta para tingir.

Retrucou o velho: – E por ventura precisais de tanto pau brasil? – Sim, respondi, pois em nosso pais existem negociantes que têm mais panos, facas, tesouras, espelhos e mais coisas de que vós aqui podeis supor, e um só deles compra todo o pau brasil com que muitos navios voltam carregados.

 

  • Ah! tu me dizeis maravilhas, disse o velho; e acrescentou, depois de bem alcançar o que eu dissera: – Mas esse homem tão rico não morre?
  • Sim, morre como os outros. –  E quando morre, para quem fica o que é dele? Perguntou.
  • Para seus filhos, se os tem, e na falta, para os irmãos ou parentes próximos, respondi.

 

Na verdade, continuou o velho, que não era nada tolo, agora vejo que vós, peros e mairs, sois uns grandes loucos, pois que atravesseis o mar com grandes incômodos, como dizeis, e trabalhais tanto a fim de amontoardes riquezas para os filhos ou parentes! A terra que vos alimentou não é suficiente para alimentá-los a eles? Nós aqui também temos filhos, a quem amamos, mas como estamos  certos de que após a nossa morte a terra que nos nutriu os nutrirá também, cá descansamos sem o mínimo cuidado”. Jean Lery.

“… andavam muitos deles dançando e folgando uns ante outros, sem se

tomarem pelas mãos, e faziam-no bem”.

(carta de Pero Vaz de Caminha, sobre o índio)

 

ÍNDIO ESCRAVIZA ÍNDIO  X  NEGRO ESCRAVIZA NEGRO, (meu Deus?)

Aí repousa o telhado de vidro do Cristianismo,  bastando que se diga:

  1. Todo e qualquer bacharel em História, em qualquer parte do Mundo sabe que é mentira esta afirmação, assim como todo e qualquer bacharel em direito que tenha se dedicado ao Direito Antigo; (só tem sentido alguém escravizar alguém se o excedente de produção do escravo for superior ao que ele consome, como não havia noções de acumulação, entre negros e índios, não podia haver interesse em escravizar uma ou um grupo de pessoas)

  2. No Brasil, ainda sobre o indígena: nem uma obra ou abordagem dos Irmãos Vilas-Bôas consta alguma citação de nações, ou tribo indígena escravizada por outra tribo, no que pese referências inúmeras a constatações e ou suspeitas de desaparição em guerras. (Todo animal lutou num dado instante por ração, e por toda a vida pelo instinto da procriação, apetite sexual).   Esta mesma observação vale para Darcy Ribeiro, ou Cândido Rondon. Os Vilas Boas viveram, moraram entre índios por mais de 45 anos, – vejamos um dos seus relatos:  “As grandes áreas devastadas, ou transformadas na sua vegetação original  existentes nas vizinhanças das aldeias em geral, provam a longa permanência dos índios nesses lugares…quantos anos não levaram para transformar grandes extensões em  mangabais,  piquizais…. e cerrados”?  Relato que desmente também as afirmações acerca do “nomadismo do índio brasileiro:  um povo agricultor não pode ser nômade.

“Quando Cabral pisou a terra brasileira em 1500, avalia Luis Amaral, já o indígena graças a ele próprio ou a seus antepassados, praticava a agricultura, em grau  mais ou menos igual ao então conhecido na Europa..” Assim é que eles já conheciam, naquela época  remota, anterior mesmo a 1500, o fumo, o algodão, o milho, a mandioca, a batata doce, a batatinha, o feijão, a abóbora, e o arroz”, completa Aluysio Sampaio.

Assim o índio, muitas das usas tribos foram se tornando errantes e não nômades como a Ordem Estado/Igreja usa como justificativa a 500 anos. Da Ordem dos Jesuítas e seus vigários o que se pode dizer é que foram sempre mais comerciantes (exploradores) que tudo o mais. De sob as imunidades desfrutadas em muitos períodos, cita Aluysio Mendonça Sampaio – “Do terror do gentio pelo português era tão grande que se chegou a criar a lenda do Padre de Ouro, lenda ainda contada por Frei Vicente do Salvador como verídica”.

Portal Capoeira Palmares, um Projeto de Nação Cultura e Cidadania Esse terror do gentio pelo branco já é uma prova da decadência do poderio dos nativos. Daqui por diante veremos os portugueses avançando, escravizando-lhes e empurrando-os para o sertão. “E a terra, em todos os lugares do Brasil, irá aos poucos mudando de dono”. Nos moldes da mistura geral, o Gov. Luiz de Brito, na sua primeira atitude organiza expedição de caça ao índio como nunca….diz frei Vicente “Na Paraíba,não deixaram branco nem negro, grande nem pequeno, macho nem fêmea, que não matassem e esquartejassem”. (sobre a tática de jogar o negro contra o índio e vice-versa. Embate contra uma tribo talvez ainda desconhecida, entrada de Governadores  Gerais). Tudo o que se passou nos Séc. XVI e XVII chega, com a mesma intensidade a meados do Séc. XIX, constata Alexander Marchant, por desconhecer o Brasil de 1940 quando escreveu. Aliás aquele Historiador americano em todo seu escrito “Do Escambo a Escravidão”, (l943), se não chega a desmentir, em nenhum momento avaliza afirmações sobre escravização de índio por índio.

A descoberta do Brasil, para o indígena como para o negro foi mais danosa que toda e quaisquer das invasões  de bárbaros em quaisquer lugar da terra onde ocorreu  – 500 anos depois e ainda não houve intercâmbio, não há nada que se possa conceituar além do domínio, do saque. Assim é que o indígena brasileiro regrediu, decresceu em número e em qualidade de vida e afunilou-se inversamente do ponto de vista da evolução técnico-cultural.

PS. Quando tratarmos do início de Palmares, A escravização do negro, vamos demonstrar a mentira da escravização do negro pelo negro, e ou a escravização do índio pelo índio .

 

Jean de Léry

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.”Historia navigationis in Brasiliam…”. Genebra, 1586.

(Côte-d’Or, c. 1536 – Suíça, c. 1613) foi um pastor, missionário e escritor francês e membro da igreja reformada de Genebra durante a fase inicial da Reforma Calvinista.

 

André Pêssego – [email protected]Berimbau Brasil  – São Paulo, SP – Mestre João Coquinho – 10 anos

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