Brasília – DF: Grupo leva capoeira a escolas públicas e fala sobre cultura negra
Brasília – DF: Grupo leva capoeira a escolas públicas e fala sobre cultura negra
A história da África e a luta dos negros do Brasil ensinadas de uma maneira diferente. Para sensibilizar crianças e adolescentes sobre a cultura negra brasileira, o grupo Grito de Liberdade leva a escolas públicas do Distrito Federal o espetáculo “Quilombo da liberdade, raízes”. A caravana está na nona edição.
O presidente do grupo, Luiz Cláudio França, 38 anos, conhecido como Minhoca, atualmente é o principal responsável pelo projeto. O mestre capoeirista destaca a satisfação após as apresentações: “Chegamos a alcançar pessoas que estavam no mundo do crime e, por conta do projeto, já superaram o problema”, ressalta.
A intenção é ampliar os horizontes dos alunos. “Quanto mais contato tiverem com a cultura, eles se tornarão pessoas mais conscientes e com uma visão de mundo mais ampla”, acrescenta Luiz.
Atividade procura abordar o papel do negro na formação da identidade brasileira e apresentar a cultura de origem africana
As apresentações são realizadas por meio de cantos e danças de capoeira, com um toque especial de circo e poesia. Por meio da arte, o grupo aborda os mais variados temas cotidianos, entre eles racismo, agressões em ambiente escolar e machismo.
“Diante do aumento da violência nas periferias do Distrito Federal, é fundamental que a comunidade escolar contribua com seu olhar sobre as causas e consequências do envolvimento de jovens e crianças com o álcool e outras drogas”, diz diretor da peça, Ankomárcio Saúde, que compara: “Até onde os ônibus lotados de hoje não são os navios negreiros de ontem, e as favelas, quilombos urbanos?”.
O espetáculo leva aos jovens mitos e ritos dos afrodescendentes numa mescla de capoeira regional e angola e das danças de puxada rede, dança do bastão e maculelê, em que os negros são protagonistas. “Uma fusão em que a beleza dos movimentos junto a plástica do figurino prende a atenção de todos os alunos para aprenderem sobre a história negra do país como processo formador de nossa identidade”, explica Ankomarcio.
Experiência positiva
Para os educadores, a iniciativa é mais do que importante para o crescimento dos estudantes. Rivailda Muniz, professora do 5º ano da Escola Classe Kanegae (Riacho Fundo I), ficou feliz com a oportunidade e também entrou na roda para gingar.
“É um projeto muito bom, inclusive pelo fato de eles virem até a escola. A inciativa é maravilhosa porque nossos alunos têm poucas chances de vivenciar isso”, considera a docente.
E, para os pequenos, a experiência foi única e de pura alegria. “É muito legal a gente ver e experimentar coisas novas. Foi a primeira vez que eu ‘dancei’ capoeira”, disse um dos alunos do 5º ano. Colega do garoto, Ana, 8 anos, também entrou na brincadeira. “Os meninos conseguem dar ‘mortais’ muito mais rápido do que nós meninas. Eu já tentei e nunca consegui, mas gostei muito de o tio ter ensinado a gente a gingar”, afirmou.
Quase 40 anos de história
Há 38 anos o grupo Mestre Cobra trabalha a capoeira como forma de perpetuar a história das culturas de matriz africana. Os capoeiristas se reúnem na Candangolândia desde os anos 1980, época em que a capoeira era alvo de preconceito na região e praticada às escondidas, no mato. Em 1994, Mestre Cobra começou a desenvolver seu trabalho no Riacho Fundo, onde deu início ao grupo Grito de Liberdade.
Luiz Cláudio França está na equipe há 30 anos e representa o Mestre Cobra por todo o DF. Além de Brasília, as apresentações já chegaram até a Bahia, Rio Grande do Norte e Pernambuco, onde foi assistida por mais de 10 mil pessoas. Neste ano, 20 mil alunos serão atingidos.
Uma das principais características da capoeira é a possibilidade de qualquer pessoa poder participar. A arte não faz distinção de situação financeira ou crença: qualquer um pode interagir com o grupo. “Às vezes alguém tem dificuldade em fazer as manobras no momento do gingado, mas ao mesmo tempo se identifica com a música ou instrumentos que utilizamos. Tudo é válido”, destaca o mestre Minhoca.
Tainá Morais – [email protected]
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