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Pequeno capoeirista de Torres é exemplo de superação

Menino de 11 anos se esforça para vencer dificuldades impostas por doença

As palmas batem enquanto o pandeiro e o berimbau tocam. João Gabriel Schultz crava as mãos ao chão e com um misto de força e concentração joga as pernas para o ar. O menino de 11 anos surpreende a roda de capoeira com mais um movimento próximo da perfeição. Ele volta a “ficar de pé”, engatinha para as bordas da roda e observa os colegas naquela que é uma das aulas em que mais gosta.

A cena descrita poderia ser costumeira entre as tantas escolas de Torres em que é possível praticar capoeira como atividade complementar. Para João Gabriel, fazer parte desta rotina faz com que a palavra “costumeira” ganhe outro significado. Ele sofre de uma doença chamada artrogripose. Nasceu assim. O atrofiamento dos membros inferiores se deu quando o cordão umbilical enrolou-se em seus calcanhares e impediu o desenvolvimento das pernas durante a gestação.

— Ele acabou nascendo de cesária. Dificultou demais o parto. No pré-natal os médicos não viram nada, estava com peso bom, com tudo certinho — explica a mãe, Sônia Souza.

João Gabriel nasceu com 3,220 quilos e 49 centímetros em 23 de novembro de 1999. Passou três dias no hospital sem que os médicos conseguissem diagnosticar que tipo de doença fazia com que os dois pés ficassem dobrados para dentro. A mãe conta que passaram a entender o problema dele apenas um mês e 15 dias depois do nascimento.

— Tenho de correr a Porto Alegre porque o médico não conhece o problema dele.

João Gabriel usa as mãos para se locomover. Engatinha com desenvoltura pelos corredores da Escola Estadual de Ensino Fundamental Manoel João Machado. Isso quando não está ziguezagueando pelos colegas dirigindo seu triciclo – adaptado para os pedais serem usados com as mãos. Normalmente, chama atenção dos pais dos colegas e acaba ganhando a simpatia dos adultos. É o caso de Amilton Teixeira. Pai de uma menina que também estuda na Manoel João Machado, ele se encantou pelo guri ao vê-lo passar voando com o triciclo em uma noite de poesias. Acabou virando uma espécie de “padrinho” de João Gabriel. Teixeira e alguns amigos se juntaram e deram ao menino um computador, uma mesinha e uma cadeira. Ainda falta o triciclo novo que já mandaram encomendar.

— Eu vi aquele menininho abaixado. Depois descobri que ele não conseguia andar. Ele é cativante, um exemplo de vida. Me emociono de ver a perseverança dele. Acho que me ajudou mais do que estou ajudando ele — revela Teixeira.

Em dezembro, dois acontecimentos serão decisivos para João Gabriel. Colorado fanático, ficará de olho no Mundial de Clubes em Abu Dhabi, de camisa do inter e bandeira na mão. No final do mês, dia 22, terá uma consulta no Hospital São Lucas da PUCRS para definir como poderá ser feita a “remodelagem” das pernas. Como já foram feitas duas cirurgias nos pés, a única chance de ele vir a andar seria a colocação de um fixador na lateral dos membros inferiores. A mãe já faz contas: o aparelho custa entre R$ 5 mil e R$ 6 mil.

— O médico não garantiu e falou até na possibilidade de amputar, porque o problema é a canela e o pé. Se der certo em uma das perninhas, fazemos a outra, se não, temos de ver — projeta Sônia.

 

Alexandre Ernst | [email protected]http://zerohora.clicrbs.com.br/

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